Capítulo Final - 00h até o fim
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— Frequência cardíaca.
Ouvi uma voz grave soar no fundo da minha mente.
— 115 e subindo. — Uma voz feminina prontamente respondeu. — Está acordando.
E eu estava, de fato.
Meu corpo estava dilacerado e eu também sabia disso. Eu sentia cada osso queimar embaixo da pele, minhas juntas doíam como se houvessem pequenos pedaços de vidro ao invés de ligamentos e tendões, minha cabeça pulsava tão forte que me perguntei se era possível ver meu crânio inchando e desinchando a cada batimento do meu coração, meus olhos estavam tão pesados que eu não me importaria de dormir pelas próximas 30 horas.
Senti dois dedos gelados tocarem minhas pálpebras e abri-las sem hesitações. Uma pequena caneta com ponta de luz deslizava na frente dos meus olhos e testava a dilatação da minha pupila.
— É hora de acordar, pequena Ella.
É hora de acordar.
Uma descarga elétrica me percorreu dos pés à cabeça quando eu subitamente recobrei a consciência. Em um movimento quase reflexivo, meu corpo todo tentou desesperadamente saltar da poltrona reclinada na qual minhas costas repousavam. Sem sucesso. Minhas mãos e pés estavam amarrados aos braços e pernas do estofado.
Respirei fundo e levantei a cabeça para olhar ao redor.
Eu estava em uma sala clara que exalava álcool etílico. O cheiro do álcool foi a primeira coisa que meu cérebro reconheceu, aquele ambiente devia ser mais esterilizado que a mais eficiente câmara estéril. No que se refere a claridade, não era para menos que meus olhos ardiam feito duas bolas de fogo, bem a minha frente, a comprida parede era totalmente feita de vidro, me privilegiando com a vista de uns dos décimos poucos andares de um prédio do centro da cidade.
Sim.
No centro da cidade.
Eu podia ver a avenida lá embaixo. Não a reconhecia, mas devia ser uma das avenidas principais. Podia ver os carros em movimento, a fumaça saindo do escapamento, podia ver o ônibus parando e pessoas descendo e subindo, seguindo suas vidas, trabalhando, passeando com o cachorro. Mais à frente, a praça principal, com seu enorme e ornamental chafariz lançando água pelos ares em uma sincronia perfeita com as nove badaladas do sino da igreja.
Eram nove horas da manhã.
O sol já apontava no horizonte.
A claridade queimava minhas pupilas impiedosamente, mas aquele feixe de luz que atravessava a vidraça e agraciava minha pele com o seu toque e calor era a única coisa que me tranquilizava.
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Alone | Tom Holland
Mystery / ThrillerElla não se lembrava de nada. Não se lembrava de que horas eram, em que dia estava ou como havia chegado alí. Não sabia como perdeu seu all star favorito ou por que seu corpo ensanguentado, fétido e sujo doía tanto. Tão escuro quanto sua memória, o...