Capítulo 1 - Denis Humbert

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Era janeiro do ano de 2001, quando nasceu um belo garoto que não chegava a ter dois quilos. Os problemas eram explícitos e as enfermeiras não comentaram nada sobre isso. Assim que ele nasceu, seus pais não podiam ficar com ele, então o menino foi levado ao orfanato.

Hoje em dia, o garoto se chama Denis e é um adolescente de 16 anos. Nada de tão importante sobre isso. Ele sabe o porquê mora num orfanato, e sabia exatamente o que acontecera com seus pais, porém, não sabia onde poderiam estar. Aliás, já não se perguntava mais sobre eles há longos anos. Parou de se preocupar em ser adotado quando tinha 14 anos, e sabia que quando completasse 18, teria que deixar o orfanato para poder tomar rumo com a sua vida. Muitas vezes, a própria instituição garantia emprego e estudo aos órfãos, até mesmo uma moradia por perto e não diferiria com ele. Junto dele, havia mais de cento e cinquenta esperando por adoção e apenas duas confirmadas.

Era um futuro incerto, ele sabia disso. Contudo, o que mais o incentivava era que poderia finalmente depender de si mesmo e começar uma vida nova, pois não tinha amigos e nem irmãos.

Nunca pensou sobre criar uma família por si próprio; pois acreditava que provavelmente não seria bom pai, ou não teria capacidade mental o suficiente. "Se meus pais me abandonaram, o que eu poderia fazer com o meu próprio filho?" — se questionava às vezes.

Acreditava que todas as crianças do mundo deveriam ser criadas por pais, e se não fosse para criar do jeito que todos deveríamos, a mulher tinha o direito de querer abortar. Afinal, nem todos merecem ter filhos, e nem todos merecem ser pais. "Pais como os meus pais..." — ele pensava. — Era assim que tudo começava novamente.

Esse único contexto já lhe trazia mais mil pensamentos sobre o que deveria ser uma família. Questionava o mundo e as pessoas. As que adotam, e as que têm seus próprios filhos. Sentia uma tristeza que não se aquietava de jeito algum. Um frio que piorava a cada choro e que se impregnava em sua alma a cada manhã. Era uma vida amarga e solitária.

Diariamente de manhã acordava e ia diretamente para a janela observar do lado de fora, crianças brincando de jogar bola perto da calçada em frente a uma grande casa urbana. Ele adoraria fazer parte da brincadeira, mesmo não sendo mais criança, mesmo não gostando de jogos esportivos. Faria isso para aquietar a criança dentro de si; a criança que nunca teve infância, mas, aceitava ser do jeito que era. "Como seria ter uma ceia de Natal em família? Como seria viajar e conhecer o mundo? Os pais bancando as coisas, claro. Ah, privilégio dos ricos..." — pensava. "Creio que nem os cidadãos comuns conseguem viajar todo o ano... Viajar... Ah, eu poderia ir para bem longe..." — imaginava.

Talvez sentiria saudade de Claire Filtch, a psicóloga e conselheira de todas as crianças do orfanato. Ela é considerada mãe para todos, e particularmente Denis também a vê como uma mãe, ou algo assim. Ele crê que ela tem pena dele, por isso sempre foi cuidadosa ao falar com ele. Num momento, parou de pensar sobre isso e deu-se conta de que já era hora de ir. Precisava almoçar agora, pois já estava quase dando o horário de almoço. Aprendeu a esconder muito bem as lágrimas e a tristeza. De manhã era a pior hora do dia. Ele ficava muito pensativo e melancólico. Afetava seu psicológico e ele sabia disso.

Então, ajeitou bem o casaco de lã no corpo, abotoando-o e ajustando-o por baixo das calças, expulsando todas as energias negativas e péssimas memórias. Ele fechava a janela e as cortinas, arrumava a cama e sem olhar para trás, deixava seu quarto para ir diretamente ao refeitório.

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Antes do EntardecerOnde histórias criam vida. Descubra agora