Capítulo 14 - O Inferno é aqui

51 4 212
                                    

O delegado foi condenado a sentença de morte pelo assassinato em série de moradores de rua, por assassinato em massa de 183 pessoas no galpão e pela soltura não autorizada de um prisioneiro sem julgamento. Sua execução ocorreria no domingo, no mesmo dia da segunda lua nova do ano. Até sua morte não foi eleito nenhum delegado novo por respeito - e por pressão do seu filho também, que provavelmente assumiria o cargo.

A repercussão do seu caso foi intensa e conseguiu dividir a cidade entre os que acreditavam em Ágata e os que defendiam o Sr. Manuel, como sempre, Margarida e eu estávamos no meio de toda a confusão.

Cheguei a discutir com Miguel por ele ter agido pelas minhas costas em algo que eu estava envolvido, mas era egoísmo meu querer que ele me dissesse tudo o que fazia em seu trabalho e desarmei. Os pais se Jonas tentaram fugir da cidade na manhã seguinte à prisão de Sr. Manuel, mas o reverendo Augusto os visitou antes que pudessem sair e eles acabaram desistindo por hora. Os visitei logo após a saída do reverendo por curiosidade ao que ele tinha dito, mas nenhum dos dois quis me dizer.

Uma urna estava em cima da maior estante da sala e eu perguntei se poderia tocá-la, mas a negação foi curta e grossa, seguida da expulsão. Sem entender o porquê, fui pra casa desolado.

Em casa a agonia não passou. Embora a poeira já tivesse baixado, um furacão ainda habitava em mim.

Fiquei andando de um lado pro outro no quarto tentando acabar com a ansiedade, mas meu peito queimava e minha barriga estava embrulhada. Algo me chamava, pedia pela minha intervenção, eu sabia que minha participação naquela história ainda não tinha acabado, mesmo que ela não girasse ao meu redor. A vontade de sair daquela cidade era grande, mas já estava preso a ela e não havia mais chance pra mim, mas talvez eu conseguisse salvar alguém.

O ódio estava começando a diluir e a virar rancor, mas a vingança ainda era viva e não morreria até o sangue do culpado pela morte de Jonas tingir o solo. Eu já não era mais o mesmo, minha vaidade não era mais tão presente e meus pensamentos não eram mais tão claros, eu só vivia em prol da minha vingança e castigar os responsáveis pelo meu tormento.

Engoli minha raiva, - ou ela me engoliu? - peguei o canivete do meu pai e fui até a casa de Margarida, sedento por respostas e sem paciência alguma. O sol reinava no céu, sem nuvem alguma pra ameaçar seu domínio e a temperatura só subia. O chão ardia e o mormaço rodeava meu corpo, mas o calor não era mais meu inimigo.

Bati na porta e Margarida a abriu.

- Boa tarde meu amor - ela disse com um sorriso radiante. Vestia um vestido azul curto e as tranças estavam presas em um rabo de cavalo.

- Oi oi - respondi sem muita cerimônia.

- Entre vá, saia desse sol quente.

Entrei e sentei no sofá, quase explodindo de ansiedade.

- Quer um café?

- Só se for pra eu ter um infarto de vez. - brinquei - Cadê o povo daqui?

- Trabalhando né. Não é todo mundo que tem empregos como os nossos que dão folgas inusitadas.

- Seu pai já conseguiu voltar ao emprego?

- Ah sim - ela deu um sorriso enquanto sentava ao meu lado - Ágata mexeu os pauzinhos pra ele não ser demitido.

- Que ótimo então, imagino que ficar sem fazer nada seja pior pra condição dele.

- Ele já está tomando os remédios normalmente, não vai ter outra crise como aquela. Essa época do ano sempre é pior pra ele, parece que a presença da Fera fica mais próxima de nós.

A Garota de BaskervilleWhere stories live. Discover now