4 - Impedimento

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    Eu amo futebol. 

    De todos os esportes existentes nunca vi um como o futebol. Não estou nem falando do esporte em si, mas sim das pessoas, a energia que trocamos uns com os outros durante essas partidas de 1 hora e meia é algo inexplicável. Não é atoa que o futebol é o esporte mais amado do Brasil. 

    Claro, nem sempre é tão divertido assim, já perdi a conta de quantas brigas eu já vi por causa de times mesmo sendo óbvio que o melhor time é o Santos. Minha mãe e eu temos certeza disso. 

    Hoje o Santos está jogando contra o Santa Cruz no Brasileirão, a gente se atrasou um pouco por causa do trânsito, mas de jeito nenhum podíamos perder esse jogo, afinal de contas na última vez que o Santos jogou contra o Santa Cruz nós perdemos de 5 à 0. Mas hoje nós iremos vencer. O jogo dessa vez é em casa, no estádio Vila Belmiro. 

    Nós sentamos em nossos assentos extremamente ansiosos para ver o jogo, fizemos uma pequena aposta, eu acho que o Santos vai ganhar de 2 a 0 já minha mãe acha que vai ser 2 a 1. Apostamos 5 reais, se eu perder estou ferrado, minha carteira está mais vazia que cova de vivo. 

    Eu adoraria ver o placar do jogo, mas os torcedores na minha frente não param de balançar essas bandeirinhas que atrapalham minha visão. O que está acontecendo no jogo? Como eu queria ter nascido alto. 

    — GOOOL!! — Nós todos gritamos e levantamos em sincronia quando o Albner deu um chute que por pouco não foi para fora, gol dos Santos, 1 a 0. Admito que até levei um susto. 

    — Parece que eu vou ganhar aquela aposta em — falei sorrindo para minha mãe. 

    — O jogo ainda nem começou Grace, apenas espere e verá, eu nunca erro em uma previsão — ela falou mostrando a língua para mim. — Eu até sonhei com isso. 

    — Ata claro, você sempre diz 2 a 0 mãe. — Dei uma risadinha e nós voltamos nossa atenção ao jogo. 

    Apenas minha mãe e eu viemos hoje, meu pai não gosta de futebol, segundo ele: "Se for para ver um monte de caras suados correndo de um lado para o outro, eu prefiro assistir vôlei" então ele preferiu ficar em casa, tenho certeza que deve estar montando um castelo de cartas ou cantando karaokê coitado dos vizinhos. 

    Meus olhos seguiam a bola de uma lado para o outro no campo tentando não perder nenhum momento, perder a bola de vista seria um desastre, eu poderia perder um gol incrível e ficar totalmente perdido na partida. Minha mãe também estava extremamente concentrada no jogo, seus olhos iam da bola para o jogador – onde ela dava um breve suspiro, talvez por aquele jogo estar muito acirrado – e de novo para a bola. 

    Mas, enquanto eu acompanhava aquele jogo que estava fervendo, meus olhos caíram exatamente duas fileiras para baixo de onde eu estava, e meus olhos que antes não paravam por nada, de repente se encontravam imóveis. Com cabelos escuros, usando uma camisa do Santa Cruz uma torcedora de rosto pintado gritava dando todas as suas forças possíveis para o seu time. Mesmo no meio de tantos grito da torcida, eu ainda conseguia ouvir sua voz. 

    Era doce e mesmo assim era uma voz poderosa, sorte dos jogadores que tinham ela como torcedora. Eu não conseguia ver muito bem detalhes do seu rosto, mas pude notar um sorriso estridente, daqueles que você só encontra nos comerciais de escova de dente. Ela segurava em ambas as mãos bandeirinha que balançava de uma lado para o outro sem parar. Ela devia ser um pouco mais velha do que eu, dois anos talvez? Quem se importa, o importante é que o banco do seu lado esquerdo, está vazio. 

    Isso mesmo vazio, sem ninguém, totalmente livre e eu não podia perder essa chance. Em um estádio quase lotado, quais as chances de um banco estar vazio ainda mais perto de uma moça tão linda? Seria o universo colaborando? 

Oneshot For Love - Lucas PortoWhere stories live. Discover now