a espada mais amolada.

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Era uma vez num reino não tão distante, vivia uma jovem princesa, de cabelos negros, olhos impiedosos e lá dentro um coração pouco gente. Pobre menina rica.

   Muitos desejavam ter sua vida terminada. Assim. Como um ponto final. Sem "Bom dia, como vai?". Súditos descontentes, as plebeias carentes de amor próprio, o príncipe que negara em ponta pés seu pedido de casamento, as antigas damas de companhias cansadas de fazerem... Como diz? Ah, companhia.

  Mas tudo bem, dizia ela, quem mais a odiava já teria separado sua coluna em duas. Estaria ela num vestido floral, descansando para sempre e sempre por de baixo da terra mais digna; e chances acumulavam: no recital, aula de pintura, bailes... Quaisquer pedaço da sua grande-pequena vivência. Ainda mais quando fogo circunda o alvo.

   E no seu quarto, terminava os dias pensando se estaria viva à tempo do café da manhã. Morreria magra de fome. Bobinha. Folheara seu diário de sentimentos tardios. A felicidade, por exemplo; 22/09/95 seu nascimento; 12/04/05 sonhou com um lugar para fugir; 15/03/06 expulsou sua primeira dama de companhia do castelo; 01/02/07 expulsou sua segunda dama de companhia (depois dessa perdeu a graça, pensou Nayeon); 30/12/09 rezou pedindo uma outra vida; 23/09/11 "acidentalmente" morreu seu gato. Sir. Bola de Pelo, a alegria que pensava se encaixar. No final, encaixara no caixão.

   Na última página, encontrava-se a última esperança de ar: a morte. Aos onze anos escolhera o dia, hora, local e arma; 06/06/ ás seis da matina em frente ao lago, vítima da espada mais amolada.  O mesmo dia da pior descoberta da vida: o ódio. A princesa toda pomposa girava à exibir seu mais novo vestido de margaridas para quem quisesse ver: "Tomara que todos invejem".
— Oh, como os peixinhos estão bonitos! — disse ela — Jeongyeon, ordeno, diga à costureira real: é de meu desejo um vestido destes peixes alaranjados. — A dama de companhia a vigiava de canto de olho, fazia juras: por Cristo! Que algum dos odiosos sequestre-a! — O que está esperando, bruxa? Vá agora!
— Tenho de vigiar a senhorita agora — respondeu a dama.
  Nayeon, vermelha de raiva, resvalava malcriações e antes de bem usá-las pisara num amontoado doloroso de pequenas pedras, logo tomou um gênio tempestuoso.
— Você ouviu bem ou sua cabeça mole precisa de ajuda? — Pegou as pedrinhas e as arremessou uma a uma na dama de companhia. Saiu a coitada correndo: "Por Deus! Por Deus! Por Deus!"

   Agora só, como sempre no contexto esteve, a princesa dissipou-se entre o céu e uma dor no lado esquerdo. Mas, alguém a observava lento e morno. Uma figura preta de maldições ruídas.
— Deveria jogar-me ao lago? Jeongyeon vai aprender a jamais se fazer de tonta... Ficará tão bravinha — disse para si.

    A dita parte do djanho por de trás da árvore respirara pesado. Mais pesado que o arrependimento. Rápido, sem tempo, correu à princesa de espada brilhando ao alto, e quando o golpe mais forte tirou de seu gritou, o alvo fogoso juntou-se aos peixes bonitos. Não por proteção, pouco ouve, vê, fala ao seu redor. Pulou à água por um sentimento de catástrofe que até aquele dia conhecera como seu nome. Quando submersa, vira em desespero um borrão do seu quase assassino ajoelhado, olhando-a, como antes de tudo isso gostaria de ser olhada.
— Lhe apresento o ódio. — E fugiu. Sem outra tentativa. Sem espadada. Deixando a princesinha tremendo não só de frio, mas de medo.

   Não importava o rosto por baixo do preto: súdito, plebeia, um rapaz doido por ela, etc e etc. A palavra impactou: ódio. Perserguirria quem de espada prestar ao ver sangue? O olho do diabo só não a atingira pelo próprio ódio, pensou. Não estava sendo preparada ao funeral por causa do próprio ódio. Amolarria uma espada por qualquer um daquele palácio; por qual todos tinham de cuidar dela? Emporcalhava mais que seu corpo para ver a dama surtar. Mexia na cabeça, como quem controla um fantoche.
— Quero ficar só, não mereço cuidado, não mereço ser lavada com todo luxo após de propósito atirar-me ao lago. Após sem querer escapar de ver o coveiro. Merecia ser pisoteada. Como fiz com as pedrinhas. Elas sentiram mais que eu — disse Nayeon ao olhar seu reflexo na água, esperando Jeongyeon voltar para encher de palavreados: "Deixou-me sozinha, uma criança! Ficarei gripada, bobona!".

   Aquele acontecimento se fez um segredo de lago-garota. E um dia, 06/06 de qualquer ano, ele terminará, pois tente dividir um segredo com um defunto.

   No dia do número infernal, Nayeon entendeu que ninguém gostava dela e ela não gostava de ninguém. Seus vestidos puros serviam de disfarce à sua carne estragada, a olhariam como garota angelical... Na verdade, o único olhar que recebera foi aos onze: de pena. Do quase assassino. Gostaria de ser futuro assassino. Gostaria de acabar nas mãos do professor do ódio, porém isso não estava certo. Rente, no seu quarto, no pé de sua cama, entre sonhos malvados, coroas e jóias, sentia a presença da espada mais amolada empunhada em suas próprias mãos.

   Mas ainda há esperança. Sempre há esperança. Uma pessoa é mais forte que uma espada.

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⏰ Last updated: Apr 24, 2022 ⏰

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ÓDIO REAL - NAYEON.Where stories live. Discover now