Rotina

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Era uma sombra na multidão, nunca se destacara em nada. Não era a caçula, nem a mais velha de três irmãs. Nunca foi a neta preferida, nem a melhor aluna, nem a popular. Os garotos que beijou não lembram mais dela, a sua primeira vez foi deprimente, assim como a segunda, a terceira, a quarta,... Trabalhava em um Escritório de Advocacia, era advogada, mas nunca recebeu  oportunidade para mostrar o seu valor,  começava a se convencer que não tinha nenhum, fazia trabalhos secundários, que poderiam facilmente serem executados por um estagiário. Completou trinta e cinco anos na última quarta-feira, comemorou num jantar na casa dos pais, as irmãs não compareceram, tinham compromissos mais importantes. Amigos? Não tinha. 

Acordava as seis da manhã, tomava um banho, escovava os dentes, conversava com as plantas, vestia uma saia preta, camisa branca e casaco preto, sapato scarpin de salto, cabelos presos.  Pegava o metrô até o centro da cidade, comprava um café na lanchonete da esquina. Entrava no prédio de quarenta andares às sete e cinquenta, passava o crachá e subia no elevador lotado. Sorria para alguns, recebia um bom dia de outros. Sabia o nome de todos, ninguém sabia o seu. 

Mas naquele dia, um acontecimento banal iria mudar a sua rotina. Ela não havia reparado mas o terceiro botão, contando da gola para a cintura, de sua camisa branca, estava, literalmente, por um fio. E esse fio iria se soltar no exato instante que ela colocava as planilhas com os relatórios mensais para a reunião de diretoria sobre a mesa, mas precisamente em frente ao presidente e Sócio do maior escritório de advocacia da Capital. 

Ele pensava na esposa, nas férias que se aproximavam, no que faria para agradá-la, pois nada parecia suficiente. Casou por amor com a filha mimada de um milionário investidor. Eles se conheceram em um jantar beneficente, era linda e se apaixonou no exato momento que pousou seus olhos sobre ela.  O noivado e o casamento aconteceram no período de um  ano e agora, dois anos depois, ele não conseguia entender exatamente por qual parte do  caráter fútil e mesquinho de sua esposa havia se apaixonado. Eleanora era má com os empregados, com seus pais, com ele. Nada a satisfazia. Pensou em divórcio. Mas ele não conseguia se libertar, seu sogro era poderoso e o destruiria com um simples estalar de dedos. Ele lutou para conseguir chegar onde estava e não colocaria isso em risco com um dispendioso divórcio. Algo caiu em seu colo, quando a garota que entregava os documentos se inclinou para deixar a pasta sobre a mesa. Ele não olhou para a pasta, nem procurou o pequeno objeto que estava sobre a parte do seu corpo que pulsou quando viu a renda da peça que cobria o seio da ˜Como era o nome dela?"

 Ele poderia ter apenas chamado a sua atenção, mas não o fez , guardou o pequeno objeto no bolsinho da calça do terno e desejou massagear o seu membro como um adolescente em frente a uma revista masculina. 

Ela procurou o botão por todos os lugares, acabou vestindo o casaco  para esconder o vão aberto em sua camisa. Já passava das dezessete horas quando a sua chefe pediu para que tirasse cópias de vários processos, todos para segunda-feira, no primeiro horário. Passaria a noite de sexta-feira no escritório na companhia da copiadora. Isso também já havia virado rotina. A Senhora Feldman, gostava de mostrar sua superioridade e deixava as atividades mais  enfadonhas  para sexta-feira à tarde. Uma lembrança de quem manda. Ela não reclamou, não tinha compromisso, nunca tinha. Pegou a pilha de folhas e caminhou para a pequena salinha do fim do corredor, antes que chegasse ao seu destino, a bela Josephine Parker, deliberadamente, esbarrou nela, papéis voaram para todos os lados. 

– Seja mais cuidadosa, querida – falou com deboche antes de se afastar. Ela se abaixou para recolher as folhas, sabia que todos a olhavam com sorrisos nos lábios, engoliu em seco, segurando as lágrimas e continuou ajoelhada no piso de porcelanato recolhendo papéis. De repente alguém estendeu a mão para ela. Ela olhou para cima e seu corpo inteiro estremeceu. Insegura, colocou sua mão sobre a dele, esperando que fosse mais uma vez humilhada, agora pelo presidente da empresa onde trabalhava.

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