Talvez agora

Minha vida

Caio

O fato de ser fruto de uma gravidez indesejada nunca me assombrou, mas o principal é que eu só vejo a Amanda e o Anderson no Natal. Esses são meus pais, mas eles não fazem esse papel na minha vida. Eu moro com a minha avó desde que fiz 6 meses, ela sim sempre fez e faz de tudo por mim. A velinha me conhece bem pra caramba, sabe tudo sobre a minha vida e sempre esteve comigo nos momentos ruins.

Quando eu tinha 6 anos quebrei a perna enquanto aprendia andar de skate, minha vó ligou para Amanda contando sobre o fato e ela disse que era só levar pro hospital e que não tinha tempo para isso. Isso sim, isso me destrói por dentro. Eu nunca recebi uma ligação no meu aniversário aposto que eles nem sabem a data, eles vivem viajando não param em um lugar, todo Natal eles contam uma história diferente.

Eu fiz 18 anos no ano passado e de presente a velinha me deu um carro e pagou para que eu tirasse a minha habilitação, foi o ano mais importante da minha vida. Um fato importante também é que eu estou no terceiro ano do ensino médio, é estou 2 anos atrasados e não foram por reprovação, eu fiquei internado mais da metade do ano e as faltas e o fato de não consegui fazer as atividades do hospital, porque estava dopado, me fizeram reprovar duas vezes seguida. E normalmente Amanda e Anderson nem no hospital foram me ver, nem uma ligação.

Minha avó reclama do fato de eu não chamar eles de pai e mãe, ela fala que é falta de respeito e eu sempre respondo que o meu respeito tem que ser conquistado e que além de me fazer e me colocar no mundo eles nunca fizeram nada por mim. Quando eles chegam aqui no Natal a única coisa que eu falo é um "oi, boa noite!" e mais nada, e eu só falo para mostrar que eu sou muito bem educado pela minha vó. A Amanda sempre fica me olhando de canto e eu finjo que eu nem estou vendo, sempre fico perto da minha vó, ajudando ela e tudo mais.

Eu não sei o motivo deles terem escolhido ser distante de mim, eu queria saber, mas acho que só me magoaria a mais. Todo dia 26 quando eles vão embora eu desabo e minha vó sempre fica do meu lado em silêncio me vendo chora de soluçar, e então ela segura minha mão e fala que me ama e sorri e ai meu mundo volta a fazer sentido.

Já são nove da noite e eu estou deitado pensando nisso tudo e ela aparece na porta olha pra mim e diz:

-Pizza ou hambúrguer?

-Pizza, né dona Marta?!- respondo.

-Frango com Catupiry?- ela pergunta com cara de quem já sabe as resposta.

-Acertou mais uma vezz!- comemoro levantando da cama indo abraçar ela.

Minha vó liga e pede a pizza demora uns 50 minutos e a pizza chega nós comemos assistindo fantástico, que ela adora.

-Vó, amanhã eu vou sair cedo. Minhas aulas vão começar! -falo olhando pra TV.

-Caio você nem me avisou? Comprou o material quando que eu não vi? -ela responde em um tom meio que chateado e bravo ao mesmo tempo.

-Esqueceu que eu não usei nada ano passado? Fiquei no hospital lembra?! – respondo ela.

-Mesmo assim, você tem tudo que precisa? -ela fala ainda em uma tom chateado.

-Tenho sim, dona Marta! – respondo ela sorrindo – acho que vou tomar um banho e deitar.

-Vai sim meu filho! Boa noite, dorme com Deus, vovó te ama! – ela fala enquanto eu dou um beijo na cabeça dela.

-Boa noite vó, te amo! – digo subindo as escadas.

-Caio, vem tirar a mesa! -ela me chama.

-Aé, esqueci! Desculpa!!

Desço as escadas e limpo a mesa e levo tudo para a cozinha, lavo a louça e jogo a caixa fora. Subo para o meu quarto pelas escadas da cozinha, tomo um banho, escovo os dentes e vou para a cama, coloco meu celular para despertar as 6:00 da manhã e pego mo sono logo depois. Algumas horas depois sinto um beijo na testa e fecha a porta do quarto, minha vó faz isso todos os dias então já me acostumei.

Acordo assustado com o som do despertador, mas logo levanto e vou tomar meu banho enquanto eu estou no chuveiro só consigo pensar que esse ano eu preciso ser forte por mim e pela minha velha!