7

340 60 5
                                    

SEXTA-FEIRA, 15 DE MARÇO.

Faltam vinte e três dias.

O sr. Scott está batendo o pé no chão de linóleo como se tivesse fazendo um teste para um papel em Esperando Godot. O sinal toca, e ele começa o show.

– Hoje é um dos meus dias preferidos no ano.

Olho para a data. O Dia do Pi foi ontem. O que mais poderia deixar o sr. Scott tão empolgado?

Ele franze a testa enquanto seus olhos percorrem a sala de aula. Todos estamos afundados nas carteiras, a maioria fingindo que não passa cada segundo olhando o relógio.

O sr. Scott suspira.

– Ninguém quer saber por que estou tão animado?

– Eu quero, sr. Scott – diz Stacy Jenkins. Ela joga o cabelo castanho-avermelhado brilhante para o lado e lhe mostra um simbólico sorriso falso.

– Alguém mais? – insiste ele, e a classe solta um grunhido. – Fico feliz em ver como são entusiasmadas as jovens mentes do futuro.

Sua tentativa de sarcasmo dá errado. Todos continuamos a encará-lo com
olhos baços e boca levemente aberta. Aposto que, se filmassem as salas da
Escola de Ensino Médio de Langston e comparassem o vídeo com gravações
feitas de criaturas do mar que respiram pela boca, a semelhança seria impressionante.

– O que foi, sr. Scott? – bajula Stacy.

Não me surpreendo com muitas coisas em Stacy, mas tenho de admitir que é preciso ter colhão para falar com um professor de física como se fala com um cachorrinho de estimação. Mas o sr. Scott parece nem ligar.

– Hoje vou passar para vocês meu mundialmente famoso projeto de
fotografia de física.

A classe grunhe de novo. Os projetos são os piores.

– Cada um de vocês terá um parceiro.

Mais grunhidos e suspiros. Risque o que eu disse antes. Projetos em grupo são os piores.

– Ah, deixem disso – diz sr. Scott, sorrindo. – Meus alunos sempre amam esse projeto.

– Vamos tirar fotos do quê? – pergunta Stacy, girando o lápis entre os dedos.

– Calma, Stacy. Vou explicar – diz ele e, pela primeira vez, sinto um pouco de
irritação em sua voz. Será que o sr. Scott sonhava em ser professor de física na nossa idade? Duvido.

Aposto que pensava que aterrissaria em um trabalho pomposo na NASA ou algo assim. Coitado. Não consigo pensar em destinos piores do que ensinar as jovens mentes de Langston, em Kentucky.

O sr. Scott continua a falar:

– Vocês vão tirar cinco fotografias do mundo real que representem os
princípios da teoria da conservação de energia. As fotografias precisam ter relação com um tema de sua escolha.

– Tema? – interrompe Tyler Bowen.

– Sim. Tema – confirma sr. Scott. – No passado, tive alunos que usaram o
basquete como tema. Todas as fotos foram tiradas em um jogo da Escola de Ensino Médio de Langston. Outros temas já foram parques de diversão,
cachorros…

– Tipo, fazer compras poderia ser um tema? – arrisca Tanya Lee.

O sr. Scott se contorce e logo volta à expressão facial neutra.

– Em tese, você poderia tirar todas as suas fotos no shopping.

Tyler Bowen ergue a mão. Que novidade, ele levantando a mão em vez de simplesmente falar o que vem à mente.

– Sim? – O sr. Scott aponta para ele.

– Temos que tirar as fotos ou podemos pegar da internet?

Outra contorcida.

– Boa pergunta. Vocês precisam tirar as fotos. Grande parte da sua nota vai ser…

– Não é justo – protesta Stacy. – Não é aula de fotografia.

Stacy não é tão boa como Taylor em mascarar seus choramingos com
argumentos válidos, mas eu ainda lhe daria uma nota dez pelo esforço.

– Vocês não vão ser avaliados pela qualidade das fotografias em si – explica sr.Scott de pronto. – Mas espero que vocês… – Ele hesita. – Espere um pouco. Talvez eu deva passar a folha com as orientações que explicam melhor o projeto antes de continuar tagarelando.

A classe murmura, uma mistura de grunhidos e suspiros. O rosto do sr. Scott se avermelha, e ele fuça nas folhas de trabalho.

– Alguém quer me ajudar a distribuir?

Sem voluntários.

– Lauren? – pede ele com voz suplicante.

– Ãhn, claro.

Eu me levanto da carteira, embora preferisse comer grampos a interagir com meus colegas. Não fito os olhos de nenhum quando entrego as folhas. Ninguém parece interessado em me olhar também. Todas as vezes que chego à carteira de alguém, sinto a pessoa se endireitando, segurando o fôlego, querendo que eu me afaste. Parte de mim quer gritar que não precisam ter medo, mas outra parte, a maior parte de mim, hesita porque não tenho tanta certeza.

Assim que volto à minha carteira, o sr. Scott continua a explicar o projeto.
Conta que espera que imprimamos as fotografias em papel vegetal branco e, em seguida, as organizemos em um álbum. Cada fotografia deve ser acompanhada de uma explicação detalhada numa legenda, descrevendo a história do princípio e das fórmulas correspondentes. Seremos avaliados pela clareza das fotografias, das descrições e explicações dos princípios da física envolvidos. Também ganharemos pontos pela organização do álbum e pela criatividade do tema.

Além disso, se não tivermos acesso a uma câmera digital, podemos pegar uma emprestada na biblioteca. O sr. Scott está deixando pouco espaço para desculpas.

– Então, agora tudo de que precisamos é escolher os parceiros – diz ele,
juntando as mãos. – Acho que é mais justo sortear os nomes em um boné.
Conforme previsto, a classe irrompe em protestos.

– É tão injusto – diz Stacy.

– É – ecoa Tanya. – Deveríamos escolher nossos parceiros. Especialmente porque nossa nota depende deles.

O sr. Scott coça a nuca, os olhos agitados.

– Nos anos em que deixei os alunos escolherem os parceiros, recebi temas nada originais e fotografias pouco inspiradas. Nos anos em que os parceiros foram escolhidos ao acaso, recebi trabalhos muito mais criativos. Acho que tem a ver com tirá-los da zona de conforto.

A classe continua a discutir com ele mesmo depois que escreveu todos os
nomes em pequenos pedaços de folha de caderno e os entregou para ele. O
professor pega o boné do Cincinnati Reds na mesa e põe todos os nomes ali.

Quando chama os pares, os grunhidos e suspiros ficam mais altos.

Travo os dentes, pois queria ter sido esperta o bastante para não entregar meu nome. Talvez eu pudesse fazer o trabalho sozinha. Melhor ainda, não teria de ouvir meu parceiro dar o Maior Piti do Mundo assim que descobrisse que faria o trabalho comigo.

– Lauren Jauregui – anuncia o sr. Scott quando puxa meu nome do boné.

A sala fica em silêncio.

– Seu parceiro será Tyler Bowen – revela o professor em tom alegre, na
completa ignorância da minha lepra social.

– Ai, meu Deus – diz Stacy. Ela estende a mão para dar um tapinha no ombro dele. – Sinto muito, Ty.

O rosto de Tyler fica sombrio como se alguém tivesse acabado de matar sua
mãe. Acho que, pelo meu histórico familiar, eu não deveria fazer esse tipo de piada. Quase me senti mal por Tyler. Sei que qualquer relação comigo representará más notícias para ele no âmbito social. Mas a questão é que o prazo do nosso projeto é dez de abril, então, no fim das contas, nem importa.

Terei ido embora antes de entregarmos o projeto.

Parceiras de SuicídioOnde histórias criam vida. Descubra agora