Capítulo 20 - A Justiça nasce

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Três dias depois...

- Karlia acaba de me mandar um vídeo falando que conseguiu quinze mulheres que ensinam defesa pessoal a mulheres vítimas de violência familiar, em várias regiões do oriente médio e devido a história da Fernanda, querem ajudar.

- E quanto a sua esposa? Será que está obtendo sucesso no centro de inteligência?

- Possivelmente sim, Manuela não é de falhar em suas missões.

- Praticamente todos moradores foram embora temporiamente daqui da ilha.

- Como assim praticamente todos? Não me diga que ainda tem pessoas inocentes nessa ilha.

- Infelizmente sim. Nem todas quiseram deixar suas casas e não podemos obrigá-las.

- Jasmin... Você sabe onde estão essas pessoas?

- Sim. Fui dar o aviso de moto em cada casa.

- Quantas casas você contou, de famílias que ainda permanecem aqui? - Eu estava preocupada, quase que inquieta.

- Umas cinco casas das quarenta que tem aqui na ilha. E são tudo próximas daqui essas cinco.

- Leve suas armas, pois, acredito que essa guerra já começou. Máfias como essas sempre gostam de atingir o elo mais fraco de uma comunidade como essa, famílias inocentes. Eles intimidam dessa forma, mostrando que matam que estiver no caminho deles, e que possuem sangue frio, não poupam ninguém.

- Mas só temos eu e você na linha de frente, não é arriscado?

- Não, primeira etapa de uma guerra é fazer com que tenhamos raiva deles, e aja pela emoção, ou seja, que aconteça uma falha, agir pela emoção é falhar, precisamos de estratégia, usar essa raiva que eles querem provocar em nós, mas, usá-la com inteligência.

- A famosa inteligência emocional?

- Isso mesmo. A raiva é uma emoção de movimento, de ação. Aprendi isso com a minha esposa. - Sorri de forma singela.

Passaram-se três horas que eu conversava com Jasmim de como agirmos. Nisso quando saímos um silêncio ensurdecedor se encontrava no vilarejo da ilha, parecia até uma cidade fantasma, e ouvia apenas os ruídos do vento e sons de pássaros agitados na mata que tinha ao redor da ilha.

- Está silencioso demais...

- É isso que me preocupa... - Comentei estando atenta, segurando meu revólver e Jasmim estava segurando duas pistolas.

Fomos na primeira casa que Jasmin disse que estava ainda com famílias.

- Veja, o portão está entreaberto...  Devemos entrar Lia?

- Sim. Deixe que eu entre primeiro.

Fui na frente pois percebi Jasmin estar emocionada demais, com medo de que possa acontecer algo, e como disse antes, não podermos deixar a emoção dominar numa hora dessas, o autocontrole é fundamental, independente do que encontrarmos aqui.

Ao entrar na casa, me deparei com uma cena horrível e perturbadora, um cara em cima de uma moça, contra a vontade dela, não pensei duas vezes em atirar na cabeça dele. Jasmin correu para socorrer a vítima, era uma adolescente de provavelmente dezoito anos no máximo...

- Você está segura agora, fique tranquila. - Comentei estando agachada em direção a moça que violentada sexualmente.

Ela estava em choque, trêmula, com roupas rasgadas e havia sangue dela no chão, aquilo me deixou enojada e furiosa. Por mais que eu tenha dito que o autocontrole é fundamental, quando se depara de uma cena dessas... É quase impossível controlar sua raiva.

- Veja Jasmin ele trabalha na casa de prostituição, olha o cartão de identificação dele. Seu maldito!

Eu não sei o que deu em mim, simplesmente peguei a faca que estava na minha cintura e esfaqueei-o inúmeras vezes, até arrancar seu coração pra fora do corpo e depois arranquei a cabeça dele fora. A moça estava mais apavorada ainda, gritando muito e Jasmin tirou ela dali.

- LIA CHEGA! ELE ESTÁ MORTO!

- EU NÃO TOLERO ESTUPRO!! VOCÊ SABE BEM DISSO! Eu vou enviar pessoalmente essas partes para eles.

- Lia... Parece que a família dela foi toda assassinada, ocorreu uma chacina, ela ia ser morta também após...

- Não conclua o que vai dizer! Ela irá ficar conosco, leve-a para minha casa e cuide dela, vou tentar achar o restante da família e ver se há mais sobreviventes.

- Tome cuidado Lia. - Concordei com a cabeça brevemente.

Esperei Jasmin ir, e fui ver onde estava o restante da família dela, a mãe na cozinha com vários cortes na região do pescoço e abdômen, depois fui no quarto, o irmão dela de aproximadamente sete anos, deitado de barriga pra baixo numa poça de sangue, e em volta seus brinquedos, cheguei a encostar na parede e comecei a chorar... Pois poderia ser meu filho. E ele estava ainda se mexendo...

- Criança!!? Você consegue respirar?

Quando peguei pra virar ele, os olhinhos apertados cheios de lágrimas, olhei na barriguinha dele, havia dois tiros ali, tentei estancar o sangue, arranquei minha blusa para amarrar no local que sangrava sem parar... E tentava reanimá-lo, mas, eu sabia que não havia muitas chances dele sobreviver.

- Calma, você vai ficar bem... Fica me olhando, ok? Você está a salvo e logo estará num lugar lindo... Onde tem várias crianças lindas como você, esse mundo não merece uma criança tão especial como você, me perdoe por fazer parte desse mundo tão cruel e desumano. - Ele ainda respirava e me olhava, mas, sentia que estava perdendo o menino aos poucos.

Abracei-o fortemente e beijei sua testa finalizando com poucas palavras...

- Descanse meu lindo anjinho, descanse.... - E nisso chorei em seu pequeno corpinho frágil.

Quando levanto com ele em meu colo, vejo a Manu encostada no corredor, chorando silenciosamente, como se tivesse ali há muito tempo observando...

- Desde quando está parada aí? Em vez de me ajudar a salvar a vida dessa criança??

- Tem cinco minutos que cheguei, e não vim sozinha, vim com reforço policial, eles estão nas outras casas, Jasmin me ligou quando eu já estava a caminho. Com esse crime que ocorreu,  temos as provas que precisávamos para a polícia poder pegá-los... As meninas chegaram também do Oriente médio, só falta aquela cafetina, que estava na Alemanha. Jasmim me contou o que você fez... Ela disse que você não conseguia parar de esfaquear o criminoso.

- Você sabe que não tolero esses tipos de violência!! - Comecei a distorcer o rosto, me mostrando meio irritada.

- Lia... Por que tanta repulsa? O que esconde? Eu sei que o estupro é algo nojento e perturbador, mas, tem algo que não me contou do seu passado?

Deixei a criança no chão, e encarei a Manu, como se tivesse intimidando-a. A parte que rasguei da minha roupa foi na região do braço direito. E acabei rasgando minha roupa toda, na frente dela, como forma de mostrar que eu estava irada com a situação de agora.

- Não vai me responder? Vai agir que nem uma insana agora?

- Você ainda não me viu insana, e vai por mim, não queira! - Me retirei, e quando cheguei no corpo do criminoso peguei a cabeça dele e coração.

Fui saindo em direção a casa de prostituição, andando em passos bem rápidos, me preparando para correr, e com uma fúria animal nos olhos. E acabo falando em voz alta pra mim uma frase:

"A justiça nasce da injustiça, e quando o coração de uma mulher selvagem desperta, a coragem vira sua fonte de força."

- Vou fazer vocês temerem a mim! - Enquanto corria, gritava forte.

As Faces do Amor - Parte 3Where stories live. Discover now