Único

56 6 6
                                    

2000

"A casa foi construída há 80 anos. A última menina dos Benson casou com um herdeiro do oeste, e ele mandou construir a casa para ela. Dizem que a casa foi linda pelos 20 anos nos quais eles viveram nela, sempre cheia de flores e perfumada como se o jardim do lado de fora continuasse por dentro da casa. Minha avó conta que visitou a família quando o terceiro bebê nasceu, e nunca esqueceu do quarto amarelo onde ele dormia. O quarto em si era branco, mas o sol entrava de forma que, naquele momento em que ele estava lá, tudo se transformou em dourado com o pôr do sol. Susanna, a menina dos Benson, se dedicava àquela casa como ninguém nunca havia visto, e foi então que as coisas estranhas começaram a acontecer. Em todas as noites de lua cheia, a casa parecia suspirar junto com as árvores, e as crianças diziam sentir o vento passando mesmo com as janelas fechadas. Susanna falava com a casa, sussurrava entre as paredes e parecia ouvir respostas. Quando perguntada se teria mais filhos, ela respondia que não, pois três eram suficientes para o nome. Para o nome da família continuar vivo, se imagina. Mas foi quando as crianças viajaram para a América do Sul que a luz e a beleza da casa se foram. Ela foi ficando cinza, e a luz do sol não entrava mais como outrora. Susanna e Hector viveram na casa por três longos anos sem os filhos, até que, em um dia como hoje, há exatos 59 anos, o casal faleceu. Hector estava doente, com câncer, e eles passaram o seu último dia juntos no jardim. No fim do dia, quando Hector faleceu, Susanna se deitou ao lado dele e ali foi encontrada morta também em torno de uma semana depois.

Desde então, a casa não respira mais. O vento segue rápido e barulhento entre as árvores, mas na antiga casa, com as janelas abertas, não se sente nada. Apesar disso, muitos dizem ouvir a casa resmungar e uma mulher chorar, nas noites de lua cheia. Os visitantes que pisam na casa em qualquer dia 13, ouvem sussurros e frases dos quartos e corredores. Um dia, um turista disse que a casa só pararia no momento que outras pessoas passassem a morar lá, mas ninguém tem coragem de se aproximar"

"E os filhos? Os três filhos deles?"

"Os filhos voltaram com a notícia do falecimento dos pais. Minha mãe esteve no velório. A floresta parecia inquieta, chorando junto com a família. Amanda, a mais velha, recolheu os pertences da casa e os levou consigo. Natalia foi a que mais chorou ao se despedir dos pais. Augusto apareceu e desapareceu em questão de horas. Sabe-se lá onde estão hoje, mas abandonaram a casa e sua vida na floresta, que chamavam de encantada quando eram pequenos, e diziam brincar com fadas e elfos."

"Valeu pela história, pai. Lendas não morrem fácil por aqui, não é?" Kaehl sorriu, debochando da famosa casa assombrada no fim da rua vermelha, perdida no meio da floresta da borda daquela cidade pequena no interior.

Ele sabia que era tudo bobagem para atrair turistas, por isso aproximou as mãos do fogo na fogueira ao redor da qual estavam todos sentados para se aquecer e se voltou para Lia, sua namorada sentada ao seu lado.

"Vamos lá amanhã?"

Ela riu, sabendo da mente inquieta do namorado, e aceitou porque sabia que iria a qualquer lugar com ele.

"Vamos. Vou organizar o os lanches e fazemos um piquenique na floresta" concordou, colocando um marshmellow assado na boca.


Perdidas no tempo e no vento

"Ana, eu preciso ir"

Ela riu, como se não entendesse as palavras, muito menos o conceito de precisar, e de ir. Eu sorri com ela, aceitando quem ela era, aceitando que eu também não queria entender as minhas próprias palavras. Ela tirou a flor que segurava seus cabelos loiros e me entregou, gritando logo em seguida.

a lenda do amor que permaneceuDonde viven las historias. Descúbrelo ahora