Capítulo 16: Mudança

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I was lightening before the thunder.
(Eu era o relâmpago antes do trovão)
Thunder - Imagine Dragons

Estávamos nos mudando de Bretanha. Era uma sensação estranha, eu passara 16 anos da minha vida naquela casa, todas as lembranças da minha infância estavam lá! Mas agora todas essas lembranças seriam vendidas junto com a casa...

- Eu sei, Anne. É doloroso para nós também... - disse minha mãe me abraçando - Já sei! Por que você não vai até o porão ver se tem algo interessante que queira levar? - ela disse com um sorriso largo como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo.

Mas não era! Sempre tive arrepios daquele porão! Em 16 anos eu desci até lá o quê? Umas três vezes? No máximo! E em todas ela eu tinha sido obrigada!

Dei um sorriso amarelo para minha mãe e fui até o porão.

Aquele lugar cheirava a mofo e tinha ratos em todos os cantos, senti um arrepio na espinha só de ultrapassar a porta!

Caixas e mais caixas com papéis amarelados! Minha mãe realmente achou que aquilo me animaria?

Casamento dos meus pais, registro de casas antigas, livros velhos, pinturas descascadas, certidão de nascimento de Lohan Renault, meu pai, de Mariana, minha mãe, de Alison, Valentina, de Adan, de Adrianna, de... De...

De Brigitte Renault? Brigitte... Tenho certeza de que nunca fora apresentada a uma avó chamada Brigitte...

- Achou algo interessante? - minha mãe perguntou assim que voltei para a sala olhando para o papel em minha mão.

- Na verdade, sim... Quem é Brigitte?

Soube pela expressão da minha mãe que ela também não fazia a mínima ideia de quem era...

- A carruagem está pronta! Tudo pronto? - meu pai disse adentrando a sala.

- Pai, quem é Brigitte? - eu disse lhe entregando o papel.

Diferentemente da minha mãe, sua expressão não era de ignorância, e sim de choque, como se eu tivesse acabado de perguntar quem era Luís XIV.

- Onde você achou isso? - ele disse olhando para o papel.

- Estava no porão...

Ele respirou fundo.

- Brigitte não é ninguém!

- Mas ela tem nosso sobrenome... Pela data de nascimento, deve ser minha vó...

- Eu já disse que ela não é ninguém! - meu pai gritou.

Fiquei assustada com sua reação e me afastei com a cabeça baixa.

- Sinto muito...

Meu pai, antes irritado, pareceu voltar ao seu estado normal e se ajoelhou ao meu lado colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.

- Não... Eu que sinto por ter te assustado...

E se levantando e inspirando tão fundo que foi como se tivesse inalado todo o ar da sala disse:
- Se você quiser mesmo saber, posso te explicar no caminho...

E se levantando e inspirando tão fundo que foi como se tivesse inalado todo o ar da sala disse:- Se você quiser mesmo saber, posso te explicar no caminho

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- Você sabe que nossa família já foi muito nobre, certo?

- Sei sim. - disse olhando ansiosa para meu pai e escutando os trotes do cavalo como uma melodia ao fundo.

- Mas você não sabe o porquê perdemos nossa posição social... Brigitte Renault foi o motivo!

Olhei para ele confusa.

- Eu era muito pequeno na época, mas meu pai me contou tudo quando eu crescera um pouco mais. Brigitte era a irmã dele, ele já havia deixado a Manoir Richesse, o palacete onde meus avós moravam, havia muito, mas soube, assim como toda Paris, do dia em que Brigitte destruiu nossa honra.

- Por quê? O que ela fez? - perguntei espantada.

- Ela foi prometida a um jovem nobre mas fugiu no dia do casamento, nossa família criou então fama de desonrosa, afinal não haviam cumprido o trato que levou àquele casamento, sem falar que perder uma mulher no dia do casamento... Fomos tachados de descuidados, desleixados, irresponsáveis. Meu avô era um banqueiro de prestígio, mas depois daquele dia, perdeu quase todos os seus clientes, o que levou nossa família à falência! Além disso, minha avó ficou péssima quando Brigitte desapareceu, ela enlouqueceu! Não dormia, falava sozinha, esquecia de todos, nem do próprio marido ela lembrava, falava coisas sem sentido e vivia apavorada com tudo ao seu redor, e por fim, ela se matou, se enforcou dentro do próprio quarto!

Levei as mãos à boca chocada com aquela história.

- Se ter uma louca na família já te descrebilizava, ter uma suicida só piorava a situação... Mas o auge da nossa desgraça, foi quando anos depois encontraram Brigitte.

- Eles a encontraram? - perguntei animada.

- Infelizmente sim. Encontraram-na liderando um navio pirata com uma tripulação de selvagens!

- Ela virou uma pirata? - eu perguntei empolgada mas meu pai me repreendeu com o olhar.

- Piratas são bandidos, Marianne! E selvagens são... Bom, selvagens! Sua avó só trouxe desgraça à nossa família, por isso nunca comentei sobre ela com você ou com sua mãe.

Olhei para minha mãe que, diferentemente de mim, estava apavorada com aquela história.

Mas eu estava eufórica! Acabara de descobrir que eu não só tinha uma avó que não conhecia, como também ela tinha se tornado a líder de um navio pirata!

Eu tinha um sonho, que obviamente não revelava para ninguém, de desbravar os mares em busca de aventuras! Mas não para colonizar novas terras como a maioria sonhava... Não! Eu não queria trazer glória à minha pátria transformando mais uma terra em minha proprieade, ou seja lá qual fosse a desculpa que eles usavam... Eu queria apenas cruzar os mares, conhecer o mundo! Por isso admirava tanto os piratas, eles não perdiam tempo colonizando países ou fazendo de tudo "em nome do rei", eles gastavam cada segundo de sua vida se aventurando! Do jeito que eu sonhava! E agora eu sabia o porquê... Estava no meu sangue!

- E a terra que ela achou? Quero dizer, se ela tinha selvagens em sua tripulação, provavelmente ela encontrou algum lugar...

Meu pai deu de ombros.

- Já devem ter descoberto. Todas as terras já foram descobertas.

- Não tem como o senhor saber disso...

Meu pai me olhou feio e eu me calei.

Mas não conseguia calar minha mente! Sempre me achara uma estranha na família, meus pensamentos e minhas atitudes, não se assemelhavam aos de mais nenhum Renault.

Mas Brigitte, a coragem com que ela fugiu de um casamento arranjado (coisa que eu nunca concordei), a determinação para conseguir liderar um navio pirata, para muitos, mulheres não são capazes de liderar, muito menos um navio pirata! Mas isso não a impediu! O jeito que ela abrigou selvagens como seus iguais, até hoje eu achava ser a única que achava um absurdo o jeito como tratavam os selvagens!

Eu tinha muito de Brigitte em mim, e não sei o porquê, mas naquele segundo, eu tomei uma decisão que mudaria completamente a minha vida! Eu continuaria o legado de Brigitte Renault!

Coração NaufragadoOnde histórias criam vida. Descubra agora