Capítulo 22

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Acordei com barulhos de vozes vindo do andar de baixo, não sei o que está acontecendo, mas deve ser algo muito grave. Sentei na cama e coloquei minhas pantufas, abri a porta do quarto e sai devagar.

Você sabe muito bem que estamos piores que você Charlotte ao ouvir a voz de Beto sai correndo escada abaixo.

BETO, BETO Gritei pulando no colo de meu irmão.

Upa, como você está pequena? Ele perguntou me segurando.

Bem, mas você estava chorando não é?

E porque você acha isso Belinha?

Porque seus olhos estão vermelhos, e cadê o Vini ele não veio junto.

Não meu amor, ele teve que ficar trabalhando ele respondeu me colocando no chão.

O papai já voltou, tia Lotte?

O seu pai não voltará nunca Charlotte me respondeu com uma voz que transmitia puro nojo.

E porque não vai voltar? Perguntei como a criança inocente que era.

Por que ele está...

CALA A BOCA CHARLOTTE Beto gritou, depois respirou fundo e falou mais baixo, dessa vez comigo. Meus amor vamos subir até seu quarto sim, lá conversamos só eu e você.

Concordei e fui com ele até meu quarto sem nem imaginar o que ele diria.

Senta Bella, pois nós temos um assunto muito sério para tratar.

Obedeci e sentei na cama, Beto sentou ao meu lado, fazendo a cama afundar com seu peso.

Beto, o que a tia lotte ia dizer sobre o papai?

Ele passou as mãos pelo rosto antes de olhar para mim com os olhos cheios de lágrimas.

Bella o papai não vai voltar porque ele está junto da nossa mãe.

Como assim?

O seu pai morreu, Bella, MORREU disse Charlotte, gritando a última parte.

Isso é mentira né Beto, o papai não morreu, diz que não por favor.

Ele apenas me olhou um pouco para depois me abraçar, senti as lágrimas caindo e manchando sua camisa.

Eu sinto muito meu amor, mas Vini e eu sempre vamos estar aqui com você, nunca vamos te deixar.

Não pude responder ele, pois minha garganta tinha se fechado por conta do choro. Fiquei um tempo abraçada a ele sem dizer uma palavra se quer apenas chorando e custando a acreditar no que estava acontecendo.

Quem foi que matou ele?

Não sei se devo te contar Belinha, e além do mais, você sabe que ele sempre vai estar conosco, assim como a mamãe.

Mas quero saber Beto, por favor me diz.

Ele suspirou, e afrouxou nosso abraço.

Foram os rebeldes sulistas.

Mesmo com dez anos eu já entendia muita coisa do que eles falavam (as coisas de adultos). Existem dois grupos rebeldes: os nortistas e os sulistas, os nortistas saqueavam apenas o palácio, e nunca machucavam ninguém, já os sulistas queriam tirar a família real do poder e para isso não importava nem um pouco se pessoas inocentes tivessem que morrer.

Eu sabia que meu pai estava trabalhando no palácio esse fim de semana, mas não esperava que um ataque rebelde acontecesse, ainda mais da parte sulistas, por isso levei um choque quando meu irmão disse que eles assassinaram meu pai.

" Meu paizinho não pode estar morto, não pode".

Nããoo.....

***

Acordei com o coração disparado e com o rosto cheio de suor, fazia anos que não sonhava com meu pai, ainda mais esse dia, o pior dia da minha vida.

Olhei bem o lugar onde me encontro, é um quarto pequeno com duas camas, uma das qual estou e na outra América, a indagação dormindo, uma mesa com duas cadeiras em um canto, um sofá de dois lugares em outro e uma lamparina quase se apagando. Me levantei e vi duas janelas fechadas com madeira (ou seja, impossível de fugir), e uma porta a qual verifiquei e está trancada.

Senti minha cabeça latejar e coloquei a mão na nuca. Quanto volto para ver se tinha sangue, vejo o mesmo seco.

— Onde estou? — América pergunta, já se levantando.

— Não sei onde estamos, mas com certeza fomos sequestradas pelos rebeldes. — Respondi.

— Não acredito nisso — Ela foi até a porta e viu estar trancada, como percebeu que também não dá para sair pelas janelas se sentou no sofá. — O que você acha que vão fazer conosco?

— Não faço a mínima ideia América, eu só sei que não deve ser nada bom.

Ficamos em silêncio o que pareceu uma eternidade, não tínhamos o que falar, nem fazer. Eu estava entediada, mas não podia nem limpar o ferimento dela, pois não tínhamos água. Depois de um tempo ouvimos a porta ser destrancada, me levantei na hora em forma de defesa, mesmo não podendo fazer nada.

— Que bom que acordaram, meu líder quer falar com você Chermont. — O rebelde que disse ter me comprado falou entrando no quarto.

— Não tenho nada para falar com ele — respondi.

— Há vocês têm sim, afinal faz quase oito anos que não se veem.

— Como assim?

— Venha comigo que você vai saber do que estou falando.

— Só vou se América for comigo.

— Não você vem sozinha, ela fica.

Olhei para América e me senti sem saber o que fazer, não queria ir ver esse líder mas também não queria deixar lá sozinha.

— Pode ir Bella, ficarei bem.

— Está bem, eu vou.

Sair do quarto e fiquei esperando o rebelde me levar até seu líder, após trancar a porta novamente ele me levou até uma sala bem aconchegante e bonita. Na sala haviam dois sofás, uma mesa de centro com biscoitos e chá, uma lareira acesa, duas janelas fechadas, mas não com tábuas.

— Fique à vontade, ele já vai vir vê-lá.

Depois que ele saiu eu olhei os detalhes mais de perto, mas antes fui direto para a janela e vi um campo aberto cheio de flores e muito bonito, depois reparei nas fotografias que estavam em cima da lareira, era um homem com uma mulher e um bebê em uma delas, nada outras estavam o mesmo homem só que apenas com uma criança.

Voltei a reparar na primeira foto, e vi que a mulher se parece muito comigo, só não sei como isso é possível, o homem se parece com meu pai, só que mais jovem, mas a bebê sei perfeitamente que não sou eu por conta das fotos que meus irmãos têm de quando eu era criança.

— Você é muito parecida com ela, sabia?

Meus ouvidos só podem estar me pregando uma peça, não pode ser aquela mesma voz, aquela voz que me fez dormir tantas vezes, que me acalmou quando eu chorava por cair, ou que me repreendia sempre que fazia algo errado.

Me virei devagar e vi meu pai parado na porta juntamente com uma menina idêntica a mim, entretanto com os olhos claros de meu pai.

Esfreguei os olhos com a mão boa e vi que não era um sonho, que ele estava ali mesmo, só não sei quem é aquela garota, mas isso para mim não importa. Eu só quero saber porque meu pai está aqui e não o líder dos rebeldes, a não ser que... Não, isso não pode ser, meu pai não pode ser o líder dos rebeldes sulistas, tudo menos isso.

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