Os Reinos Ligados pela Floresta: Bela Adormecida

A Torre Mais Alta

      Julietta reconhecia aquela voz de algum lugar. Mas de onde? Era impossível não se lembrar, mas o problema era descobrir quando ouvira aquela voz. Perdida sem seus pensamentos, a princesa nem percebeu que não estava mais com seu grupo, estava no salão do trono flutuando. Quando se deu conta, tentou voltar ao chão, mas não conseguia de jeito nenhum. Olhando para baixo viu algumas pessoas fugindo do fogo no meio do salão. As pessoas gritavam, implorando por ajuda. Como ela queria ajudá-los se pudesse, mas não conseguia. As portas estavam trancadas, todas elas. Não tinha como fugir dali. Ao olhar para frente, Julietta descobriu a dona da voz. Uma mulher com asas vermelhas. Uma fada. Ela vestia um vestido esvoaçante amarelo e branco que voava no ar, assim como seu logo e volumoso cabelo loiro. Ela quem estava a controlar o fogo na sala. Ela quem estava mantendo a princesa no ar. Do lado da fada estava o viajante que encontrara desmaiado em seu quarto. Julian se encontrava no mesmo estado de antes, machucados em todo o corpo, com as roupas rasgadas, tentando lutar contra o poder da fada.

– Princesa Julietta, Príncipe Julian! Que bom que se juntaram a nossa pequena festa! – A fada disse, rindo histericamente.

– Quem é você?! – Julietta gritou.

– Esqueceste-te de mim, princesa? Isso é bem comum comigo, sempre se esquecem de mim... – A fada disse com um sorriso malicioso. – Uma pobre costureira no alto de uma torre com uma roca de fiar...

      Julietta arregalou os olhos, lembrando-se dela. Ela parecia ser tão simpática quando se conheceram. Quem diria que ela era uma fada má.

...

      Era o aniversário da princesa. Era quase pôr do sol.

      Logo teria um festival que todo o reino de Montinova viria para celebrar o aniversário de Julietta. Eram seus dezesseis anos. Ela sentia dor de barriga só de se lembrar o que estava prestes a fazer. Não conseguiria fazer aquilo com seus pais, partiria seus corações. Seria como uma facada, mas se ela quisesse ser feliz em paz e viver com Romeu pelo resto de seus dias, teria que fazer aquilo. O casal planejava aquilo já há uma semana. Era uma pena que aconteceria no dia de seu aniversário. Não teria a chance nem de se despedir de seus pais já que estavam numa viagem, mas prometeram chegar a tempo do festival. Mesmo que tivesse a chance, não teria nem a coragem.

      Suas família desaprovavam seu relacionamento, mas não tinha força no mundo que pudesse separar Romeu de Julietta nem vice versa, eles se amavam como se todo dia fosse seu último dia de vida. Era um amor como se nunca se vira antes. Pena que eles tiveram o azar de ter as famílias que tinham. Petits e Ekató se odiavam por gerações. Nada mudaria aquilo. Eles se odiavam e ponto final. Eles tentaram de tudo para fazer seus pais considerarem uma possível aliança e paz, mas de nada adiantou. Pelo menos por parte dos Ekatós. Romeu conseguira convencer seus pais de tentar entrar em acordo com seus reis, porém a condição não era agradável aos olhos de Romeu e Julietta. Para que os Petit desistissem daquela briga, Romeu teria que desistir de Julietta e deixar seu irmão mais velho, Aquilla, se casar com a princesa, fazendo dele o futuro rei de Montinova. Romeu sabia que seus pais só deram aquela condição porque ele nunca aceitaria. Seu amor por Julietta era muito grande para vê-la nos braços de outro, muito menos se o "outro" fosse seu irmão. Ele não tinha nada contra o caso de Romeu, mas ao mesmo tempo ele tinha tudo contra. Romeu sabia o porquê. Sabia porque Julietta o contara. Aquilla era apaixonado por Julietta. Tentara diversas vezes conquistá-la com seus cortejos, mas nunca dera certo. Romeu sabia que se ele entrasse em uma briga com seu irmão mais velho, ele diria a seus pais que o mais novo dos Petit continuava vendo a princesa Ekató e dali não seria mais possível vê-la. Era a emboscada perfeita para acabar com o amor de Romeu e Julietta. Se eles quisessem ser felizes e poderem ser vistos em público sem olhares julgadores, eles teriam que largar tudo para trás.