CAPÍTULO 14

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Ani estava ficando irritada. Quanto mais demônios matava, mais saía daquele maldito portal.

- Precisamos fechar a passagem! - Gritou Islodel.

- Não antes dos rapazes atravessarem! - Ela gritou de volta.

A rainha das fadas voou para ela.

- Você consegue mapear de onde esses demônios estão vindo?

Ani se concentrou no portal.

- Eu... eu acho que consigo, mas vou precisar focar só nisso.

- Deixa comigo, Ani. Eu protejo você. - Daena se intrometeu na conversa.

- Se você conseguir, Ani, podemos tentar fechar só esse canal e manter os outros que não oferecem perigo abertos.

Allania sentou assumindo a posição conhecida por lótus e fechou os olhos. Agora ela era capaz de se desdobrar facilmente, controlando suas ações. Completamente diferente daquela menina despreparada que seguia Thalion em viagens astrais sem se dar conta do que fazia.

Totalmente desligada do que acontecia ao seu redor, Ani flutuou por cima das águas rosadas do oceano e parou na entrada do portal.

Seus passos eram acompanhados por todos os demônios que também possuíam sentidos que permitiam ver o que acontecia na dimensão em que se encontrava. Felizmente, eles não acharam que ela era uma ameaça a ser considerada.

Allania sabia que precisava atravessar o pórtico para identificar qual passagem deveria fechar.

O que viu ao fazer isso fez bile subir por sua garganta.

Ela abriu os olhos no mundo real e colocou para fora o café da manhã.

Após seu estômago se acalmar, piscou várias vezes olhando a sua volta.

Daena matava todos os demônios que tentavam se aproximar dela. Infelizmente, a fêmea teria que continuar fazendo isso por um bom tempo.

- Islodel, precisamos fechar aquela passagem agora!

Havia tanta urgência na voz de Ani que a Rainha das Fadas sentiu medo. Algo que nem se lembrava mais o que era, pois fazia muito tempo que esse sentimento não a visitava.

Islodel se aproximou de Allania e fez um círculo ao redor das duas.

- O que você viu?

A visão de um exército de seres hediondos, gosmentos e gigantes invadiu a sua mente e ela estremeceu.

- O inferno está vindo. Não daremos conta se aquelas coisas atravessarem.

A rainha das fadas assentiu e se virou para Daena:

- Você consegue garantir a nossa segurança, guerreira?

Daena olhou para todo o caos que atingia a pequena faixa de areia daquela praia.

Acenou positivamente para a outra e assumiu uma postura de defesa.

As criaturas atacavam com as armas que tinham: garras afiadas, secreções ácidas nojentas expelidas pela boca e letais espinhos que saiam de suas mãos.

Os guerreiros fadas usavam lanças com lâmina de ferro e cabos de madeira ou flechas do mesmo material.

Daena preferia sua espada, a famosa Colecionadora. Sua fiel companheira há quase um século que nunca a decepcionou.

Enquanto as fêmeas sentavam-se de mãos dadas e olhos fechados, a guerreira executava o seu balé sangrento ao redor daquele círculo. Era lindo ver Colecionadora cantando em sua mão ao decepar as cabeças de uns monstros e dividir ao meio os corpos de outros.

O sangue belígero de seus ancestrais corria feliz em suas veias atendendo ao chamado para luta, fortalecendo a feroz guerreira. E a fúria que Daena sentia se refletia em seus movimentos fluidos.

Dez demônios abatidos, trinta, quarenta... quando o número de monstros mortos ultrapassou os sessenta ela parou de contar.

A medida que a quantidade de partes desmembradas a sua volta aumentava, as bestas passaram a manter uma distância segura dos seus golpes ensandecidos.

Alheia a carnificina ao redor, Islodel começou a recitar um encantamento e Ani se preparou para unir sua magia com a dela.

Quando a rainha recebeu o fluxo de energia de Allania, seus cabelos se levantaram como se tivessem criado vida, lembrando a Medusa da mitologia grega. As duas abriram os olhos e se encararam.

A fada com brilhantes olhos prata.

A ex-mestiça com suas íris carmim.

Conhecimento passou entre elas.

Allania se levantou, virando-se para o portal.

No momento em que o poder trabalhado por Islodel foi enviado de volta para Ani, seu lado elemental despertou. Ela percebeu seu corpo se alongar, seus olhos refletirem o tom vermelho como um farol e o tempo adquirir um ritmo mais lento.

Ani descobriu três coisas:

O poder do seu avô ainda brilhava rubro em seu organismo.

O de Noturna se fazia presente negro como a escuridão.

E todas aquelas forças descomunais pertenciam a ela agora.

Um sorriso diabólico surgiu em seus lábios.

Ergueu as mãos e uma rajada de poder saiu delas.

A da mão esquerda atravessou o portal que ligava Tir Na Nog ao submundo.

A da direita atingiu todos os demônios que ousaram pisar no solo sagrado daquelas terras.

"Vocês não gostam de fogo? Então fritem, seus filhos da puta do inferno!" Gritou em sua cabeça.

Noturna não se comunicava com ela como antes, pois haviam se tornado uma só. Mas existia um parte de seu eu que Ani sabia que pertencia à antiga rainha. E essa parte estava orgulhosa com que estava fazendo.

Quando a última besta se transformou numa poça gosmenta no chão, Ani encerrou o ataque e olhou ao redor.

A areia havia se transformado em um mar de lama cinzenta.

Espantada assistiu a cada guerreiro fada, um a um, se ajoelhar diante dela.

Um soldado gritou:

- Viva Noturna! Senhora da Escuridão! Matadora de reis e demônios!

E todos os outros repetiram em uníssono:

- Viva Noturna! Senhora da Escuridão! Matadora de reis e demônios!

Uma movimentação no mar tirou sua atenção do exército de fadas de joelhos aos seus pés.

O coração disparou em seu peito e se encheu de felicidade.

Com apenas um salto, ela cobriu toda a distância que os separava e, num piscar de olhos, estava enfim nos braços do seu amado Cam.

Série Noturna - Livro 3: Além da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora