Prólogo

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Prólogo     
AGNES PETROVIC
CINCO ANOS ANTES

Saio da escola, coloco o capuz do velho moletom, pego minha bicicleta e vou para a loja ajudar meu avô. Minha vida definitivamente não é como a das adolescentes normais, que aos dezessete anos estão falando de namorados, andando pelos shoppings, pensando nos crushes ou colando pôsteres de bandas nas paredes do quarto. Meus pais morreram quando eu tinha cinco anos, desde então sou criada pelo meu único parente vivo, meu avô. Com ele aprendi o ofício da reforma, conserto de móveis e máquinas em geral.

Chego aos fundos da loja, pego a chave na mochila, abro a pequena porta e entro colocando a bicicleta no canto.

— Vô! Cheguei — falo enquanto me aproximo dele, que me abraça.

— Como está indo o dia, minha filha?

— Tranquilo. — Sorrio e vou até o banheiro trocar de roupa. Prendo meus cabelos, coloco o macacão de trabalho e quando saio a campainha toca.

— Deixa que eu atendo! — grito e vou até à porta. Olho pela janela de vidro que há na parte de cima e vejo uma mulher muito bonita, com longos cabelos negros, olhos verdes e vestida com roupas caras. Ela está sorrindo. — Boa tarde! ─ cumprimento a recém-chegada enquanto abro a porta.

— Boa tarde! É aqui que fazem consertos gerais? Tenho uma caixinha antiga e gostaria que vocês fizessem uma avaliação.

— Sim, pode entrar. Coloque aqui no balcão, por favor. ─ Ela deposita e      desembrulha o objeto com cuidado. Quando olho, fico maravilhada: é um castelo!

— É uma caixa de música. Está quebrada. — Ela pega a bailarina e a chave, dá corda e não toca.

— Posso? — Ela se vira para mim e me entrega o objeto. Olho atentamente e vejo uma abertura atrás, sorrio. — Caixa de segredos! Aqui é o compartimento e a segunda pista para a bailarina. — Olho para ela, que sorri.

— Então é verdade, você tem o dom. Sou Elizabeth.

— Agnes Petrovic. Muito prazer. — Ela fica sorrindo.

— A caixa era da minha mãe. Vou deixar tudo pago. Caso eu não venha buscá-la, meu filho virá. Ele tem a chave da parte do segredo. Poderia guardá-la até um de nós vir buscar? — Balanço a cabeça concordando. — Por favor, prometa que irá guardá-la pelo tempo que for! Tenho muito carinho por ela e não gostaria que outra pessoa a possuísse.

— Eu prometo. — Sorrio. Ela paga à vista e vai embora.

Levo a delicada caixinha para minha mesa de trabalho. Quando meu avô a vê, alerta-me de que é um objeto caro e me pede para não deixá-la na loja. Assim decido que irei levá-la comigo para casa ao final do dia.

À noite, quando estamos fechando a loja para irmos para casa, vejo a nota em cima do balcão. Pergunto-me porquê ela não a levou? Como o filho dela vai saber que está aqui? Ela deve falar com ele. Pego a nota e coloco na gaveta da caixa.

DOIS MESES DEPOIS

Estou pensativa com os cotovelos no balcão. A caixa de música está em nosso apartamento e dona Elizabeth não voltou. Espero pelo seu filho que tem a outra chave, sem sequer saber o seu nome. Escuto a campainha tocar, levanto-me para atender e me deparo com Giulia, minha amiga da escola, parada na porta com o semblante fechado. Ela é diferente de mim, pois é de família muito rica e tradicional, mas está estudando na escola pública, como forma de castigo por repetir de ano. Sempre que ela faz algo que o pai desaprova, ele retira-lhe qualquer pequeno privilégio, ou luxo, que ainda lhe resta. Privada de tudo, ela vem aqui na loja para ficarmos conversando enquanto trabalho.

— Oi, Giulia!

— Oi! Meu pai quer que eu aprenda os negócios da família. Me deu até essa revista! — Ela despeja zangada enquanto joga a revista no balcão, que se abre em uma página onde há um homem muito bonito, com cabelos e barba bem-feita, terno preto e óculos escuros.

— Quem é ele? Parece um modelo de roupas de marca! — Fico encantada.

— Outro empresário frio que, como meu pai, só pensa em dinheiro. — Ela fala sem interesse enquanto senta na cadeira e coloca os braços no balcão.

Olho para as demais fotos e me perco em seus olhos azuis esverdeados. Fico sorrindo e folheando as páginas.

— Posso ficar com a página?

— Que linda. Agnes se apaixonou! Amiga, aprende! Homens como ele só amam o dinheiro. A vida para eles é um acordo comercial vantajoso. Você tem sorte, vai casar-se por amor, enquanto eu... com certeza será um acordo que meu pai vai fechar. Se tiver sorte, será um jovem e bonito. Na pior das hipóteses, um velho babão. Pode ficar com a revista.

Ficamos rindo e a tarde Giulia vai embora. Levei a revista para o apartamento e antes de dormir, colei os pôsteres do homem de negócios na porta do meu guarda-roupa.

Fico sorrindo olhando para meu crush.

Nicolas  - Completo Na Amazon Where stories live. Discover now