Capítulo 3

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Mamãe para o carro na frente da escola quinze minutos antes do sino tocar. Faz alguns anos que perdi esse costume — de ser deixada na escola pelos meus pais. Eu tinha um carro, que ganhei há um ano logo que tirei a carteira, mas enquanto estive internada eles deram um fim nele; não acreditaram mais que eu seria capaz de conduzir com segurança, sem arriscar a minha vida e a de outros. Então, agora, preciso diariamente pegar carona com eles até a minha escola.

Parada na frente da escola, mamãe não me deixa sair de imediato. As portas ainda estão trancadas, e o carro ligado, e ela leva a mão até meu braço e me segura com firmeza.

— Você esteve numa colônia de férias — ela me diz. Eu tinha certeza que ela faria isso: inventaria toda uma história para justificar minha ausência. Mesmo que eu tenha sido internada durante as férias, ainda haveria todo um questionamento de onde eu estive, o que eu fiz, porque sumi. Não que eu tenha muitos amigos; as pessoas são só curiosas.

Suspiro pesadamente.

— E meu celular? — Questiono, apática.

— Você aprendeu na colônia a desapegar da tecnologia — ela diz como se fosse óbvio, e eu dou uma risada sarcástica diante da resposta tosca dela. Ela aperta ainda mais meu braço e me lança um olhar duro. — Faça o que eu te disse, Olivia. Não me deixe perder a paciência.

Tenho vontade de perguntar: ou o quê? Você vai me matar?, mas a última coisa que preciso é de atritos com ela. Nossa convivência está uma merda desde que voltei para casa, e eu não quero que ela banque a louca e me mande de volta para o Grace Elmers.

— Tudo bem. — É tudo o que digo.

— Faça isso — ela repete, me encarando, e enfim solta meu braço e destranca a porta.

Saio do carro, irritada, e sigo para dentro da escola sem olhar para trás.

Hoje é o primeiro dia de aula, e não por menos os corredores estão abarrotados: alunos para todos os lados, amontoados, conversando sobre como foram suas férias, para onde foram, o que fizeram, quem beijaram. Os garotos do time de futebol estão todos com seus casacos do time, as líderes de torcida estão todas indo para o vestiário, e consigo ver um garoto vestido como mascote do time, uma lagosta, segurando a cabeça gigante pelas mãos enquanto conversa com alguns garotos.

Parte de mim queria poder só não participar da primeira hora; como de praxe, no primeiro dia de aula todos somos encaminhados até o ginásio, onde as líderes de torcida fazem uma apresentação tosca para levantar os ânimos dos alunos, o diretor solta uns comentários sobre o que ele espera do ano letivo, o que tem de novo, o que não tem, chama os líderes de clubes de atividades extracurriculares para falar algumas coisas, e é isso: uma hora ouvindo abobrinha que não me interessa.

Chego ao meu armário, desanimada, e o destranco. Coloco todos os meus livros novos lá, aliviando o peso da minha mochila, e dou uma olhada geral nele: está cheio de adesivos, meus e de alunos que antes o ocuparam; riscos aleatórios, iniciais marcadas na porta, um gloss quase vazio no canto, soterrado por uma pilha de papel que jurei jogar fora qualquer dia desses, antes do fim do último ano letivo, mas que ainda estavam lá.

Olivia?! — Escuto uma voz feminina e ligeiramente esganiçada me chamar, e viro para o lado.

— Ei, Willa — respondo com uma animação cansada.

Willa Flint, a dona da voz, é minha melhor amiga — ou era, dadas as últimas circunstâncias. Os últimos meses me mostraram que talvez, só talvez, eu não fosse tão amiga assim de Willa. Pelo menos, não por mim, não a via mais assim. Willa não sabe do meu segredo, e eu não sinto qualquer confiança em compartilhar isso com ela. E apesar de eu me sentir sozinha o tempo inteiro durante minha internação no Grace Elmers, não senti falta de Willa; sequer pensava nela.

A garota que não pode morrer - Série Midnight - Volume 1Where stories live. Discover now