Esquadrão das Valentes Vol.4: No vale da perdição

Capítulo 5 - Retorno

Chegou o dia em que o mestre Saito retornaria para treinar as meninas e Vanessa iniciou o treinamento comunicando que na próxima semana elas ficariam um dia e uma noite na floresta do medo.

Cíntia e Karol não gostaram e perguntaram se todas precisavam ir, Vanessa confirmou que sim dizendo que a ideia era aumentar a comunhão entre elas.

— Comunhão com a Samantha? Impossível! — caçoou Elizabeth, o que provocou riso em suas amigas. Samantha não gostou e fechou a cara.

O mestre Saito chegou e iniciou o treinamento com as espadas. Alice ainda era a melhor, mas Amanda melhorou muito. As duas foram às únicas elogiadas e o mestre criticou Samantha e Elizabeth.

— Vocês duas podem lutar muito melhor, vocês não estão se esforçando!

Samantha gritou com o mestre.

— Porque todo mundo fica me cobrando tanto, é no futebol, é na escola, é na igreja, é aqui, em casa, eu faço o que eu posso! Que droga!

Vanessa mandou Samantha pedir desculpas e ela correu para o vestiário jogando mais uma vez a sua espada ao chão.

A capitã explicou ao mestre que ela tinha perdido o irmão baleado recentemente e andava abalada.

— Ela é abalada desde que nasceu. Só no campeonato deste ano ela já expulsa quatro vezes. — comentou Elizabeth.

O mestre Saito, com muita calma falou para Vanessa.

— Ela mudará. Deus a ensinará a ser melhor.

Vanessa concordou com o velho mestre e pediu para Samantha voltar ao pátio para que o treinamento fosse encerrado. A guerreira, com os olhos marejados e vermelhos, voltou e ficou em forma com as demais.

O velho mestre fez uma oração e colocou a mão na cabeça de Samantha pedindo uma transformação em sua vida. Ele sussurrou algumas palavras no ouvido dela que se derramou em lágrimas sendo amparada por sua prima que a abraçou e chorou também.

Após o treinamento Alice foi para a aula de judô com Tifany, Karol, Samantha e Elizabeth, elas, com exceção de Karol tinham melhorado muito na prática da luta e subiram de faixa.

Karol era motivo de muito riso por parte de suas amigas porque estava há vários meses tentando dar um golpe com as pernas em um boneco, mas não conseguia atingi-lo na cabeça devido a sua baixa estatura.

Após o treinamento elas se juntaram a Jaqueline e a Raquel, amiga de Alice para treinar futebol. O time da cidade tinha se classificado para as semifinais do torneio nacional sub-17 e enfrentaria por uma terrível coincidência o time de Betel que era muito forte.

Alice se despediu das meninas que foram embora para suas casas após um dia muito movimentado. Samantha e Elizabeth moravam na parte mais pobre da cidade de Peniel e o sol já caia quando Samantha chegou a sua casa.

A casa onde Samantha morava era de madeira, a pintura estava desbotada, algumas telhas estavam quebradas e o estado da residência era horrível, tanto por dentro como por fora.

Samantha adentrou a casa pela porta da frente onde o único objeto novo era o quadro com a foto de Diego, seu falecido irmão. Sua mãe estava sentada no sofá que estava todo rasgado e queimado por cigarro.

Sua mãe era uma fumante compulsiva e o número de bitucas de cigarro no cinzeiro ao lado do sofá era grande. Os dentes dela estavam podres e amarelados, apesar de ser uma mulher com pouco mais de 40 anos ela parecia ter uns vinte anos a mais devido à aparência malcuidada.

A TV também era daqueles modelos bem antigos e estava sobre um rack quebrado e desbotado.

Samantha a cumprimentou.

— Olá mãe!

— Isso é hora de chegar menina, o dia todo fora, onde você estava?

— Estava na igreja de manhã, à tarde fui para o judô e para o futebol.

— Já está na hora de você arrumar um emprego e parar com essas besteiras.

— Mas trabalhando eu não vou estudar o suficiente para entrar em uma faculdade.

A mãe de Samantha riu bastante.

— Faculdade? Nunca ninguém da nossa família conseguiu entrar em uma faculdade, não se iluda minha filha, isso não é para nós. Somos pobres e negros, o mundo não dá chance para pessoas como nós.

Samantha se irritou e gritou.

— Eu não vou ser uma fracassada igual a você!

Após gritar, Samantha viu o seu pai chegar completamente bêbado tropeçando no tapete e segurando nos móveis para não cair. Ele olhou sua filha com um olhar perdido dando a impressão de nem saber quem estava a sua frente. A mãe de Samantha reclamou com seu marido.

— Olha sua filha gritando comigo! É isso que ensinam na igreja pra você sua mal-educada!

O pai de Samantha não respondeu olhando para sua esposa quase sem piscar.

— Responde seu traste, você só presta pra beber mesmo!

Samantha viu seu pai tropeçar caindo bem aos seus pés, ele não conseguiu se levantar e ela foi para o quarto decepcionada com a deprimente cena. Ela ainda ouviu sua mãe se levantar para socorrer o seu pai com muitos palavrões.

Ela dividia o quarto com sua irmã dois anos mais velha, mas que já era mãe, fruto de um relacionamento com um rapaz que não assumiu a paternidade.

Samantha perguntou pelo seu irmão caçula e sua irmã, com a aparência cansada e triste respondeu.

— Ele não apareceu hoje, ligaram para avisar que ele não aparece na escola faz um mês. Ele está andando com os mesmos amigos que fizeram o Diego ir para o caminho do crime. A mamãe diz que não pode fazer nada e com o papai não se pode conversar porque sempre está bêbado.

Samantha abaixou a cabeça inconformada e perguntou pela sua avó, mas sua irmã a informou que ela dormiria na casa de sua tia hoje. Samantha ficou triste porque sua avó era a única na casa que frequentava a igreja como ela e sempre a aconselhava.

O nenê de sua irmã começou a chorar alto e Samantha deitou-se em sua cama que tinha um lençol remendado, muito triste, ela deixou uma lágrima cair antes de se levantar e ir tomar banho.

Naquela mesma noite, Karol, prima de Alice, deitou-se em seu luxuoso quarto e teve um terrível pesadelo.