Capítulo único

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"Essa música que está tocando na rádio é a sua cara né Lua? 'Eu não sou audiência para a solidão'. "

Dentro do provador, nem tive a chance de responder. Já outra amiga tirava uma casquinha minha.

"Nossa, essa veio do fundo do baú né? Cuidado que mexendo em memórias a gente vai desenterrar tanto caso dessa menina que só hoje não basta para contar! Quando foi a última vez que cê ficou sozinha Lua?"

"Tô solteira desde a copa, porque eu não queria perder jogos correndo o risco de encontrar um cara que não ia querer assistir comigo."

"Ficou sozinha e ainda tomamos aquele vergonhoso sete a um. Enfim né, eu acho que você devia seguir a vibe e continuar solteira comigo amiga. Poupa suas economias pra gente viajar o mundo!"

Mas sem precisar responder, sai com o primeiro vestido de noiva que decidi provar. E todo mundo entrou na onda. Dali em diante, não houve uma loja na qual não chamássemos a atenção e, entre piadinhas, criássemos um clima gostoso.

As meninas se deixaram contagiar pela atmosfera e provaram seus vestidos de madrinha. Entre flashes e trocas de roupa, preenchemos uma manhã com muito estilo.

Quando íamos dar por encerrada a manhã de noiva da Lua, e partir para o almoço, uma das vendedoras da loja na qual estávamos me chamou de canto.

"Olha, eu não sei se você já encontrou o vestido certo, mas descendo aqui tem uma lojinha que fica escondida em cima de uma doceria. Você sobe uma escada e vai chegar num ateliê bem aconchegante. A dona é uma senhorinha que faz os modelos, então é bem exclusivo."

Me despedi agradecendo, e durante o almoço compartilhei com as meninas.

"Lua, a gente não provou vestido o suficiente?"

E antes mesmo que eu pudesse responder já tinha quem tomasse a dianteira:

"Eu topo ir em mais um, afinal não é só a Lua que tá provando e eu bem que fiquei bonita naquele azul drapeado."

"As fotos estão ficando uma beleza, vou pensar em fazer um álbum pra vocês depois!"

E imaginando a belezura que ficariam aquelas fotos dei a opinião que por fim decidiu.

"Ah eu fiquei curiosa, ainda que não prove nenhum, a gente podia ir conhecer!"

Escada acima, o ambiente era totalmente diferente de todas as lojas que havíamos ido. Ali eu realmente sentia que estava entrando noiva e prestes a casar. Talvez fossem todos aqueles vestidos dignos da realeza, ou o tapete macio que absorvia as energias, ou a máquina antiga de onde uma senhorinha nos observava entrar. O sentimento aparentava ser mútuo, porque o sorriso e a calmaria que tomou conta do nosso grupo era sem igual.

"Olá, meninas! Sejam bem-vindas ao meu cantinho. Eu sou Eva."

"Prazer, dona Eva. A gente tá procurando um vestido para a nossa amiga."

Soltei uma amostra de tecido que estava numa arara próxima a mim e fui para perto dela.

"Oi, dona Eva! Será que a senhora tem algum modelo mágico, desses que me faça a noiva mais linda do mundo?"

E com um sorriso de quem confia no próprio taco ela pediu um minuto e entrou num corredor.

"Mas gente, essa mulher tem cara de fada madrinha! Tenho certeza de que a Lua já vai deixar o vestido reservado para quando for casar mesmo. Cêis viram essas obras de arte?"

"Olha, até eu que não quero casar aceitaria um vestido desses."

"Meu bem, vem cá no provador, coloquei um modelo no cabide."

Lua quer casarWhere stories live. Discover now