Capítulo Vinte e Três

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Dylan Becker

Nem acredito que acabei de expor meu maior medo para meu psicólogo e confesso que é como se um peso invisível saísse de cima das minhas costas. Admitir o medo que eu tenho de amar alguém não foi nada fácil, mas essas palavras escaparam por minha boca assim que a imagem de Uriel veio a minha mente. E por mais confuso e diferente que tudo isso seja, eu sei que sim, posso amar ele mais do que um simples amigo e isso é tudo o que eu não preciso. E não é de agora que eu percebi isso. No momento em que ele abandonou a própria reunião do grupo de apoio para se juntar a mim, eu percebi que estava criando sentimentos a mais por ele. Porque vamos combinar, que alma boa o bastante abandona algo apenas para te dar forças?

- E esse é seu único medo, Dylan? Amar? - Ouço Guilherme pergunta, me tirando do meu mundo de pensamentos e um suspiro alto escapa por meus lábios.

- Não. - Admito e minha vontade era ter um daqueles chás calmante que meu pai sempre toma.

- Qual é seu outro medo? - Ele volta a perguntar e desvio meus olhos para à parede, pensando em tudo.

- O preconceito, eu sei como isso machuca e não quero isso. Eu já tive atitudes preconceituosas com meu pai e vi o quanto isso machuca. Sem contar que bissexual, o que eu me rotularia, já que ainda gosto de garotas, é ainda mais taxado. "Ah, por que você não decide se gosta de buceta ou pau?". - Respondo, não me importando com meu linguajar.

- Você não deve nada a ninguém, Dylan e isso é a primeira coisa que deve colocar em sua cabeça. Eu não deveria estar te falando isso, mas sou casado com outro homem. Meu marido é cadeirante e negro, então você pode imaginar o que a palavra gay acrescentou de preconceito na vida dele. Mas apesar de ser algo complicado, você não pode deixar de viver sua vida por causa de pessoas sem empatia. - Ele diz e fico surpreso por estar compartilhando isso comigo.

- Eu não sou forte, não mesmo. - Respondo com um riso amargo.

- Claro que é, você está buscando ajuda e expondo seus medos, Dylan... Apenas pessoas fortes o suficiente fazem isso por si mesmas. - Guilherme diz e olha em meus olhos. - Você não precisa tomar nenhuma decisão de forma precipitada, ok? Apenas reflita se quer viver refém dos seus medos, tanto de amar quanto o de sofrer preconceito. Mas saiba de algo... As pessoas sempre vão achar o mínimo possível para te julgar, só cabe a você não abaixar a cabeça.

Ouço atentamente sua fala e concordo com um aceno, querendo refletir sobre tudo isso depois.

- Só mais uma coisa. - Falo e Guilherme assente, me incentivando a continuar. - Uriel me viu beijando Celine e ele é muito um almofadinha sensível, não quero ver ele magoado, mesmo não tendo certeza se ele realmente gosta de mim. Acha que preciso pedir desculpas? - Pergunto e aperto minhas mãos, ansioso por sua resposta.

- Você acha que precisa? Eu não posso te dar essa resposta, Dylan, depende do que você sente que deve fazer. - Ele responde e isso me faz suspirar.

- Okay! - Falo por fim e me levanto da poltrona, pronto para ir. - Hum... Obrigado! - Agradeço, mesmo sabendo que esse é seu trabalho. No fim não é tão ruim ter um psicólogo.

- Estarei sempre aqui. - Ele diz apenas e eu assinto.

Saio do consultório de Guilherme e encontro meu pai na sala de espera, que se levanta e vem até mim.

- Me espere aqui, ok? Vou falar com Guilherme sobre o início do seu tratamento. - Ele diz e eu concordo, deixando ele ir.

Solto um suspiro e sigo até à mesinha onde há uma garrafa de café e chá. Pego um copo descartável para água e encho o mesmo com o líquido fumegante e preto. Levo o copo até meus lábios e me sinto satisfeito ao sentir o gosto amargo. Volto a me sentar na cadeira e me lembro do episódio de mais cedo, quando beijei Celine.

Maktub | Livro 01 - Trilogia Destinos [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now