Os Amantes

SEIS

Acordo cedo, me arrumo e vou à concessionária. Logo encontro o Flávio.

- Bom dia! Luna!

- Bom dia! Flávio!

- Hoje você chegou muito cedo.

- É que acordei muito cedo e não consegui dormir mais.

- Quer tomar café comigo?

- Hmm... - fiquei pensativa por uns instantes, pensando se aceitava ou não, mas a fome estava falando mais alto. - Quero sim! Não comi nada ainda...

Ao chegarmos à uma lanchonete, ele pede para eu escolher algo para comer e pede algo também.

- Luna, você está se saindo muito bem no trabalho! Com um tempo pode até se destacar na empresa.

- Muito obrigada, Flávio! Vou fazer o possível para me dar bem no emprego. - dou um sorriso breve.

- Tenha cuidado com o assédio dos homens! Vocês vendedoras são muito bonitas e atraentes, é comum que eles deem cantadas em vocês! Se caso isso ocorrer, me avise!

- Pode deixar, Flávio!

Uma garçonete nos traz os pedidos.

- Obrigada! - digo, e ela me responde com a cabeça afirmadamente.

- Obrigada! - Flávio a agradece e ela responde um "de nada" toda contente, como se ele fosse um rei. Vadia!

Ao terminarmos de tomar o café, retornamos à concessionária. Encontro o Lucas na recepção.

- Bom dia, Luna! Bom dia, Flávio!

- Bom dia! - eu e o Flávio respondemos juntos.

- Por que está aqui tão cedo? - Flávio pergunta.

- Pensei que meu pai estivesse aqui. Queria que ele me acompanhasse ao aeroporto para buscarmos a Carla.

Ah... a Carla. Quando ele disse isso, senti uma pontada de ciúmes.

- Seu pai não veio ainda. Provavelmente, está a resolver algumas coisas.

- Ah... com licença, irei ao aeroporto buscar a Carla. Ele faz um gesto com a cabeça e sai.

Vou até o vestiário me trocar. Entro em uma cabine e começo a tirar a roupa, quando começo a ouvir muitas vozes.

- O Lucas é tudo de bom! Pena que ele tem namorada!

- Meninas, eu que tive sorte! Consegui ficar com ele! Ele é maravilhoso!

- Ai que inveja branca!

- O Sr. Robert também é tudo de bom... tem a quem o filho puxar! Eu pegaria os dois!

- E o Flávio? Pura tentação... ai se eu pudesse! Essa concessionária é abençoada!

Fico quieta para não me perceberem e resolvo escutar a conversa.

- Eu ouvi ele dizer ao Flávio que está indo ao aeroporto buscar a namoradinha dele... não a suporto! Se acha só porque namora o filho de um dos homens mais importantes da cidade.

- Você viu como o Lucas olhava para a nova funcionária? Ela mal chega aqui e ele já se encantou por ela! Sem contar o Flávio... ele também a olha diferente.

- Me empresta o rímel, querida? Como ela pode fazer com que os dois se interessem por ela?

- Não acho que eles se interessaram por ela. Esses olhares diferentes deve ser de pena, pois ela é tão burrinha! Não entende nada de carros... Logo ela vai ser demitida.

- Tem razão, meninas! E eu achando que eles se interessaram por ela. Eles não vão se envolver com uma menina que ainda deve brincar com bonecas! - Todas caem na risada e saem.

O Lucas já ficou com uma delas? Que ódio! Fofoqueiras mal amadas! Sinto uma raiva percorrer meu corpo. Vontade de enforcá-las. Mas eu não desço tão baixo! Agora elas vão ver a burrinha que brinca com bonecas! Me arrumo como nunca.

- Luna! - me viro e vejo o Lucas. Está com ela. - Sabe se... o meu pai... apareceu por aqui? - gagueja ao me olhar dos pés à cabeça.

-Não sei, Lucas! - não dou muita ousadia.

- Ah, essa é a Carla, minha namorada.

- Oi - ela me diz com cara de quem não comeu ainda.

- Oi. - respondo da mesma forma.

- Com licença, Luna! Irei levá-la em casa. Se o meu pai aparecer por aqui, diga que a Carla já chegou. - ele me diz meio sem jeito.

- Ok! - digo sem nenhuma expressão facial.

A Carla é bonita. Cabelos lisos e negros, corpo esbelto, porém mau humorada. O mau humor deixa as pessoas feias. O Lucas conversou comigo como se dissesse pelo olhar: " me desculpe! não queria que essa cena acontecesse e você está maravilhosa!". Meu consciente bom aparece. "Luna, você viu como ele não quer nada com você? Ele te apresentou a namorada! Por que ele veio atrás do pai sendo que ele podia ligar para ele? Foi só para fazê-la sentir sua amante!". Reflito. Meu consciente tem razão. Por que ele tinha que me apresentá-la, depois do que aconteceu ontem? Surge meu consciente malandro. "O Lucas disse que não ama mais a vara de pescar e quer terminar. Por que tu tem que ficar se remoendo? Dois homens magníficos dando mole pra tu e tu fica perdendo tempo! Viu como as meninas falaram sobre eles e você? Elas os desejam e não suportam a ideia de que tu conquiste os dois de uma vez! Sua muriçoca de boca aberta! " Fico indignada como ele me chama "muriçoca de boca aberta"! Se fosse uma pessoa daria um mega tapa na cara agora! Mas paro pra pensar... Os dois conscientes têm razão, mas prefiro seguir o malandro.