CAPÍTULO 42

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Um velho conhecido de Oliver torna-se uma figura pública na metrópole

Na noite em que Nancy se encontrou com Rose Maylie, seguiam em direção a Londres um macho e uma fêmea, as quais é conveniente que esta história dê alguma atenção.

– Que vagarosa você é, Charlotte.

– É uma carga pesada. Está muito longe?

– Um bom bocado – falou o vagabundo apontando para a frente. – Olhe lá! Aquelas são as luzes de Londres.

– Onde vamos passar a noite, Noah? – ela perguntou.

– Vou me perder nas ruas mais estreitas e não vou parar até chegarmos a casa mais escondida que achar, porque se o Sowerberry vier atrás de nós, pode nos levar de volta algemados – falou o Sr. Claypole. – Você pegou o dinheiro da gaveta.

– Peguei para você, Noah. E confiou em mim e me deixou levá-lo – falou a moça dando-lhe o braço.

Na verdade esse era o caso: ele havia confiado em Charlotte porque, se fossem perseguidos, o dinheiro seria encontrado com ela, o que lhe possibilitaria reclamar sua inocência.

O Sr. Claypole continuou sem parar até chegar a obscuridade das vielas intrincadas e sujas entre Gray's Inn Lane e Smithfield, onde ficava um dos piores lugares da cidade.

Pararam em frente a uma taverna, de aparência mais humilde e mais suja do que qualquer outra, e resolveram passar a noite ali.

– Não fale, exceto quando eu disser – falou Noah. – Qual é mesmo o nome da casa... Thre... Three o quê?

– Cripples – ela falou.

Não havia ninguém no bar, exceto um jovem que, com os dois cotovelos no balcão, lia um jornal. Ele encarou duramente Noah, e Noah o encarou duramente.

– Este é o Three Cripples? – perguntou Noah.

– Esse é o dome desta asa – respondeu o rapaz.

– Um senhor que encontramos na estrada nos recomendou – afirmou Noah. – Queremos passar a noite aqui.

– Vou perguntar se podem – disse Barney, o atendente do local.

– Mostre-nos a torneira e dê-nos um pouco de carne e cerveja enquanto isso, pode ser? – indagou Noah.

Barney levou-os para uma pequena sala nos fundos e serviu os alimentos. E então informou que poderiam se hospedar aquela noite.

Ora, essa sala dos fundos ficava atrás do bar, e havia um painel de vidro fixado na parede, de onde se podia ver qualquer cliente na sala sem ser visto. E de onde também se poderia, colocando o ouvido na parede, ouvir com razoável clareza a conversa. Barney tinha acabado de retornar ao balcão, quando Fagin chegou à procura de seus jovens pupilos.

– Estanhos na dala ao lado! – falou Barney. – Do inderior, acho que interessam.

Fagin olhou pelo vidro.

– A-há! – sussurrou, olhando para Barney. – Gosto do jeito do rapaz. Pode ser útil para nós. Deixe-me ouvi-los falar.

Novamente voltou a observar e, colocando o ouvido na parede, escutou atentamente.

– Quero uma vida boa – falou o Sr. Claypole –, e você poderá ser uma dama.

– Adoraria ser, querido – respondeu Charlotte –, mas não existem gavetas a ser esvaziadas todos os dias.

– Danem-se as gavetas! – disse o Sr. Claypole. – Existem bolsos, bolsas de mulheres, casas, carruagens, bancos! Vou entrar em um bando. E, se nós conseguirmos conhecer gente desse tipo, valeria aquela nota de vinte libras que você pegou.

Então a porta abriu subitamente, e o Sr. Fagin apareceu. Parecia muito amigável.

– Pelo que vejo é do campo, senhor? – falou apontando para os sapatos de Noah. – Não temos tanta terra assim em Londres.

– Você é um camarada esperto – falou Noah rindo.

– Ora, é preciso ser esperto nesta cidade, meu caro – respondeu o velho. – Um homem precisa estar sempre esvaziando gavetas, bolsos, casas, carruagens, ou bancos, se quiser beber regularmente.

O Sr. Claypole reclinou para trás na cadeira e olhou o velho com uma expressão de terror.

– Não fique com medo. – Fagin puxou a cadeira mais para perto. – Eu só tive a sorte de ouvi-lo por acaso. E sorte sua ter sido apenas eu.

– Foi ela quem fez tudo e está com ela agora – gaguejou Noah.

– Não importa com quem está ou quem a pegou, meu caro – respondeu Fagin. – Estou nesse ramo de negócios. Vocês vieram ao lugar certo e estão seguros. Tenho um amigo que acho que pode realizar o seu desejo e colocá-lo no caminho certo. Deixe-me dar uma palavra com você lá fora.

– Não é preciso – falou Noah. – Ela levará a bagagem lá para cima.

A ordem, dada com autoridade, foi obedecida sem a menor contestação.

– Ela é bem obediente, não é? – ele falou.

– Perfeita – riu Fagin. – Você é um gênio, meu caro. Então, o que acha?

– Se estiver em um bom nível de trabalho! – falou Noah. – Vou ter de pagar?

– Não poderia ser de outra forma – confirmou Fagin.

– Vinte libras é muito dinheiro!

– Não quando é uma nota da qual não se pode livrar-se – retrucou Fagin.

– Quando poderia vê-lo? – perguntou Noah.

– Amanhã de manhã. Aqui.

– Hum! – murmurou Noah. – E qual é o salário?

– Viver como um cavalheiro, casa e comida, fumo e bebida de graça, metade de tudo o que ganhar e metade de tudo o que a mulher ganhar.

– Mas veja – observou Noah –, como ela poderá trabalhar bem, eu gostaria de fazer algo leve.

Com isso, Fagin colocou o Sr. Claypole no bolso e ficaram gargalhando juntos por um bom tempo.

– A que horas nos encontramos amanhã? – perguntou Noah.

– Às dez. E que nome devo dizer ao meu bom amigo?

– Sr. Bolter – respondeu Noah. – Sr. Morris Bolter. E esta é a Sra. Bolter.

– Seu humilde servo, Sra. Bolter – disse Fagin. – Boa noite!

Oliver Twist (1838)Where stories live. Discover now