kill game, after

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Anne havia finalmente conseguido dormir, na madrugada daquela segunda noite. Dormia tranquilamente mas a Van Dijk ainda estava acordada e levantou imediatamente, assim que escutou o barulho na fechadura.

    Ruel ainda tinha as chaves, graças àquilo conseguiu facilmente entrar na casa que ainda considerava sua. Era claro que tentou ser o mais discreto possível mas sentiu seu coração acelerar, assim que escutou a voz feminina.

— É a primeira vez que te vejo entrar pela porta da frente, irmãozinho.

    Stella estava em pé na sala, sentindo seus olhos marejarem por ver o irmão mais novo bem em sua frente de novo, depois de tanto tempo achando que ele estava a sete palmos abaixo da terra.

— Não sou mais adolescente, Coco.

— Venha me abraçar, seu merdinha.

   Ruel receoso caminhou até a irmã, sentindo seu corpo todo relaxar assim que ela o abraçou fortemente. Stella não segurou as lágrimas, ela sentia tanta falta dele, depois de tanto tempo, se sentiu finalmente viva.

— É tão solitário ficar aqui todos os dias, você é a única coisa que me restou.

— Quando foi que você se tornou uma garotinha boba? — Ruel riu, ele estava simplesmente brincalhão, Stella lembrou daquele garotinho de sete anos, que apanhava sem qualquer motivo mas ainda assim, fazia de tudo para deixar a mais velha feliz.

— Você ainda é um garotinho bobo e estupido.

— Não mais, eu fiz tanta merda. — Ruel sentou-se no sofá, sendo acompanhado pela irmã. — A Anne está aqui, não está?

— Dormindo lá em cima. O que tem nela que te deixou tão enfeitiçado?

— Um mix de ódio e adoração, não sei bem. — Ruel parecia envergonhado, ele ainda era o jovem tímido, aquele que costumava ser com Sophia. — Eu vi a entrevista da Sarah, foi mais forte do que eu, quando eu vi, eu já estava vendo ela perder o ar em minhas mãos.

— O que você fez? — Stella sentiu seu coração acelerar, ainda era assustador ver o irmão agir como um assassino.

— Ela magoou a Anne e eu...sei lá. — Deu de ombros, sentia-se envergonhado em frente à alguém que tanto amava. — Eu sou a porra de um idiota impulsivo.

— Não é, não diga assim, no fundo você ainda quer mudar. — Ruel negou com a cabeça, fechando os olhos fortemente para impedir as lágrimas de descerem. — Por favor irmão, desista disso, você teve uma segunda chance de viver e isso não vai acontecer mais. Eu não suportaria te ver morto mais uma vez Ruel, por favor fique comigo.

    Stella estava chorando, Ruel encarou o chão, tudo para não ter que encarar aquela dura realidade. A Van Dijk mais velha era a última coisa que ele tinha e ele precisava garantir que ela ficaria bem.

— Eu matei a Soph. — Sentiu uma tristeza, pela primeira vez em anos. — Eu a amava mas mesmo assim a matei. Eu sou um monstro Stella, não quero machucar você também.

— Isso não vai acontecer. Eu te amo tanto, a gente pode recomeçar como uma família de verdade, eu te imploro.

Ruel se levantou, enquanto Stella chorava cada vez mais, ela não queria vê-lo indo para longe mais uma vez, não depois de tudo.

— Sinto muito Coco. — Ele caminhou até a porta, evitando olhar para trás.

— Por favor, eu imploro.

— Pare de implorar. — Seu tom agora era ríspido, mesmo que aquilo não fosse o que ele realmente queria fazer. — Amanhã, mande a Anne até o endereço do nosso antigo sítio, sem mais perguntas, apenas faça se realmente me ama.

— Podia ser diferente, se você ao menos tentasse.

Ruel encostou a cabeça na porta, sentindo uma lágrima solitária escorrer por seu rosto, ele nem sequer lembrava daquela sensação. Ele sentia que era tarde demais para ele, aquela pobre alma já não tinha mais salvação.

— Eu te amo, sinto muito por tudo isso.

E então abriu a porta, caminhando para longe e deixando uma Stella em prantos, para trás.