ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ ɪɪ

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Ícaro passou o braço pelos ombros de Zoe, inclinando-se para a direita para ver a foto que ela continuava observando mesmo depois de saber que tinham chegado.

Como esperado, a foto era dele. Tinha imaginado isso quando viu a câmera apontada para si. Zoe parecia uma criança quando ganha um doce. Sorria pequeno e os olhos brilhavam.

O calor que envolveu Ícaro foi arrebatador, mesmo que não houvesse nenhum motivo aparente para tanto alvoroço. Afinal, Zoe só havia gostado de como mais uma fotografia sua tinha ficado. A cada foto melhor que a anterior ela se sentia mais perto de ser a fotógrafa que sempre sonhou. Ao menos era isso que Ícaro pensava enquanto a observava delinear a foto com a ponta dos dedos.

A linha de pensamento dela, entretanto, seguia outro caminho: as sardas pontilhadas e a curva suave do sorriso eternizadas naquele papel 7x10.

Zoe voltou a pegar o álbum e o abraçou. Tinha a foto de Ícaro ainda presa entre os dedos, como se segurá-la pudesse garantir que Ícaro estaria por perto também. Seus olhos encontraram os de Ícaro e a conversa silenciosa foi o suficiente para que eles saíssem do carro.

O parque em frente à escola — onde passavam boa parte do tempo juntos — continuava exatamente como Zoe lembrava. Como em uma fotografia, onde o tempo parece congelado para sempre. A árvore, tão imponente quanto anos atrás, estava carregada de flores.

Ícaro voltou a meio do caminho até lá e Zoe parou, observando o que ele pretendia. Ele abriu o porta-malas e retirou uma toalha de mesa quadriculada — que eles sempre usavam para brincar quando eram crianças — e uma cesta de piquenique. Ele sorriu, levantando os objetos um em cada mão enquanto caminhava para perto dela novamente. Zoe riu com a cena.

— Tinha me esquecido — falou quando parou ao lado dela.

— Não tem problema. Estamos aqui para lembrar, certo?

Ícaro sorriu e alcançou a mão dela, apertando a forma pequenina com a sua e acariciando a pele do dorso com o polegar.

Estar ali para lembrar não anulava o fato de que haviam coisas que queria esquecer.

Ícaro estendeu a toalha ao sopé da árvore, por cima de um tapete roxo de pétalas, quando chegaram. Posicionou a cesta em um canto do tecido enquanto ele e Zoe, com o álbum no colo, se sentavam no outro, utilizando o tronco largo como apoio.

Zoe tirou a câmera do pescoço e colocou de lado. Abriu o álbum e passou as páginas. Ícaro apoiou a cabeça no ombro dela para observar as fotos.

Apontou uma fotografia do primeiro show que foram juntos. Era do Arctic Monkeys, Ícaro ainda usava óculos e Zoe ainda tinha mechas azuis.

— Meu Deus. — Zoe falou, sorrindo. — Esse show foi, de longe, o melhor que já fomos.

— O Fê levou um tombo nesse dia, lembra? — Ícaro perguntou. — Eu e você estávamos tão ocupados rindo que foi difícil ajudar.

Zoe confirmou com um aceno, rindo em seguida. Ainda assim, lembrar dele doeu.

— Queria que ele estivesse aqui — murmurou como se contasse um segredo.

Fechou o álbum, tendo o cuidado de colocar a foto de Ícaro entre a capa e a primeira página para não perdê-la, e colocou-o ao seu lado.

Ícaro rodeou o corpo dela com os braços e Zoe afundou o rosto no peito dele.

— Eu também.

Zoe tremeu debaixo dele. Ícaro desfez o abraço e ergueu o rosto dela, limpando com os polegares as lágrimas que despontavam. Sentiu os próprios olhos úmidos, mas ainda assim sorriu.

PhosgrapheinWhere stories live. Discover now