Capítulo 4

930 94 44
                                    

ANTÔNIO

Uma pilha de documentos jazia sobre a minha mesa, junto com algumas duas ou três xícaras de café vazias. No canto direito, pastas e mais e pastas com briefings que precisavam ser aprovados ou revisados. Eram para estar liberados e não disputando espaço com orçamentos, contas, planilhas e todas as mil e uma coisas que Marina fazia na agência.

Ela nunca foi apenas a diretora financeira. Marina comandava a InFoco, enquanto eu fazia todas as vontades dos clientes, transformando as ideias mais mirabolantes em um trabalho que nos colocou no topo.

A questão é que, antes, eu tinha tempo. Não precisava sequer assinar papéis. Afinal, a diretora financeira era minha mulher.

Bruna deu uma leve batida na porta e entrou após minha autorização.

— Antônio, já estão te aguardando na sala de reuniões.

— Mas ainda são dez horas! — Verifiquei meu relógio de pulso. Teria uma reunião importante com os chefes de setores. Havia três meses que as coisas não andavam bem na InFoco, e, se continuasse assim, fechar seria o destino final.

— A reunião foi marcada para às dez, Antônio — Bruna respondeu entre impaciente e preocupada. Além de Melissa e eu, Bruna era talvez a pessoa, dentro da agência, que mais sentia o caos que a saída da Marina causou em minha vida. Ela trabalhava diariamente até muito além do seu horário e precisava lidar com a toda a confusão que eu era.

— Toma, esse é o material. — Ela me estendeu uma pasta com um relatório didático e precisei segurar a risada. — Eu os recebi e disse que você estava em um telefonema importante, acho que ainda tem alguns minutos.

— O Lucas chegou? — questionei enquanto passava as folhas. O jurídico era o setor que mais estava demandando a área financeira, havia ultrapassado os vários limites de orçamento que eu repassava. E Lucas parecia ainda não ter entendido os alertas que recebeu.

Marina batia de frente e exigia todo tipo de justificativas para cada centavo que as áreas solicitavam. Mas eu estava atuando de forma interina e sem o tempo e disposição para brigar com os meus gestores.

— Ainda não. E também não consegui falar com ele ao telefone. Mas a advogada assistente dele já está na sala de reunião. — Suspirei e esse era outro problema que em algum momento eu teria que lidar. Algum momento que não fosse às vésperas da reunião.

— Tá, preciso de alguns minutos.

Bruna passou apressada pela porta.

Na sala de reuniões, fiz o que pude para enfrentar cada gestor sentado ao redor da longa mesa. Expliquei o momento que passávamos e cobrei a falta de comprometimento que sentia da parte deles. Eu estava acumulando funções importantes para que a agência caminhasse e precisava contar com a maturidade e auxílio de cada diretor. Se cada um conseguisse dar conta do próprio setor e não me demandasse com coisas pequenas, eu poderia fazer dar certo.

Porém, o desconforto verdadeiro surgiu quando apresentei alguns gráficos e relatórios financeiros. A cara de desgosto deles me fez entender ao menos um pouco do que Marina passava na InFoco. Não eram gentis com ela. Toleravam-na porque era minha mulher. Naquele momento entendi o quanto haviam sido hostis quando souberam da nossa separação. Mas o erro deles era ignorar que a InFoco era tão dela quanto minha e que, sem ela, a agência estava de pernas para o ar.

O material foi produzido pela antiga equipe da Nina, sendo que Mel foi quem tomou a dianteira e era minha cabeça dentro da diretoria financeira. Ela não se importou em me entregar uma lista, indicando cada área que não apresentava todos os documentos para subsidiar os gastos que tinha. E, mais uma vez, o jurídico encabeçava-a.

Nosso Reencontro [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora