Capítulo VI.

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Louis estava cada vez mais distante do trabalho e temia perdê-lo, precisava muito daquele emprego, ultimamente vinha chegando atrasado todos os dias já que esperava as meninas chegarem da escola antes de sair de casa para que Hazza não ficasse sozinho, o episódio de uns dias antes ainda o assustava, acabava também dirigindo sua moto rápido demais em direção ao trabalho para diminuir o atraso e já tinha se livrado de uns 3 acidentes por pura sorte, aquilo tudo estava virando sua vida de cabeça para baixo mas ele nem sequer se importava, tudo parecia sumir e ficar mais leve quando ele chegava em casa e via a figura sentada de pernas cruzadas no meio do tapete sorrindo com aquelas covinhas fofas enquanto focava os olhos grandes e verdes mais lindos do mundo em algum desenho qualquer na tv, não queria que a família e Hazza percebessem que ele estava um pouco para baixo então subiu rapidamente dizendo que ia para o banho e se jogou na sua cama fechando os olhos e pensando em tudo.
Seus pensamentos voaram para seu pai que os havia abandonado sem explicação e a raiva misturada com mágoa apossou-se do seu peito, se seu pai estivesse ali ele não teria que se preocupar com empregos ou nada do tipo, ele seria só um cara normal numa faculdade preparando seu futuro, na mente do garoto ele nunca teria um futuro por ter que desistir do mesmo e a culpa era inteiramente do seu pai, antes que se desse conta lágrimas já escorriam por seu rosto.
A porta se abriu lentamente e Hazza enfiou a cabeça pela fresta olhando para a figura largada na cama receoso.
''Louis'' ele disse baixinho atraindo a atenção do mesmo que se sentou rapidamente tentando secar as lágrimas para que o cacheado não visse, mas era tarde demais, Hazza já havia reparado nas vibrações ruins do outro assim que esse tinha passado pela porta da sala.
O maior foi até a cama sentando na pontinha enquanto encarava Louis com um bico.
''Dodói?!'' Ele manteve o bico mas sentiu uma sensação que ele não sabia mas era preocupação, achava que Louis tinha algum machucado ou dor mas se tranqüilizou com o ato do outro de negar com a cabeça.
''Ta tudo bem Hazza, eu só... esquece, você não vai entender mesmo'' riu sem graça desistindo de falar já que Hazza não entendia as palavras, optou por acariciar o ombro do garoto e confirmar com a cabeça enquanto sorria pequeno esperando que o outro entendesse aquilo como um ato de que estava tudo bem.
O garoto de olhos verdes lembrou da cena que havia visto na tv alguns dias atrás e teve vontade de repetir naquele momento, ele queria repetir mas não sabia como então se aproximou desajeitadamente de Louis na cama e apoiou as duas mãos em seus ombros pendendo a cabeça um pouco enquanto pensava no que fazer.
O menor observava a cena curioso sem entender o que Hazza tentava fazer, franziu as sobrancelhas em duvida vendo a expressão pensativa do outro e seus olhos quase saltaram da órbita quando o mais velho se aproximou e encostou seus lábios num ato inocente demais surpreendendo Louis e o deixando sem reação.
Ele, porém, não se afastou, fechou os olhos sentindo os lábios macios de Hazza contra os seus e não ousou aprofundar ou partir o beijo. Hazza se afastou com os olhos tão arregalados quanto os de Louis e eles ficaram assim, se olhando, por pelo menos dois minutos, Louis viu uma faísca de arrependimento cruzando os olhos verdes que ele tanto adorava e ficou com medo de que Hazza achasse que realmente tinha feito algo errado, ele não tinha, Louis definitivamente não achava.
E foi para mostrar isso que ele se apressou sobre a cama deitando na mesma e puxando Hazza para deitar com ele, o garoto foi sem hesitar e ficaram lá, ambos ficaram só deitados sentindo a lateral do corpo de cada um tocando a do outro, olhando o teto estrelado artificialmente.
Louis sorriu ao ver as estrelas se descolando do teto, ele sabia que devia se surpreender com aquilo mas ele não iria, sabia que aquilo vinha de Hazza porque tudo que vinha do garoto o dava uma paz imensa dentro do peito, sorriu mais ainda vendo as estrelas de plástico brilhante girando em volta dos dois, ficou ali observando e acabou caindo no sono com um sorriso gigante no rosto sem nem pensar em tomar banho ou tirar a roupa do trabalho, ele só dormiu, mais tranquilo do que nunca como se a coisa mais importante do universo estivesse ao seu lado.
Hazza ficou muito tempo olhando as estrelas, ele sabia o quanto Louis gostava de estrelas pois sempre via o garoto observando as mesmas, tanto as de verdade quanto as artificiais do seu teto, se ele conseguisse dormiria sempre olhando para o teto brilhante, mas debaixo da cama infelizmente não conseguia ver e lá era o único lugar que se sentia seguro o bastante para fechar os olhos, parecia que Louis o cobria quando estava lá, era mais tranqüilizador dormir sabendo que o outro garoto estava logo ali em cima.
Sentiu seu peito inflar de algo que não sabia o que era, mas era bom, fechou os olhos tocando de leve o braço do garoto ao seu lado e pela primeira vez conseguiu dormir fora do escuro acolhedor que era a parte de baixo do móvel, mas ele sabia que ali estava mais seguro do que nunca, e feliz.

*****
Hazza acordou com o peito doendo, não conseguia respirar e algo que beirava o desespero o estava sufocando, ele olhou para sua mão que ainda tocava o braço do outro garoto ao seu lado e como se numa reação rápida tirou a mesma e se moveu para o lado caindo da cama.
Se levantou rapidamente sentindo o peito queimar cada vez mais e saiu apressado porta a fora saindo também da casa, correu em direção a pequena floresta andando rápido entre as árvores sem se importar com os galhos que batiam em sua pele e causavam pequenos arranhões.
Chegou rapidamente a um círculo perfeito sem árvores que parecia queimado recentemente, lembrou-se da cena de quando caiu ali e sentiu algo molhado em seu rosto, passou o dedo pela lágrima e sentiu seu desespero aumentando ainda mais.
Seu peito doía tanto, ele sabia que era um sinal para ele estar ali, e ele estava, mas porque parecia tão errado?! Não agüentou se equilibrar sentindo seu corpo fraco, caiu sob os joelhos com dificuldade para respirar, nesse momento já chorava copiosamente olhando para o céu em extremo desespero.
Quando viu a luz ali seguindo seu corpo arranhou forças que nem sabia que possuía, se levantou e começou a correr rapidamente sem rumo fugindo da luz que o perseguia, ele só conseguia chorar e correr, ele não podia ir embora, ele tinha que ir mas não podia, ainda não.
Tropeçou em alguma coisa que não pode identificar e caiu rolando em algum tipo de barranco sentindo seu corpo aterrissar brutalmente em algo molhado, depois disso sua visão escureceu e ele não pode ver mais nada.

Above the sky.Where stories live. Discover now