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ANY

A resposta de Noah para a minha pergunta sobre as intenções dele parecia ter saído de uma novela. Era inacreditável que um cara como ele estivesse tão investido em conhecer melhor uma garota como eu. Não que eu não fosse boa o suficiente, mas éramos muito diferentes, de realidades totalmente contrárias. Eu sabia disso porque quando recebi a proposta dele de saírmos na sexta eu estava limpando a privada vomitada do Chikas Lokas.

- Como um cara como esse caiu logo na minha vida? - perguntei para Sabina, enquanto ela trocava de roupa para começar o trabalho e eu guardava o material de limpeza - ele é engraçado, cavalheiro, talentoso, bonito...

- Bom de cama - intrometeu-se Sabina, fazendo meu rosto aquecer. Eu não sabia se Noah era bom de cama, mas desconfiava que um cara com as emoções tão à flor da pele como ele conseguisse se comunicar bem com o corpo. O pensamento fez meu corpo aquecer, o que era exatamente o objetivo de Sabina - brincadeira, eu sei que você tá se guardando para "um momento especial" - disse, fazendo voz de narradora - ele é músico, né? É artista. É normal ele ser sensível - disse, terminando de vestir nosso uniforme curto e apertado - já sabe o que vai falar pro Stan pra não vir na sexta?

- Ainda não. Tirei cinco no meu trabalho de Desenvolvimento, então tô pensando em pedir pra ficar em casa e estudar.

- Numa sexta à noite? - perguntou ela, jogando a mochila embaixo de uma das cadeiras da dispensa - nem eu acreditaria nessa.

- Eu não posso fazer que tô doente de novo ou simplesmente não aparecer - expliquei, sem saber como arrumar tempo para trabalhar e estar com Noah - eu sei que semana passada vieram três garotas aqui entregar currículo, então não falta gente pra pôr no meu lugar - falei, suspirando - e infelizmente eu preciso do trabalho.

- Se precisa do trabalho, o que tá fazendo conversando na dispensa? - perguntou Stan, aparecendo de surpresa. Eu podia jurar que ele queria pegar Sabina se trocando quando fez aquilo - já pro salão!

- A Any precisa falar com você - disse Sabina, dando um tapinha no meu ombro e saindo da dispensa.

Arregalei os olhos, nada pronta para pedir folga numa sexta à noite. Eu não tinha ensaiado nada e não fazia ideia do que dizer.

- O que você quer, mala? - perguntou ele, passando a mão nos cabelos oleosos.

- Preciso ficar em casa na sexta. Tirei notas muito baixas na primeira parte do semestre e preciso estudar. - Fiz uma cara triste. - Eu não posso repetir, Stan. Perco minha bolsa se eu não passar.

Passei a mão no braço dele, vendo-o acompanhá-la com os olhos e depois olhar com ternura para mim.

- Poxa... - Ele fez bico, tremendo o lábio inferior. - Foda-se - falou, caminhando para longe.

- É sério! Eu vou reprovar!

- Não é problema meu. Você não passou mal no domingo? Por que não estudou? E outra: meu restaurante não pode sofrer porque você vai reprovar. Se não dá conta, me avisa que contrato outra - disse, sumindo no salão.

Respirei fundo, sentando no chão sujo da dispensa.

"Error 404", escrevi para Noah, "meu chefe não vai me liberar na sexta", expliquei, certa de que ele logo ia perceber que minha vida era bem complicada.

"Que merda...", respondeu ele, alguns minutos depois. "Dei uma olhada no 'Manual Da Vida Adulta' e parece que trabalhar sexta à noite é normal mesmo", escreveu, me fazendo sorrir e ter certeza de que pensaríamos numa solução. "Vou tocar no evento beneficente da minha mãe na sexta à tarde, mas a gente pode almoçar depois", sugeriu ele. "Eu te busco na faculdade e a gente passa rapidinho no evento. Depois a gente almoça junto e eu te deixo no Chika Maluka".

A Vida é Dura Pra Quem é Any || Adaptação Noany Onde histórias criam vida. Descubra agora