ÚNICO

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James Potter, 23 anos. Formado em publicidade e propaganda, fotógrafo nas horas vagas apreciador assíduo de forró e portador de um grande medo do escuro.

Noite de sábado chuvosa, James estava tomando vinho ao som da sanfona de Dominguinhos quando tudo ficou escuro.

A princípio achou que estava cego, e começou a entrar em pânico. Em João Pessoa fazia até que um frio razoável (se for comparar com os dias de inferno ensolarado) ele portanto, devido ao pânico que o invadiu teve que retirar a camisa que estava vestindo, ou ela pingaria gotas de suor.

Sua respiração estava pesada, e na sua mente um milhão de pensamentos rolava, mas lembrou-se que o seu aparelho celular estava a mão e ligou ele. Quando a claridade da pequena tela alcançou seus olhos ele não pode deixar de suspirar aliviado por está enxergando, mas o medo não parou por aí.

Ele se lembrou que estava sozinho em casa, em um dia de chuva e no escuro.

Seu primeiro instinto foi ligar a lanterna e desligar a música , já que pra ele não fazia mais sentido está ligada, não conseguia aprecia-la. Fez inúmeras técnicas de respiração, mas nenhuma estava funcionado, o que James precisava mesmo era da companhia de alguém, não conseguiu pensar em ligar para ninguém, já que a única pessoa que veio a sua mente foi a sua vizinha.

[...]


Ela estava estranhamente a espera de James  em frente a porta de sua casa, James sorriu com isso, mas antes de dizer algo, ela já foi falando.

—Estava só esperando o momento em que viria até mim, só não estava esperando te encontrar sem camisa Potter—Ele ainda estava com medo, mas não pode deixar de soltar uma risadinha envergonhada para a ruiva—Se você tivesse demorado mais um pouco eu arrombaria a porta.

—E por que achou tanto que eu procuraria você?—Foi a vez dela sorri, e convida-lo para entrar—Está convivendo demais comigo, Lírio. Se tornando convencida assim.

Ela o convidou para entrar, sem antes sorrir de orelha a orelha.

James percebeu que o apartamento de Lily estava cheio de velas, e suspirou aliviado por não está mais na escuridão total.

—Que cheiro é esse?

—Velas aromáticas—Ao perceber que ele estava a olhando prestes a gargalhar ela acrescentou:

"Você morre de medo do escuro e nem por isso eu estou te julgando, deixa minhas velas de velha quietas."

—Oxe, eu não falei nada, doida.—ela deu um soco de leve no ombro dele.

—James?

—Oi?—Ele se sentou no sofá, ainda estava internamente com pânico do escuro, há muito tempo não havia tido um blecaute.

Ela sentou-se ao lado dele. Desde que tinha se mudado de São Paulo para a Paraíba,  Lily Evans se sentiu estranhamente sozinha, como é psicóloga sabe quais são as consequências da solidão, seu vizinho irritante ajudou a superar isso, mas ela nunca conseguiu conversar sobre o medo dele. Lily sabia que James dormia com a maioria das luzes ligadas, e que no seu quarto o abajur estava sempre ligado, e que ele tinha lanternas em algumas gavetas, mas em momentos como esse ele não conseguia raciocinar direito.

—Por que você tem tanto medo do escuro?—Ela segurou a mão dele.

—Eu...isso é dificil—Ele encarou o rosto da ruiva, que estava iluminado por uma vela aromática roxa.

—Não vou te obrigar a contar, conte apenas se desejar. Mas saiba que eu desejo te ajudar, de verdade.

—Não banque a psicóloga heroína, Lily Evans—Ela riu pelo nariz.—Sabe Remo?

Ela concordou, conhecia muito bem os três melhores amigos de James, até porque, a sua melhor amiga namorava um deles. Os marotos como costumavam se chamar Sirius, Remo, James e Pedro, conseguiram tirar a paciência de Lily em pouco tempo de convivência, mas com 3 anos convivendo, ela consegue aguenta-los sem cometer um crime.

–Já percebeu que ele tem uma cicatriz enorme no rosto?

—Sim, sempre me perguntei o motivo dela, mas achei indelicado perguntar—Ele concordou.

—Tudo começou quando o pai de Remo se tornou prefeito da cidade em que morávamos, algumas ideais deles eram contra o que algumas pessoas pensavam...—James respirou fundo e Lily apertou sua mão—A casa dele era toda cheia de alarmes, eu sabia disso pois nós quatro sempre fomos amigos, e geralmente brincávamos lá.

—James, não precisa contar se não se sentir bem!

—Pra falar a verdade, eu necessito contar isso pra alguém, até hoje meus amigos não sabem do motivo do meu pavor de escuro.—Ele se endireitou onde estava sentado, e aproveitou para tirar os chinelos—Um dia, uns rebeldes resolveram que para punir o prefeito, precisava castigar o filho dele.

Lily arfou e levou a mão a boca, percebeu que os olhos de James estavam marejados.

—Eles conseguiram cortar a energia da cidade inteira a noite, para ninguém poder vê-los, alguns saíram jogando pedras nas casas dos amigos do pai  de Remo , inclusive na minha. Mas o pior aconteceu a ele—era doloroso ter que lembrar disso, ele ficou mexendo na almofada do sofá, se olhasse para Lily ele provavelmente desabaria.
"Invadiram o quarto de Aluado para mata-lo Lily, eles rasgaram com uma faca os braços dele, mas só quando chegaram no rosto ele...quase morreu, o prefeito ouviu o grito do filho, conseguiram salvar ele, mas as marcas psicológicas tanto na mente dele, quanto na minha ficaram para sempre."

Lily abraçou James com tanta força, que ele conseguiu sentir seu coração  e o dela bater sincronizado.

—Tudo aconteceu no escuro, por isso eu tenho tanto medo...

—Não precisa ter vergonha disso James, sempre há um motivo atrás do medo, e o seu é totalmente compreensível, me desculpa por ter perguntado—Lily sentiu que James se lembrou que não só o prédio estava sem luz, a cidade inteira estava e para acalma-lo resolveu fazer a primeira coisa que deu em sua mente.—Vamos dançar!

Ela se levantou e deu sua mão a ele, ele a encarava sorrindo.

—Você é doida, completamente—ele se levantou.

—Você não merecia lembrar de tudo isso, principalmente agora que não tem luz!

—Não vamos pensar nisso ok?—Lily balançou a cabeça em concordância—Quer dançar o que Lily?

—Que tal você me ensinar a dançar forró?

James teve a ousadia de dar uma gargalhada.

—O que foi?—ela perguntava indignada—Eu escutei você escutando Dominguinhos, James, o que até hoje eu não entendo...

—Não entende o que? —Ele perguntou.

—O fato do seu nome ser James Potter. É muito gringo para se ter na Paraíba!

—Meus pais são ingleses, nasci aqui, eles sempre quiseram o nome James, ficou esse, mesmo não morando mais na Inglaterra, mas o seu também é muito gringo para o Brasil, Evans!—ela sorriu sem mostrar os dentes.

—Herdei meu sobrenome da Itália, meus avós eram italianos!—Ele concordou e pegou o celular para colocar algum forró clássico, para ensinar uma pequena Evans a cultura nordestina.

—Sabe, forró se dança agarradinho—Lily arregalou os olhos e ficou vermelha do pé a cabeça, mas o que surpreendeu James foi o sorriso malicioso que brotou em seus lábios.

—Não seja por isso, me ensine e dançaremos—Lily deu uma piscadela e ele pode sentir suas entranhas se derretendo com um simples gesto.

James colocou o primeiro forró de sua playlist, Destá de Dorgival Dantas, tomou a mão de Lily para si.

—Pense em uma valsa com gingado—ela pôs os braços nas costas nuas de James, as borboletas em seu estômago ficaram mais fortes ainda—Deixe a música fluir sobre seu corpo, o segredo do forró é você ser solta!

—Ok

[...]

Ele tentava conduzi-la, mas foi em vão, algumas horas Lily se embaralhava e não acompanhava o ritmo de James.
Ele pausou a música quando estava na metade, e Lily olhou para ele segurando a risada.

—Eu sou péssima nisso!—ela havia amarrado o cabelo, agora que começaram a dançar, o calor das velas e o fato de estarem se movimentando fizeram com que Lily estivesse pingando suor.

—Você só não mexe a cintura direito—Ele puxou Lily mais para perto, e segurou na sua cintura—Posso?

Ela estava estarrecida, conseguiu balbuciar um "hã, ugr claro", enquanto ele segurava em sua cintura e conduzia os movimentos corretos. Lily sentiu seu corpo relaxar e seguir o fluxo da música (agora, não mais pausada)  do mesmo modo que ele havia dito que era para fazer. Colocou as mãos na costas dele.

Lily passou a encarar James, e percebeu que o sorriso dele estava cada vez maior, talvez ele nem se lembrasse que estava na sala de sua vizinha, em pleno blecaute.
Ele girou ela de modo que seus cabelos se desprenderam, ela soltou um gritinho de susto, e quando ele pegou novamente na cintura dela escutou ele sussurrar na sua orelha as seguintes palavras:

—Prefiro seu cabelo solto—ela poderia argumentar com ele, de que ele não teria que preferir nada, já que o cabelo era seu, mas a voz de James estava ali bem em sua orelha, Lily ficou sem palavras, parecia um peixe fora d'água, sem contar que não deu tempo de responder já que a música foi trocada e eles pararam.

James não soube o que deu nele naquele momento (na verdade ele sabia, já que não era a primeira vez que sentia vontade de beijar Lily), mas quando ela saiu da posição da dança, visivelmente afetada pelo que James havia dito, a única coisa que passou por sua mente foi BEIJE-A

E foi o que ele fez, quando ela deu as costas, ele a puxou pela mão e deu-lhe um beijo urgente, como se há dias eles necessitassem desse beijo, o que não deixava de ser verdade, perderam e recuperaram o fôlego inúmeras vezes, estavam aprofundando o beijo, quando a energia voltou.

Eles se olharam, estavam suados, no meio da sala, James sem camisa, Lily descabelada, lábios inchados e pés descalços.

E a primeira coisa que fizeram foi rir, na verdade gargalhar daquela situação, depois do momento cômico passar, eles se encararam, mas quem quebrou o silêncio foi Lily.

—Precisava de um blecaute para nós finalmente nos beijarmos?—James encostou a testa na dela.

—Parece que ambos esperavam por esse momento desde sempre né?—ela assentiu—Acho que eu vou deixar de pagar a luz da minha casa, para poder te beijar mais vezes!

—Não será preciso!—e puxando o rosto de James com as mãos, Lily o beijou.

O segundo beijo, de uma vida inteira deles!

Notas:

Fanfic escrita para o projeto Jilytober.
Se passa na Paraíba.
Espero que tenham gostado.

Blecaute and Dancing - JilyWhere stories live. Discover now