Capítulo 2

251 36 18
                                    

Ótimo, em uma semana eu havia arranjado outro encontro. E não com qualquer cara, mas com o atual artilheiro do campeonato interescolar de futsal. E, devo frisar, que ele também é bem bonito. Cabelos castanhos, com cachos, 1,75m de altura... realmente bem bonito.

E já que ele parecia tão interessado... por que não tentar, não é? Afinal, não é isso que eu sempre faço?

Eu sei que não sou nenhuma mocreia nem nada assim. Tenho 1,66m, cabelos castanhos abaixo dos ombros - e eu até parei de fazer chapinha há um ano - e todos sempre disseram que meus olhos cor de mel são lindos. Então, eu realmente não posso reclamar de problemas com garotos. Bom, pelo menos, não pela falta deles.

Enfim, quando a fofoca - que, vou te dizer, é uma coisa que não falta por aqui e que é bem chato, muito mesmo - de que eu ia sair com o Gabriel se espalhou pela escola, a Carla não era mais a única olhando furiosa para mim. O Ruan também estava.

— Drica, ele estava lá me fulminando com o olhar a aula inteira! Até parece que eu o estou traindo!

Nós estávamos sentadas na calçada em frente a minha casa. O sol estava brilhando no céu azul quase sem nuvens. E a gente estava aproveitando este sol enquanto eu ainda esperava meu trabalho de Literatura se fazer sozinho.

— Vai ver ele realmente acha que vocês... — De repente ela parou de falar e ficou boquiaberta, na verdade, ela parecia hipnotizada — Quem... é... ele?

Acompanhei a direção de seu olhar. Do outro lado da rua, um Ford Ka vermelho estacionara. Do carro, descia um garoto. 1,80m de altura, com o rosto voltado para o sol, ele tirou os óculos escuros e passou os dedos pelo cabelo cor de cobre.

Eu também senti meu queixo cair, mas não pude evitar. Uma mulher também desceu do carro, mas minha atenção ainda estava fixa no garoto, que agora se virava, deixando ver que sua pele era impecável, sem uma única mancha, sarda ou sinal de nascença e um rosado muito leve — parecia calculado para apenas dar um charme.

O fato dele estar tirando malas aparentemente bem pesadas do porta-malas do carro, somados aquele cabelo ruivo me fez puxar a Drica pelo braço — sem tirar os olhos dele, claro. Eu não podia perder nenhum segundo daquela visão — Com toda força e falar totalmente histérica:

— Drica, eu acho que aquele é o Viny!

— Impossível...

Mas se era tão impossível, então por que a dona Marli e o seu Geraldo saiam de casa tão animados para receber as visitas? E por que as malas estavam sendo carregadas para dentro da casa? E por que o cara pareceu reparar em nós apenas por alguns instantes e lançou um olhar bem indiferente?

Certo, então, eu me arrependo de coisas que fiz na infância. E daí? Quem se envergonha de alguma coisa que fez quando era criança levanta a mão.

Eu me arrependo de ter sido fã de RBD — lembra, o grupo musical da novela Rebelde? —, me arrependo de ter dançado É O Tchan em público — e é incrível como sempre que fazemos algo vergonhoso em uma festa de aniversário, tem alguém filmando para guardar para a posteridade o mico — e me arrependo profundamente de ter zoado com a cara do meu vizinho da frente — como eu ia adivinhar que ele ia ficar tão gato?

Mas talvez eu esteja sendo exagerada. Vai ver que é impressão minha e, na verdade, ele não olhou para nós com frieza. Qual é, foram cinco anos desde que ele foi zombado por qualquer um nesta cidade. Ele nem deve se lembrar disso — claro, do mesmo jeito que eu esqueci as coreografias do É O Tchan em festas de aniversário...

E, na verdade, por que eu estou tão preocupada com isso? Eu e meu vício em garotos...

**********

Sendo os meus pais os donos do restaurante mais badalado da cidade — se é que pode-se chamar alguma coisa de "badalado" neste fim do mundo — você deve imaginar que eu ganho uma mesada bem bacana, não? Bem, isso não acontece. Não mesmo.

Toda a minha economia desde o início do ano é para gastar com roupas novas para o inverno. O único gasto que eu não consigo controlar por mais que tente é com esmaltes. Ok, você já pode colocar os esmaltes na minha lista de vícios. Garotos e esmaltes.

Para ajudar na minha missão de juntar grana para o guarda-roupa de inverno, eu deveria mesmo começar a cobrar para ir em festas de debutante. Não para ir apenas como convidada, mas para ser uma das garotas e garotos que formam os quinze casais e dançam a valsa junto com a aniversariante.

O negócio é que eu já fiz isso tantas, mas tantas vezes que perdeu a graça há anos. Todas as garotas da cidade, sempre que decidem fazer aquela tradicional festa de quinze anos me chamam para dançar a valsa.

Eu nem quis festa de aniversário como passado — para você ver o tamanho do meu desgosto. Se existe alguma vantagem? Claro. Eu sempre posso escolher o garoto mais bonito para dançar comigo — eu nem fiquei com todos esses garotos; apenas com alguns. Em compensação, você nem pode imaginar a dezena de vestidos horrorosos que já fui obrigada a usar.

Desta vez, a Daniela, filha da melhor amiga da minha mãe, vai fazer quinze anos. E, adivinha só, me convidou para ser uma das quinze garotas que dançarão aquela valsa estúpida.

Eu sei, você deve estar se perguntando porque simplesmente não recuso o convite. A verdade é que minha mãe adora esse negócio e eu faço somente para agradá-la, sinceramente. E sendo a aniversariante da vez tão próxima dela, eu não posso mesmo me recusar.

O único problemadesta vez, que eu não tive nos outros é que não tenho nenhum par. Isso aí, aDaniela não conseguiu convidar quinze garotos — provando que ela realmente não é popular. Pelovisto este é um problema pare eu resolver sozinha, por minha própria conta.    

Incontrolável MenteWhere stories live. Discover now