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Quanto mais o Jimin demorava, mais ansioso eu ficava. Fiquei lutando contra a minha mente, que lá no fundo tava sussurrando que ele não gostava de mim. Mas eu também pensei que era bom ele demorar. Eu acabei acalmando meus pensamentos com aquele tempo e no fim, concluí que eu ia acabar misturando as coisas se ele fosse dormir lá mesmo. Eu não tava pronto pra ficar com ele do meu lado. Eu ia mostrar logo o meu pior pra ele antes de a gente começar? Era até bom que eu pudesse ficar um pouco melhor antes de a gente ficar juntos. Jimin deixou bem claro que tava me dando só aquela segunda chance. Não tinha terceira chance e no fundo, eu sabia que eu tinha que estar bem pra dar o melhor de mim praquela relação que eu tava querendo muito que desse certo, ainda mais porque ele se mostrou tão compreensivo e paciente comigo. O que eu imaginava aconteceu e o Jimin não voltou. Ele me mandou um áudio se explicando. No fundo tava tocando uma música triste, acho que era Maria Betânia. A voz dele tava meio séria e chorosa.

"Yoongi, eu acho melhor eu não ir aí não. Eu conversei com os meninos sobre tudo que você me falou, e também pensei melhor. E... você tem as suas questões pra resolver que vão tomar tempo. Se eu for aí, eu posso forçar você a fazer uma coisa que você pode não estar pronto pra fazer. E eu nem tô falando de sexo, tô falando mesmo de beijo ou de só me aproximar demais sem você estar pronto e resolvido com a sua ansiedade. Você disse que queria ficar comigo antes, mas por causa dessa sua questão psicológica você ficou relutante e sem ação e acho que você precisa mesmo de tempo. E eu também, porque eu tô cheio de vontade mas você claramente não tá no clima. Desculpa por insistir em te beijar hoje e... eu fiquei bem feliz que você tenha admitido que gosta de mim, de verdade. Não por orgulho nem nada, mas é que... é muito bom ser correspondido, ainda mais por um crush de quase quatro anos que eu nunca pensei que ia desenrolar. Eu vou esperar você se recuperar, tá? E aí eu quero você de novo, mas mais parecido com o que você era antes: cheio de vida até pra brigar comigo, e tomando iniciativa pra me beijar, porque você não consegue resistir a mim... Haha! Hum... é isso, gatinho... se cuida no seu tempo, tá? Um beijo!"

E depois ele ainda mandou uma mensagem assim "O Hobi foi pra casa do Teco e disse que se você não quiser ficar sozinho, ele passa na sua casa na volta e pode até dormir aí, se você precisar."

Bem, Jungkook, como deu pra perceber, o Jimin é mesmo um fofo, adorável, e tinha toda razão. Eu pedi comida, almocei tarde e dormi a tarde inteira, acordei pra arrumar a minha mala pra ir pra Ipatinga no dia seguinte e o Hobi passou pra ver se tava tudo bem, já de noite. Ele trouxe mini-pizza congelada da casa do Tae e a gente assou e comeu. A gente conversou e ele se convenceu que eu tava bem pra dormir sozinho mesmo.

No dia seguinte eu aguei as plantas do Namjoon que tavam ressecadinhas que só, mas ainda não tinham morrido. E aí eu fui pra rodoviária ainda de manhã, peguei finalmente o ônibus pra Ipatinga e no fim do dia cheguei em casa. Mainha me recebeu com minhas comidas favoritas e me mimou bastante, passou a semana inteira fazendo tudo que eu disse que sentia falta de comer, e me levou duas vezes na psicóloga, a mesma que eu tinha ido quando criança e adolescente.

Na primeira sessão, contei tudo que tinha rolado e como eu ter visto o instagram do Jimin acabou desencadeando em mim aquela crise, a gente discutiu umas estratégias pra eu lidar com aquilo, mesmo que tenha sido uma situação bem mais sutil do que as outras vezes. Antes eu chegava a passar mal, daquela vez eu só me escondi de tudo mas até consegui fazer algumas coisas de novo, bem rápido, tipo ir jogar basquete. Eu falei também do que rolou depois, na escada do meu prédio, e aquele quase beijo com o Jimin. Ela pediu pra eu pensar melhor sobre o que tava sentindo por ele e eu tinha que refletir o que queria e conseguia fazer pra manifestar o afeto que eu tava sentindo por ele sem deixar a ansiedade causada por aquela sensação de ser insuficiente me paralisar de novo. Na outra sessão a gente falou muito sobre o Jimin e sobre mim e a ideia de que eu não sou digno da atenção dele. Claro que eu ainda sinto algumas coisas tipo essas de vez em quando, mas aí eu resolvo lembrando do que o Jimin me disse: eu só tinha mais uma chance e eu não queria jogar ela fora. Eu voltei pra casa já mais confiante, mais tranquilo, e com a recomendação de procurar uma psicóloga aqui perto, pra me ajudar a lidar com essa e outras questões que eu ainda ia ter que lidar. 

Tipo meu pai, que me ignorou o tempo todo que eu tava em casa. Dessa vez, pelo menos, a gente não brigou e eu sei que tudo isso é mérito da mediação que a minha mãe fica fazendo entre a gente. Eu não queria sobrecarregar ela assim, porque o problema é entre eu e o meu pai, mas parece que era o único jeito de a gente seguir parecendo uma família. Pra ela isso tem uma importância, sabe? Ela também parece amar muito ele e os dois se são bem. Meu irmão segue sendo o filho preferido e o que mais me dói é que talvez se ele nunca tivesse me pego com aquele menino eu ainda poderia me sentir amado por ele. Mas em algum momento ele ia descobrir. Mesmo se eu só namorasse com mulher depois daquele cara, eu não queria esconder aquele lado meu de ninguém, muito menos das pessoas que eu amava. O que é que tem eu gostar de um cara também? Beijar, transar, namorar, amar? Bem, eu precisava mesmo de uma psicóloga pra lidar com isso. Eu tô quase me formando e se eu não passar no processo seletivo do mestrado, como eu quero, é bem capaz que eu vou ter que voltar pra casa e aí como vai ser encarar meu pai dentro de casa? Vai ser bom eu me preparar pra isso, e mesmo se eu não voltar pra casa, eu vou ter que enfrentar essa desavença em algum momento.

Então, como eu falei, eu voltei pra casa mais confiante e depois de deixar o Namjoon a par de tudo, porque o bichinho ficou mesmo preocupado comigo, minha primeira providência foi procurar um psicólogo ou uma psicóloga. Minha mãe disse que ia pagar uma sessão por semana pelo tempo que fosse preciso. Eu passei a semana pondo em dia a matéria que eu perdi na semana anterior, procurando ajuda profissional, ligando pra saber os preços e as linhas que eles seguiam e ainda voltei a trabalhar. O Namjoon ainda tava me devendo umas faxinas então eu fiquei mais tranquilo, ele até cozinhou e o macarrão dele tava melhor! Eu pensava o tempo todo no Jimin, mas não tive tempo de dar atenção pra ele.

Mesmo sem se falar muito, a gente trocou mensagem o tempo todo, e eu fui conhecendo mais sobre o dia-a-dia dele, fui aprendendo como ele via o mundo e as coisas que estavam acontecendo. Tudo que eu descobria me fazia ter mais vontade ainda de ver o Jimin de novo. Ele tava ocupado também, organizando algum evento do coletivo LGBT+ da faculdade. Acabamos deixando pra gente se ver no sábado.

Uma das amigas do Namjoon ia se apresentar no Centro Cultural Feminino, num espetáculo de dança do ventre, e ela deu uns ingressos pro Namjoon. Só que o Namjoon não queria ir. Na semana que eu passei em Ipatinga ele saiu com uns amigos do curso dele, parece que teve um samba na Rua da Zona e ele viu o Seokjin lá num date com uma menina que inclusive também faz parte desse mesmo grupo de dança. Cidade pequena é assim, credo! O Jin é famosinho né, até porque ele já ficou com a cidade inteira, e os amigos do Namjoon comentaram que pra ele estar saindo num date assim ele devia estar ficando sério com a tal menina. Aquilo destruiu o Namjoon e eu até imagino ele saindo mal do rolê, que nem ele saiu da festa, no dia que eu conheci o Jimin. E ele não queria correr o risco de encontrar com o Jin lá dando apoio pra namoradinha dele ou seja lá o que tava rolando entre ele e a menina.

Bem, os ingressos foram parar na minha mão e quando contei pro Jimin, ele adorou a ideia. Ele amava dança e curtia muito esse lance de valorizar os artistas locais e os grupos pequenos.

A gente ia se encontrar no sábado a noite pra ir nesse espetáculo, né? Mas você acredita que acabou nem rolando?

Feito cão e gato | YoonminWhere stories live. Discover now