❄️ gyeoul ❄️

486 91 217
                                    

GYEOUL

Seul, sexta-feira, dezembro. O sino indicando o fim da aula já havia tocado duas vezes, pelo pátio, gelo acumulado nos canteiros, sobre as calhas, em montinhos pelos telhados, brilhando a luz do céu que já se prepara para a noite. Caras como eu adoram o frio, podemos usar roupas grossas, é sempre mais confortável. O grande problema é que, todos meus casacos, são de marca.

Diferente dos casacos de outros rapazes da turma, não é possível esconder minhas origens. Filho de político, mãe famosa, sapatos de linha, mochila nas costas de uma marca exclusiva, nada foi escolha minha.

Única coisa que nos deixa únicos é o uniforme que meu casaco cobre.

Todos andavam, pelo corredor ao meu lado, frente e atrás, conseguia ver bem, sou um dos mais altos da escola, mesmo tendo apenas dezessete anos.

— Você vai de carro hoje?

— Uau, ouvi dizer que vai nevar muito hoje...

— Porque ele anda tão devagar?

Tantas conversas aleatórias, ao meu redor, altas, incômodas, infelizmente esqueci meus fones de ouvido e meus amigos foram embora na minha frente, alegando um compromisso no shopping, esse que eu não posso ir.

Com as mãos nos bolsos, parei na calçada e observei todos entrando em carros, ou pegando suas bicicletas para irem embora. Do outro lado da rua, um raio de sol teimoso que passou uma das nuvens cinzas, iluminou o motivo de eu dispensar o motorista nos últimos meses.

Como um kimbap, sentado no banco esperando seu ônibus, com as mãos entre as pernas, está ele. Enrolado em roupas negras, sempre as mesmas, tênis velhos e gastos, uma touca sobre a cabeça e o casaco fechado até a boca, suas bochechas pálidas e fofas estão rosadas e o nariz redondo com a pontinha da mesma cor.

"fique longe dele, ele não é muito amigável" diziam alguns, então eu respeitei seu espaço. Imaginei que não é amigável por não gostar de socializar e não posso julgar, nessa escola, bolsistas costumam sofrer com a segregação.

Mesmo que branquinho como uma porcelana, e com um sobrenome de respeito, dizem que sua origem é humilde.

Eu devo ser idiota, por estar aqui do outro lado da rua, parado, olhando para alguém que quer ninguém e nada, alguém que nem sequer me olha.

Deve pensar que sou como os outros ricos e mesquinhos.

"Ele parece uma balinha de goma." Também ouvi uma das meninas do segundo ano comentar. Sim, ele parece rosa.

Seus lábios são, sei que são, pois ele é da minha turma, já o vi com o rosto descoberto e cabelos sem touca, negros e lisos, parece um boneco pintado a mão por uma hábil artesã coreana.

Quando fiquei tão romântico... talvez eu sempre tenha sido.

O sol sumiu aos poucos e tudo começou a ficar mais frio ainda. Mais do que ontem, e senti no meu nariz um floco de neve cair. Algumas meninas se apressaram para cobrir os cabelos com toucas, outras com capuz e eu fiquei ali, parado, quente nas minhas vestes caras, vendo que Kimbap está com mais frio.

Seu nariz está vermelho...

Senti pena dele, é pequeno e magro, mesmo que bochechudo, e só usa um casaco e uma touca além do uniforme. Coitado, esfregava uma mão na outra.

— Seokjin-hyung — uma voz me fez virar, é meu amigo alto Namjoon. O chamo assim, já que é o único que tem quase meu tamanho. — Que frio do caralho.

— É, tá mesmo... — respondi sem tirar meus olhos do menor. — Acha que ele está com muito frio?

Namjoon sabe que eu faço isso todos os dias, saio da aula e fico olhando o rapaz do outro lado da rua. Min Yoongi, o Kimbap.

gyeoul | yoonjinWhere stories live. Discover now