Capítulo V

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Pesadelos são terríveis. Eles lhe fazem querer gritar e chorar, pior ainda quando eles vazam. Existe um transtorno do sono conhecido como paralisia do sono. É um breve momento em que parte da sua consciência acorda antes do seu corpo. Você fica paralisado exceto por seus olhos. Isso acontece, pois existe um mecanismo de defesa em nosso corpo nos impede de se mover durante o sono - de correr durante o sonho por exemplo – e esse mecanismo ainda está agindo sobre você mesmo que sua consciência esteja desperta, e por segundos, no máximo três minutos você permanece ali imóvel.

No entanto essa definitivamente não é a pior parte. Muitas vezes durante esses momentos de paralisia do sono você vê coisas, sente coisas, e ouve coisas que não são reais. Coisas vazadas de seus sonhos. Essas coisas parecem tão reais que muitas vezes são confundidas com espíritos e entidades. Quando você vive em um mundo normal, sem estar constantemente assombrado pelo sobrenatural a explicação científica para essas coisas é totalmente aceitável. Entretanto, quando você é uma quimera, vive em seu próprio carro e em uma cidade repleta de seres sobrenaturais é difícil pensar naquilo a sua frente como apenas um resultado de um pequeno distúrbio no seu sono.

Quando se é Theo Raeken é difícil acreditar que aquela garota – sua irmã – que pressionava a mão sobre seu peito e chamava seu nome não era real. Era difícil acreditar que era apenas um sonho ruim vazado, pois ele mesmo tinha experimentado a sensação de ter seu coração constantemente arrancado – e ainda que ele tivesse tido o merecido por suas atitudes – era doloroso aceitar que sua vida seria sempre repleta daqueles pesadelos vazados que pareciam extremamente reais.

Theo tentou fechar os olhos, tentou não ver, tentou não ouvir, tentou não sentir os dedos da irmã pressionados contra a região do seu coração, mas era impossível. E mesmo que isso acontecesse em questão de segundos, parecia muito mais do que isso, parecia se estender por longos minutos até que seu corpo fosse capaz de reagir.

Nos primeiros segundos que você desperta de um pesadelo você se sente atordoado confuso e muitas vezes com medo. Quando você desperta de pesadelos quando é criança é normal que você acorde chorando ou gritando, é normal que você corra para os seus pais. Pois, espera-se ao menos que eles te abracem e te mostrem que está tudo bem e foi só um sonho ruim. Quando se cresce um pouco não há mais choros, é normal que se acenda a luz, talvez beba um copo da água e tente se distrair, tente esquecer. Mas, esse tipo de sonho, esses sonhos que vazam te fazem sentir necessidade de contato, necessidade de sentir-se real. Gera uma necessidade de contato com outras pessoas, um abraço, um afago, algo que lhe faça sentir-se mais calmo, algo que clareie seus pensamentos. E naquele momento aquilo era tudo o que Theo não tinha.

Temer seus pesadelos – ou ainda a paralisia do sono para Theo - não é um exagero é uma reação involuntária. Você pode sentir o terror tomando conta, senti-lo correr por sob sua pele, você se sente amaldiçoado, você pensa que ainda está sonhando e no fundo você gostaria que fosse apenas um sonho e que aquela sensação não fosse tão real. Real ao ponto de deixar-te com medo de dormir. Theo conhecia tão bem aquela sensação, conhecia como a palma de sua mão desde o inferno. Sabia o que era aquele terror tomando conta e como ele gostaria de poder quebrar o círculo.

Se por acaso fosse questionado Theo não saberia dizer como havia chegado até ali. Seus pensamentos estavam tão confusos, embaçados e estranhamente lentos. Ele estava transtornado por conta do pesadelo e talvez por isso ele decidiu apenas seguir seu instinto. Naquele momento talvez aquela houvesse sido uma das decisões mais questionáveis de sua vida e apenas percebeu onde estava segundos depois de parar o carro. Ele já estivera ali mais cedo, algumas horas atrás deixando o beta de Scott em casa.

Theo suspirou e pela primeira vez nos últimos dias cedeu completamente ao cansaço mental. Ele sabia que merecia tudo aquilo, talvez mais, ele se arrependia agora. No entanto ainda era difícil aceitar todas as consequências. Theo continuava querendo ir embora, porém ele sabia que não adiantaria nada, seus problemas o seguiram para qualquer lugar que o mesmo fosse, e talvez o seguissem para toda a vida sendo assim decidiu que ficaria, ao menos por enquanto.

I'd Die For You - ThiamWhere stories live. Discover now