14 | Armadilhas

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Subo as escadas cuidadosamente e ando pelo corredor na ponta dos pés

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Subo as escadas cuidadosamente e ando pelo corredor na ponta dos pés. Sei que minha mãe só fez isso pois Hassan está dormindo, não por mim.

Abro porta do quarto devagar e a fecho mais ainda. Pulo na cama e suspiro de alívio, muito mais confortável do que um banco de carro. Embora tenha dormido mal - ou mal dormido - não consigo me desligar. Há muito barulho, mesmo que a casa esteja em completo silêncio.

Estou furioso. Quando cheguei, não era muito mais que meia noite. Hassan estava na sala, provavelmente me esperando, então antes que eu pudesse dar um passo, olhou o relógio e me mandou para fora. Embora saiba que nada disso é por causa do horário, apenas usa essa desculpa para direcionar a raiva irracional.

Pelo o menos Sky me fez companhia.

Algo nela me faz lembrar de Luke. Talvez a maneira como ouvimos músicas no carro sem nos preocupar com o externo. Infelizmente as coisas com Gray não acabaram muito bem, o que faz me sentir um pouco culpado por me envolver com Skyler. Já deixei bem claro o que quero, para nunca mais acontecer o mesmo.

É solitário.

Não sei o que me fez ir até sua casa depois. Foi uma sucessão de eventos. E quando vi que não estava com o resto dos amigos na Mel's, me preocupei. E para piorar, lembrei. Merda, já era quase meia noite, porque tive que lembrar?

Sai correndo da mesa, querendo gritar. Depois de ser trancado da minha própria casa, não sabia o que fazer e dei voltas e mais voltas de carro. Não queria parar nunca mais. Poderia cruzar a fronteira, poderia me perder. E o que me fez voltar, não foi o pouco combustível do jeep ou meus pais, mas sim Skyler.

Não queria mais ficar sozinho. E parte de mim também não queria deixa-la sozinha.

                           ✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

Acordo com o cheiro do almoço. Consigo sentir o aroma de carne e minha barriga ronca pela fome. Se há uma única coisa que não posso reclamar aqui, é da comida de minha mãe.

Quando desço as escadas, vejo Hassan, Celina e Hailey à mesa. Eles não conversam. O clima, já tenso, pesa toneladas assim que pego um prato e me sento na cadeira. Pelo jeito que me olham, sinto que estou sentado no lugar de outra pessoa. Como se houvesse alguém invisível ali, e eu não pertencesse.

Levo o prato para perto da primeira panela, o qual que restou alguns grãos de arroz grudados pela superfície queimada. Respiro fundo e me direciono para a outra, vazia, sem indício do que havia lá. E por fim a travessa com os bifes estão ocupadas apenas por pedaços de gordura. Olho para todos com os olhos cerrados.

Meu coração dispara de raiva. Sei que posso fazer outra comida para mim. Mas não é apenas sobre isso. Vê-los a mesa como uma família perfeita, sem eu para expor as sujeiras, me enoja. Ainda mais quando ouço a voz de Hassan.

L'appel Du Vide (abandonada) Onde histórias criam vida. Descubra agora