Capítulo XII - Por detrás de um vício... (parte 1)

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   Pensou que Laila tinha uma resposta para isso e estava apenas a adiar o momento de a concluir, mas não era isso.

   Laila respirou fundo e indagou:

   - De concreto, o que sei é que nunca mais voltei a ver o meu amigo. Foi como se ele tivesse sumido do mapa, nem sequer voltei a ver o pai do outro rapaz. O pai do meu amigo era traficante de armas e continuou a sê-lo. O outro acho que foi morar uns metros abaixo, participando ativamente na atividade do outro gang, para além daquele ao qual pertenci, que domina o meu bairro. Mas, eram homens demasiado ríspidos, que incutiam demasiado medo nas pessoas e em mim mesma que era pequena à época dos acontecimentos, portanto, o que sei é o que te contei e que eles permitiram tornar-se de conhecimento público. – e continuando – Guida, o que eu te quero dizer é que seria muito difícil avaliar quem é uma criança que fez isto, que fez até no contexto de vida que ela tinha. Eu posso pensar uma coisa e tu outra, depende de que com fatores fizermos a nossa avaliação. O mais importante a reter que nem eu, nem tu, temos conhecimento suficiente para o fazer, com as peças que nos são dadas. Mas, Deus conhece-nos intimamente, Ele saberia o porquê que o meu amigo fez algo ao outro rapaz e o seu nível de bondade, antes que algo acontecesse.

   Margarida sorriu.

   - Sabes o que a última coisa que disseste me faz lembrar?

   Laila respondeu, sinceramente:

   - Não!

   A amiga disse-lhe:

   - Um versículo da Bíblia. Está num capítulo que fala todo sobre o amor e diz que, um dia, através do amor, conheceremos como também somos conhecidos. Acho que o que esse versículo quer dizer é que se amarmos a Deus e aos outros, se tivermos o amor como nossa principal companhia, um dia, vamos poder conhecê-Lo, como também Ele nos conhece a nós, porque nos criou e nos ama. É um capítulo de Coríntios, muito lido em casamentos, mas que na minha opinião, também fala sobre o amor que devemos ter em relação a Deus. Lá está completamente explícita a ideia de que Ele nos conhece! Queres que to leia?

   A irmã de Elton indagou:

   - Não é por te falar em Deus e para mim, Ele existir, que gosto da Igreja, da forma como ela se articula ou de ler a Bíblia. Digo-te sinceramente: para mim, é difícil aceitar que Deus existe. No entanto, a realidade é que, pelo tanto que eu sinto, não posso deixar de testemunhar a Sua presença. A Verdade é algo que eu não consigo controlar. A minha relação com Ele é controversa, apesar de ser inegável que eu e Ele tínhamos uma relação, mesmo antes de me ter apercebido dela. O facto de me teres conduzido a rezar, levou-me a Ele. – e passado uns instantes – Mas, a sério, como estavas a pensar lê-lo, tens aqui uma Bíblia?

   Margarida sorriu.

   - Por acaso, até tenho. Uma pequenina, na minha bolsa, de bolso, mesmo. Só tem o Novo Testamento, os Provérbios e os Salmos, mas gosto muito dela, porque é muito prática e fácil de mobilizar. Se quiseres, posso mostrar-ta.

   Laila segurou o braço de Margarida, para que esta não o fizesse.

   Disse-lhe apenas:

   - Não me mostres, não quero saber.

   A garota olhou para a irmã de Elton em resposta.

   - Laila, eu quero saber! Sabes porquê? Porque preferia que tivesses uma Bíblia como acessório como eu do que aquilo que tens na tua bolsa. Não é que a mudança de acessórios em si diga alguma coisa, mas poderia ser um bom recomeço para ti.

   Laila olhou para o horizonte, um pouco perdido. Procurou a academia de dança com o olhar, mas dali não se podia ver. Isso não impedia, no entanto, que os seus olhos se perdessem naquela direção. Balbuciou um pouco, desanimada:

De regresso a casa...Where stories live. Discover now