O TEMPLO do TESOURO

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          – Maldita hora que decidi beber naquele lugar! Por que aqueles nobres anciões tinham que aparecer e justo onde eu estava e mencionar a palavra ouro em uma taberna tão ralé como aquela? Só podia dar nisso! — Sussurrava entredentes, questionando a si mesmo Lubik Fox. Um antigo general das tropas reais, aposentado a contra gosto, devido ao seu temperamento esquentado e problemas disciplinares com seus superiores, mesmo que obtivesse uma das patentes mais altas e obedecesse apenas a ordens diretas do próprio rei, além de levar uma vida desregrada, passando noites em claro em cada prostibulo dos vilarejos e cidadela do reino, sempre acompanhado de sua espada, mulheres, fumo e bebidas em excesso. Para a maioria daqueles que o conheciam, os tempos de glória de Lubik haviam acabado, mal sabiam que sua ambição por ouro, combates e aventuras ainda o atraiam.
          Após fingir-se de embriagado e inconsciente debruçado em uma das mesas da taberna, o ex general aproveitou-se para ouvir tudo o que diziam e planejavam aqueles anciões bem trajados, escoltados e protegidos por dez jovens soldados do reino. Afirmar que Lubik estava sóbrio não seria correto, no entanto, não fora o hidromel em excesso o culpado por sua imprecisão por não se atentar que não atoa aqueles anciões foram a taberna "Bafo de Dragão", em uma noite tempestuosa para falar de mapas, feitiços, aranhas e tesouros. Logo, o general compreenderia que estavam onde e quando queriam estar e falavam para quem realmente deveria ouvir.
          — Filhos da puta! Se sobreviver a isso, certamente estarão do lado de fora do templo, prontos para retirar de mim os tesouros que encontrar aqui. Mas antes disso terão de fuder com minha lança! — Resmungava o ex-general, observando a criatura que surgia da penumbra naquele templo em ruínas. — Se me queriam morto, porque não o fizeram em qualquer taberna ou quarto de alguma puta que eu já tenha apagado. RUM! Talvez não desejem isso! Ao menos, não ainda... sabem do que sou capaz, mas pretendem me roubar! Porque aqueles imbecis mencionaram uma "aranha" ao invés de "Aracdemon". — Disse Lubik tão baixo quanto seus pensamentos, enquanto observava a criatura de estimação do tão temido feiticeiro Bestyus. Um colossal aracnídeo demoníaco, conjurado a mais de mil anos para proteger seus tesouros e seus pergaminhos repletos de feitiços antigos. — RUM... Imbecis!

          Ao estudar aquele local sombrio com o olhar atento de quem sabia muito bem onde estava, por mais que ainda precisasse enfrentar aquele gigantesco demônio, Lubik já pensava além do combate, buscando no solo por um portal subterrâneo secreto, do qual o permitiria acessar a saída daquele lugar. Assim que o Aracdemon avançou alguns metros à frente em direção ao ex-general, Lubik logo avistou o que procurava atrás da criatura, bem abaixo de uma enorme mesa de carvalho negro, repleta de joias, moedas de ouro e pergaminhos, ao redor de um grande baú, também feito em carvalho e reforçado em aço.
         Agora, o velho guerreiro voltou seu olhar para a criatura, esboçando em seu rosto o mesmo semblante que costumava fazer ao preceder a morte de algum demônio ou adversário, como já havia feito incontáveis vezes. Caminhou a passos lentos, firmes e confiantes em direção a criatura enquanto observava as pontas de suas diversas patas articuladas, como se nelas buscasse por algo. Em seguida sem a certeza de que seria compreendido, apenas disse em tom alto e desafiador. — HEY, CRIATURA DOS INFERNOS! Irá me contar qual dessas patas é a chave que abre esse baú e o portão, ou já posso te matar e começar a arrancá-las uma por uma? 

— HAAAAAA!!!... — Partiu correndo e gritando insanamente o ex-general em direção ao demônio.
          Após o confronto entre Lubik e o Aracdemon, algumas semanas se passaram, meses e até mesmo anos. De fato, Lubik tinha razão, pois nas proximidades da entrada do Templo do feiticeiro Bestyus, soldados haviam levantado acampamento, liderados pelos mesmos nobres anciões vistos na taberna naquela noite tempestuosa. Mas talvez, os anos de vida que ainda lhe restavam fossem preciosos demais para que os perdessem naquelas terras perigosas, pois não aguardaram muito mais que alguns meses no local, na esperança de que ele tivesse tido êxito e pudessem vê-lo sair do Templo em posse dos tesouros que os teriam subtraído assim como a sua vida. A verdade é que Lubik, jamais deixou o Templo por onde havia entrado e nunca mais foi visto naquele reino. No entanto, mesmo após anos terem se passado, alguns boatos se espalhavam pelas bocas daqueles que frequentam as tabernas, prostibulos e lugares onde homens vão em busca de prazer e confusão, ou simplesmente para ouvirem boas histórias sobre ladrões ou heróis, e uma delas dizia que em um reino vizinho, um homem estrangeiro havia conseguido uma enorme quantia em riquezas, após ter matado uma aranha, uma única aranha. Não se sabe a origem desse boato, lenda, história ou piada, mas sempre que alguém a contava terminava em boas gargalhadas dadas por aqueles que a ouviam.

Escrito por, L. Marelhas
Todos os direitos de ilustração de Sporemother de Chris Cold.

O TESOURO DO TEMPLOWhere stories live. Discover now