Capítulo Único

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Itália, 1830

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Itália, 1830

Acordei me sentindo estranha; um pouco enjoada e ligeiramente tonta. Talvez fosse a ansiedade. Afinal, hoje seria o dia mais importante da minha vida.

Ao perceber que não conseguiria me levantar sozinha, minha ama logo veio me acudir.

— Está passando mal novamente, senhorita? — Cristina perguntou.

— Só um pouco indisposta. Ajude-me aqui, por favor.

Eu vinha tendo essas indisposições havia algum tempo. Ninguém sabia, exceto Cristina. Muito além de minha ama, ela era também minha única amiga. Cuidou de mim desde pequenina e me ensinou sobre tudo, inclusive sobre o amor. Era a única que nunca foi contra meu namoro com Arthur.

Assim que terminei de me arrumar com sua ajuda, desci as escadas para o dejejum. Eu não estava com fome, muito menos disposta a encarar meus pais. No entanto, precisava que acreditassem que estava tudo bem. Especialmente hoje, nada poderia dar errado.

Tomei um pouco de leite e tentei comer uma fatia de bolo. Mas, quando o duque de Arezzo começou a falar, minha garganta se fechou completamente.

— Você não tem se encontrado mais com aquele rapaz, tem?! — indagou-me.

Respirei fundo.

— Não, senhor — menti.

— Ele não é um bom par para você, querida, por favor, tente nos entender. Isso que sente não é amor — minha mãe falou.

Fiquei calada, remexendo o bolo enquanto remoía os sentimentos dentro de mim. Como minha mãe tem coragem de falar sobre amor? Meus pais dormiam em quartos separados desde que eu era uma criança, não se relacionavam com afeto e viviam discutindo quando tentavam conversar. A única coisa em que os dois concordavam era sobre meu relacionamento com Arthur.

— As pessoas já andam comentando... — a duquesa recomeçou. — Aurora, está na hora de você se casar, mas, como não vai às temporadas sociais, os cavalheiros verdadeiramente dignos não têm a chance de lhe cortejar.

— A propósito — meu pai emendou —, o marquês de Montagnano virá nos visitar em breve. Parece estar interessado em você.

— Faço muito gosto desse casamento — endossou mamãe.

Levantei-me antes de ouvir o resto.

— Com licença — falei, já me retirando. Caso contrário, acabaria vomitando na mesa.

O marquês de Montagnano devia ter o dobro da minha idade. Eu o vira algumas vezes em jantares de negócios com meu pai. Conhecia-lhe pouco, mas o suficiente para saber que nunca me casaria com ele. Em uma das vezes que viera nos visitar, Sir Enrico tentara violar Cristina. Eu sentia nojo só de pensar.

Aurora EscarlateWhere stories live. Discover now