Threwff - O Primeiro Mago

Episódio I - Me diga quem você é

Estavam agora em um novo mundo. Não sabiam se foram colocados ali ou se aquele lugar fora criado para eles. Threwff foi apontado como causa de uma desgraça.

- Nós fomos tirados do nosso mundo! – Tomou a palavra uma senhora de atitude áspera – Vocês estão cegos? Entrou nessa guerra por conta dessas almas perdidas e desses espíritos loucos. Eles – ela olhou para Threwff – vocês, nunca deveriam ter invadido nosso mundo. Foram mais de 13 anos calada, impedida de viver livremente.

A multidão estava cansada após o dia de chuva e muito trabalho. Eles tiveram a sorte de encontrar comida em vasta quantidade. Eram frutas estranhas para nós, algumas deliciosas, outras difíceis de entender o sabor. Fato é: não estavam mais em casa. A natureza desse novo mundo era gentil. Parecia até mesmo estéril de perigos. Cochichos diziam que aquilo era um tipo de paraíso, sendo que a realidade estava longe disso.

- Eu não sou um espírito louco, muito menos uma alma.

- Ah, é? Então me diga seu nome de novo.

- Threwff.

A velha apontou para ele enquanto lançava um olhar de "estão vendo?" para todos em volta da fogueira.

- Somos órfãos, somos refugiados. Muitos de vocês nem mesmo entendem a minha língua. Somos humanos, pelo menos a maioria. É tolice achar que esses aí vão nos ajudar. Na primeira oportunidade vão nos escravizar. De novo.

Uma figura saiu da sombra, pedindo licença para passar. Conhecido como alguém disposto para o trabalho e que se levantava para dar apoio mesmo cansado. Após tantas semanas ele ainda tinha forças para encarar a realidade que estava pela frente.

- Boa noite, meus amigos. Meu nome é Ptor, uma das criaturas que ela está mencionando com tanto desprezo. É com muita dor no coração que recebo suas palavras. Você tem razão em ter medo, afinal, o desconhecido é temido. Assim como Threwff, sou de uma dimensão diferente da sua, o lugar que vocês chamam de "mundo espiritual".

- Estão vendo?! – A senhora interrompeu.

- Vendo e ouvindo – continuou. – Independente da língua que falam, eles podem me entender. Todos os não-humanos daqui vieram de um lugar chamado "Vale dos Sonhos Impossíveis", incluindo a mim. Esse lugar é o elo de equilíbrio entre uma das dimensões espirituais e o lugar de onde vocês vieram. Eu sou um entre tantos guardiões de lá, assim como meus companheiros que estão aqui – os guardiões levantaram a mão. - Já o Threwff é uma situação complicada. Ele é a forma de vida nascida de sonhos. Particularmente é um tipo de clone de um humano que se desgarrou do sonho. Nós, guardiões, fomos responsáveis por dar-lhe um nome e um propósito existencial. Ele está entre nós tem pouco tempo. Além dele, outros de mesma origem estão entre nós.

"Aberrações"; "Eles vão nos matar".

- Percebo que nossa presença pode incomodar, é por isso que estou falando aqui hoje. Percebam, amigos – "eu não sou seu amigo!" - , digo, meus caros, estamos iniciando toda uma civilização aqui, sem perspectiva de retorno. Precisamos nos entender, e se a convivência não for possível, deixaremos vocês seguindo por um caminho e nós por outros.

Essa fala foi seguida de 20 segundos de silêncio.

- Eu, Threwff, sei que minhas atitudes nos trouxeram até aqui. Vocês podem me julgar e ameaçar, nada disso nos levará de volta para casa.

- Meu filho está sozinho em um mundo de guerra sem a mãe! – gritou uma jovem.

- Eu falhei na minha missão!

- Então você não pode estar entre nós! – Bravejou uma voz na multidão.

- Você e todos os outros! Saiam daqui!

Os gritos e pedidos para a separação pipocaram por todos os lados.

Chega! – Disse Threwff liberando uma onda de energia que calou a todos. - Se estamos aqui é minha culpa. Se estamos vivos aqui, é graças a mim também. Quando a energia do tempo foi quebrada eu também a absorvi.

- O que isso significa? – Perguntou Ptor.

- Nesse mundo... Eu sou O Tempo.