| 000.05 | Pósfacio + Retirada

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Quando pensamos nesse livro, orgulho vem imediatamente à cabeça.

Colocamos um "fim" em Quarto Gatilho no ano de virada de década, e isso não poderia ser mais especial se não fosse somado ao fato de termos leitores tão queridos acompanhando desde o início as nossas falhas, erros, acertos, reescritas e demoras. Essa não é uma data especial, mas a comemoração de finalizar a primeira edição do primeiro volume foi o que nos fez sentar para escrever essa nota — uma forma de contar sobre nosso processo, além do que vocês vem escrito no papel (ou, no caso, na tela). E, também, uma forma de nos despedir adequadamente de cada um de vocês.

Este foi nosso primeiro trabalho juntas, finalizado com dois nomes de duas garotas que nasceram em estados diferentes e se conheceram graças ao amor por histórias. Olhar para trás e ver todo o caminho trilhado até aqui nos faz dar um suspiro de cansaço, de alívio, tristeza, sempre com aquele gostinho de missão cumprida.

Quando finalizamos, o suspiro foi bem longo. Daqueles que prolongamos até o último segundo, mergulhadas em paz. Finalmente tínhamos colocado tudo para fora. Thaísa vive comparando escrever com uma forma de exorcismo. Você só se livra dos demônios quando atende seus pedidos, quando as vozes dos personagens cessam e você deu tudo o que eles pediram — ou quase tudo. Quarto Gatilho ainda tem mais um suspiro a ser solto, mais uma inspiração profunda que precisamos dar.

Não gostamos dos primeiros capítulos, mesmo eles tendo passado por umas três ou quatro reedições e tendo sido revisados por pessoas diferentes. Há muitos erros, muitas coisas que precisavam ser refeitas, e apesar de vermos tudo isso, não era como se pudéssemos parar, voltar, reescrever, reescrever e reescrever a cada falha que encontrássemos. Nós nunca sairíamos do lugar, e uma das nossas primeiras intenções com 4G era essa, nos adaptar ao enredo, nos forçar a escrever esse esboço e depois reescrever. Fica tudo mais fácil quando temos uma dimensão do que aconteceu e do que precisa ser descartado e aprimorado.

Já tivemos nosso período de descanso; tanto que sumimos depois que postamos o último capítulo. Para sermos sinceras, estávamos tão exaustas que não queríamos nem ver nada desse universo na nossa frente — acontece, né?! Temos muitos outros projetos, inclusive projetos concretos que visam melhorar o protagonismo LGBT+ em ficção especulativa no mercado literário brasileiro. Fundamos a Associação Boreal (www.aboreal.org) para autores brasileiros de ficção especulativa LGBT+, e com a Associação estamos tentando, aos pouquinhos, transformar o mercado literário para cada vez mais autores e obras representativas alcancem vocês, leitores. Mas esse não é o ponto aqui, o ponto é que agora que estamos de mente descansada, vamos fazer uma edição pesada na história inteira, estruturando melhor alguns personagens, reconstruindo cenas, mudando as partes que não fazem sentido, cortando os trechos desnecessários — e isso inclui a maioria dos primeiros capítulos... Os capítulos iniciais do Orion vão sair na segunda versão, com certeza. Já começamos o processo de enriquecimento, agora que conseguimos ver melhor essa grande nuvem nublada no processo de escrita.

E quando dizemos mudanças pesadas na história, é porque vão ser pesadas mesmo.

Primeiro, veja bem como somos loucas, a primeira ideia era que a história se passasse nos anos 70 ou 80, mudando de Itália para os EUA. Imagine, um Leonhard caindo no soco com os neo-nazistas que viessem chamá-lo para fazer parte de alguma organização fascista; o enfrentamento do preconceito em uma época que se falava muito de AIDS; o desenvolvimento do romance em uma sociedade cuja homossexualidade era um tabu maior ainda. Além de tudo, o racismo histórico que não deixaríamos de fidelizar e problematizar.

Mas depois de pensar muito, percebemos que essa não era a história que queríamos contar. Seria como destrinchar uma coisa e escrever algo totalmente diferente, apesar de ser legal, soava mais como uma fanfic AU (Alternative Universe). Perderia a essência. Naquela época não existia Pokémon, e o que seria 4G sem as cenas do Leonhard comprando Mcdonald's só para ganhar um Pikachu?! Há muitas partes importantes que precisam da tecnologia para continuar existindo. Inclusive, a parte tecnológica é uma das que estamos aprimorando, trazendo elementos mais vivos de sci-fi. Segundo, ficamos esse tempo todo estudando thriller para trazermos o ar de page-turner que desejamos, além de melhorar as interações do nosso casal preferido, sem deixar de lado o slowburn. Algumas ideias do que pensávamos anteriormente permaneceram, se aprimoraram, nos deram planos melhores.

Na nova versão, a história se passará no Brasil, não na Itália. Essa brasilidade tem que existir, foi um dos pecados que cometemos e só percebemos com o amadurecimento como escritoras. Afinal, somos escritoras brasileiras, ninguém pode contar melhor essa história aqui do que nós; mas se um italiano decidisse contar a mesma versão antiga, que está aqui no Wattpad... bom, seria uma puta ambientação. Entendem o que quero dizer? A ambientação em Quarto Gatilho é facilmente alterada sem afetar a história; no caso, vai melhorá-la.

Inclusive, a gente tá vivendo por um Leon carioca torcedor do Vasco e um Orion riquinho da Avenida Paulista e... que vai ter outra profissão. Deixo de surpresa essa.

Leonhard e Orion são nossos xodós, foram com eles que nós começamos oficialmente a escrever juntas e, por conta disso, eles trazem um enorme significado sentimental. Eles simbolizam todo o nosso processo de adaptação de escrita em conjunto e a decisão de querermos nos dedicar exclusivamente à ficção especulativa com protagonismo LGBT+. Se não fosse essa história, talvez Becca e Thai como vocês conhecem não existiriam. Soa assustador.

A história sempre carrega um pouco do autor, mas nenhuma história roubou mais características nossas como essa. Por isso nós sentimos, de certa forma, um pouquinho mais próximas toda vez que os personagens são amados ou odiados. Nós queremos muito mostrar o lado cinza de cada um (e falhamos em alguns momentos), mas isso também vai ser aprimorado.

E sobre nosso casal, Leonhard e Orion se complementam de uma maneira especial. Gosto de pensar em todo carinho ainda desconhecido que Orion pode proporcionar para Leon, que é um daqueles caras que negam sentimentos por ter medo deles — sentir demais significa ter receio de perder para eles. E gosto de pensar principalmente no Orion do segundo livro, no Orion da nova versão, tão inteligente, com um ar arrogante visto pela TV, mas tímido e comportado pessoalmente. Não vai ser fácil pro Leon, gente. Não vai mesmo.

Ainda assim, algumas coisas nunca mudam.

Depois desse textão longo, queremos dizer que estamos deixando o Wattpad (doeu escrever isso). É necessário para nossa evolução, nossa profissionalização. A gente quer que essa história, esses personagens, ganhem as prateleiras de livrarias. Que esse enredo fique mil vezes melhor para ser lançado na Amazon, mesmo que em ebook. Nós queremos fazer muito mais pela literatura LGBT+, mas para isso precisamos nos comprometer com nosso tempo, prazos, e carteira ($). Para prosseguir com nossos sonhos, esse é um passo fundamental, e espero que vocês nos apoiem nessa nova empreitada.

Mas isso não significa que vamos deixar de escrever ou que vamos parar de produzir conteúdo.

Longe disso.

Para quem quiser continuar lendo nossas histórias (inclusive a segunda versão e Quarto Gatilho totalmente reformulada): YOU CAN! Como? Nos apoiando! Logo mais vocês vão saber TUDO a respeito desse projeto. Estamos super empolgadas para mostrar. Um pouco ansiosas também. E com medo. Mas o Leon e o Orion também nos ensinaram muito sobre se arriscar — foi exatamente isso que fizemos postando o livro aqui no Wattpad, sem ter certeza sobre o retorno, qualidade, ou se alguém ia gostar. E, bem, vocês amaram. Espero que amem também a nova versão e que gostem desse projetinho novo. Nós planejamos bastante coisa legal. Em breve vamos anunciar aqui, no nosso perfil e nas redes sociais.

Sigam lá: @beccastupello e @thaihossmann no Twitter e Instagram.

Vamos deixar a história disponível até dia 23/10 para quem quiser reler, e para os novos leitores terem tempo de finalizar o livro. Depois, o livro sai oficialmente do ar.

Se você quiser ler a nova versão de Quarto Gatilho antes de sair na Amazon, acompanhar o processo, design da nova capa (escolher a capa com a gente) e ainda ler outras histórias antecipadamente, não deixe de conferir na próxima segunda-feira, 12/10, a novidade... Aí aí aí! 👀

Se você chegou até aqui, amou a história, comentou, votou ou deu qualquer feedback pra gente, saibam que cada uma dessas coisas nos ajudou muito, muito mesmo, a continuar. Se a gente escreve, é pra isso. Pra produzir arte que toque as pessoas, que mude suas vidas, reflexos, pré-conceitos, que façam vocês amarem ou odiarem; chorarem e rirem.

Foi um prazer.

Obrigada a cada um que chegou até aqui.

Não é um adeus, mas um até loguinho bem, bem breve.

Becca Stupello & Thai Hossmann.

4º GatilhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora