Capítulo seis

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Marcos


"Quando vou receber o dinheiro"?

Aquela tinha sido a primeira pergunta daquela mulher. A primeira coisa que ela pensou em dizer, o que demonstrava que era a sua absoluta prioridade.

Bem... mas qual seria um espanto disso? O que eu esperava? Que estivesse nessa por caridade a um total estranho? Era óbvio que não.

Porém, confesso, algo em mim se frustrou com a forma como ela perguntou aquilo. Ela sequer fez qualquer questionamento a respeito da equipe médica envolvida, nada que dissesse respeito nem ao menos à sua própria saúde, o que me dava a clara impressão que colocava o dinheiro à frente de qualquer outra coisa.

Eu não gostava de pessoas gananciosas. Claro, não seria hipócrita em negar que a ambição já esteve presente em minha vida. Eu tive uma infância humilde, estudei parte da vida em escolas públicas, e outra parte com bolsas de estudo. Era um nerd tão apaixonado por tecnologia, que fiz disso o meu ganha-pão e, através dele, acabei criando meus próprios aplicativos, minha própria empresa... e construindo minha própria fortuna.

Mas tal ambição em mim jamais foi inteiramente focada em dinheiro, e nunca foi um fator determinante em minhas escolhas. Eu amava o que fazia, e meu enriquecimento veio como consequência disso.

O que eu mais amava em Isadora era o fato de ela ter me conhecido como um colega bolsista em sua escola de elite no ensino médio e, mesmo que eu fosse discriminado – agora não apenas por ser um aluno nerd, mas também por ser pobre – ela não se importou com o julgamento dos outros, se aproximou de mim, se tornou minha amiga... e, um ano depois, minha namorada. Os pais dela não aprovavam nosso relacionamento, mas ela lutou por isso. Esteve ao meu lado quando eu não tinha nada, me apoiando em todos os meus sonhos. Eu não seria um terço do homem bem-sucedido que era hoje se não fosse pelo apoio dela.

Fora Isadora, Thiago – que era seu amigo de infância e acabou se tornando também meu amigo quando nos conhecemos – e minha irmã Elisa, eu vivia constantemente cercado por pessoas que deixavam a ganância dominar suas vidas. Eu não suportava esse tipo de gente, e foi o que me fez derrubar a primeira boa impressão remota que eu tive com relação àquela mulher.

Mas, novamente: o que mais eu esperava?

Pouco mais de uma semana havia se passado desde o nosso primeiro encontro e eu não voltei a vê-la. Ela já havia iniciado os procedimentos médicos para passar pela inseminação e eu decidi seguir o conselho de Thiago e optar por não a acompanhar nessa primeira fase. A partir do momento em que estivesse grávida – se tudo desse certo, claro – eu compareceria aos exames para acompanhar o crescimento e desenvolvimento do meu filho.

Era domingo e eu tinha aceitado um convite da minha irmã para almoçar com ela. Aproveitaria para contar a ela sobre tudo aquilo. Não fazia ideia de como ela iria reagir.

Quando cheguei ao seu apartamento, achei curioso não ter sido recebido por um 'ataque' de Caio, meu sobrinho de oito anos.

— Caio não está esperando escondido atrás de algum móvel para pular em cima de mim de surpresa a qualquer momento, não é? — perguntei enquanto adentrava a espaçosa sala de estar.

Por uma opção de Elisa, seu apartamento tinha cerca de metade do tamanho do meu. Havia sido um presente meu, queria que ela tivesse o máximo de conforto possível, mas ela insistiu que não precisava de mais espaço do que aquilo, que ela já considerava até demais. Até mesmo aquele já tinha sido difícil convencê-la a aceitar. Mas Elisa era divorciada e eu viúvo, nossos pais já eram falecidos e éramos toda a família um do outro, por isso fiz questão de que ela viesse morar perto de mim, além de trabalhar na minha empresa. Do que me importaria ter tanto dinheiro se eu não fizesse um bom uso dele cuidando das pessoas que eu amava?

A Esperança do CEO [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now