prólogo

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Mesmo que buscasse com grandes esforços, Elizabeth não conseguia encontrar uma única brecha para escapar daquela sala. A cada passo que dava, um indivíduo vestido de preto surgia diante da garota, dizendo um insignificante "sinto muito" e algumas palavras rasas sobre a vida de Donald. Apesar de ser a mais comunicativa da família, a caçula não se sentia bem o bastante para manter um diálogo.

Porém, seu pai a havia ensinado bem quando o assunto era educação e etiqueta; a doce moça nunca ousaria cortar a fala de uma daquelas pessoas. Assim, uniu as mãos na frente do corpo e moveu a cabeça minimante quando ouviu as palavras indignadas de sua vizinha Karla.

— ...E a justiça deve ser feita àquele que...

Apesar da força que exercia para prestar atenção, Elizabeth perdeu-se mais uma vez ao focar seus olhos no belíssimo ataúde que destacava-se no centro do cômodo. Ela daria tudo para ter apenas alguns minutos de paz ao lado do corpo que jazia ali; quem sabe poder se despedir com alguma decência. Mesmo que não admitisse, sua vontade era de desligar seu aparelho auditivo para que não fosse obrigada a ouvir as condolências falsas dos convidados.

Quando se viu livre novamente, caminhou em passos lentos até o alvo de suas órbitas castanhas. Os dedos finos e delicados da garota tocaram levemente a madeira impecável do objeto, fitando a peça que havia escolhido. De todas as tarefas que exerceu durante aquela conturbada semana, a de selecionar o caixão havia sido a mais tranquila. Elizabeth conhecia seu pai como ninguém e não foi difícil saber qual ele mais teria apreciado.

O rosto de seu progenitor estava pacífico e a moça sorriu consigo quando percebeu que, de fato, nunca vira essa expressão nele enquanto vivo. Donald Sallow era o tipo rabugento e mandão; não costumava dar uma única folga para sua própria mente ou, ainda, àqueles que o cercavam.

Naquele momento, a filha caçula entendia um pouco de como era viver daquela forma; sua semana havia sido tão turbulenta que seu coração ainda não entendera a morte do pai. Sallow mal teve tempo para entrar no luto.

— Beth?

Aquela tão doce e conhecida voz somada ao apelido que mais apreciava soou como música para os ouvidos de Elizabeth, que se virou graciosamente para encontrar os olhos claros de seu amado. Oliver, por sua vez, abriu um sorriso suave enquanto envolvia a cintura da moça. Eles não se viam desde a noite em que tudo aconteceu.

— Como se sente? — perguntou o moço assim que se afastou o suficiente para analisar o rosto de Elizabeth. 

Os olhos da garota se estreitaram quando ela tentou sorrir. Porém, sua tristeza não permitiu nem que seus dentes fossem exibidos no ato; tudo o que conseguiu foi curvar levemente os lábios grossos.

— Sinto-me angustiada, para ser sincera — confessou, encolhendo os ombros.

— Imagino que todas essas pessoas estejam te tirando a paciência — Oliver presumiu, em um tom mais divertido.

Elizabeth ficou extremamente grata pela leveza com que seu noivo estava lidando com a situação. Ele sempre conseguia melhorar o humor da moça.

— Quero sair daqui o mais rápido possível — cochichou ela, agora sorridente. — Porém, devo esperar que o delegado e o detetive cheguem.

Os cachos de Oliver oscilaram quando ele olhou ao redor, analisando se alguém estava perto o bastante para ouvir a conversa. Quando se faz parte da família Sallow, todo cuidado é pouco, e o casal odiaria estar sendo espiado por algum dos convidados abelhudos. Qualquer notícia que envolvesse as pessoas mais poderosas da Inglaterra geraria manchete na primeira página.

o detetive de Doncaster ● l.t.Where stories live. Discover now