Capítulo 1: Pé na bunda, choro e pizza

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Jude


18 de julho

Não gostei da sensação de levar um pé na bunda. Nunca tinha terminado um relacionamento de longa data antes.

O meu coração deveria doer tanto assim?

Eu deveria parar de chorar agora. Afinal, já estou fazendo isso desde que ela terminou comigo, à meia hora atrás. Mas ainda dói. Muito.

Só que, por mais que eu tenha uma tolerância à vergonha maior que os outros, começa a ficar estranho o tanto de pessoas que olham com pena para uma mulher de vinte e poucos anos se debulhando em lágrimas na escada de um prédio.

Preciso voltar para casa. Ou pelo menos ir para outro lugar. E também estou com fome. Tipo, muita fome.
Algumas pessoas bebem para esquecer decepções amorosas, mas eu nunca fui de encher a cara de álcool. Não, eu gosto muito mais de comida.

E conheço uma pizzaria maravilhosa pertinho daqui.

Chegando na porta do Tony's paro por um segundo para sentir o cheiro de massa quentinha recém saída do forno, e só isso faz minha barriga roncar impaciente.

Tá bom, tá bom, já estou entrando, sua esfomeada!

Cumprimento os garçons que conheço faz anos, e passo por uma mesa onde tem um casal de adolescentes.
A garota, que parece enjoada de esperar e prestes a ir para casa, mexe no celular, enquanto o garoto parece confuso sobre o que fazer, e com medo dela realmente ir embora.

Afasto-me lentamente, tentando ignorar a minha vontade de resolver os problemas alheios.

Não resolvo nem os meus problemas.

Chego ao banheiro e lavo as mãos. Penso no rosto do garoto. Ele parecia gostar dela, mesmo que ela não pareça gostar muito dele.
Mas se ela aceitou ir num encontro, deve gostar pelo menos um pouco dele, não?
E todas as chances de dar certo entre eles iriam por água abaixo se esse encontro não desse certo... E como sei que isso não é o melhor?

Não sei, e isso é uma droga.

Fecho a torneira.
Caminho até uma das únicas mesas vazias, e desabo na cadeira. Hoje foi um dia emocionalmente cansativo.

Amanhã é segunda, e minhas férias já acabaram. Significa que preciso voltar a rotina.

Acordar cedo.
Abrir o Café.
Trabalhar no Café até tarde.
Fechar o Café.

Não, depois me preocupo com o amanhã.

Peço uma pizza grande, e um refri. Quando o garçom sai, olho em volta, fixando os olhos no mesmo casal. Algo neles me incomoda.
Eu deveria fazer alguma coisa? Mas como eu os ajudaria?

Tenho uma ideia.
Chamo o garçom mais próximo e peço baixinho para ele fazer algo para mim. Explico a situação e ele concorda.

— Muito obrigada, Fred.

— Não tem de quê, senhorita.
Sussura, piscando gentilmente para mim.

Um tempinho depois, Fred volta da cozinha com um sundae gigante de morango com pedaços de chocolate em forma de coração, com duas colheres em cima, e põe na mesa de frente para a garota, que fica extasiada com a surpresa.

Sorri para o garoto de um jeito lindo, realmente feliz pela surpresa. Não ouço o que eles dizem, mas parecem que ele se recuperou rápido da surpresa que levou. Ele sorri tímido, talvez querendo ter tido essa ideia primeiro.

Pega uma colher com sorvete e dá na boca dela, que se derrete de amores. Ele olha com calma ao redor, e quando finalmente me vê os observando, eu sorrio e ele acena discretamente para mim, agradecendo.

Satisfeita com pelo menos um relacionamento estar salvo, me viro pro meu prato e aprecio cada mordida na minha pizza já não recém saída do forno, mas ainda muito gostosa.

Hoje não foi de todo ruim.

O que tem para o café? | Cruel PrinceWhere stories live. Discover now