Vitor Pereira de Souza - Pré-nomes

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ele anda pela rua. seu passo é inseguro. sua cara é preocupada. seu pulmão ofegante. suas mãos tateiam umas às outras em espasmos nervosos. Primeiro dia de ensino médio. A brincadeira acabou. Elas encorparam. Alguns Deles também. ele não. Gordinho. Baixo. Corcunda. Tudo errado. Mas não por muito tempo. Entrada da escola. Precisa impressionar. ele A pega. A coloca em seu polegar e A joga para cima. ele A assiste girar uma vez no ar. Não é ele quem a pega de volta. É Ele.

Agora, Ele anda pela rua. Seu passo é firme. Sua cara é de mau. Sua postura é ereta. Suas mãos estão trincadas, prontas para o que der e vier. Primeiro dia de ensino médio. A brincadeira só começou. Elas encaram. Alguns Deles também. Ele não. Ele não olha para ninguém.

Primeiro tempo. Aula de matemática. Ele a pega. Ele a coloca em Seu dedo. Ele a joga para cima. Ele lhe assiste girar uma vez no ar. Mas não é Ele quem A pega de volta. É ele.

Aula de matemática agora. Ela coloca uma equação no quadro. Eles anotam.

x = y

x² = x·y

x²-y² = xy - y²

(x-y) · (x+y) = y · (x-y)

(x-y) · (x+y) = y · (x-y)

x+y = y

2y = y

2=1

Eles olham. É como um estranho poema. Borra a fronteira entre a matemática e a magia. Entre o lógico e o ilógico. Eles riem, brincam, discutem, estudam e tagarelam.

ele não. ele A segura entre o polegar e o indicador. Ela é redonda de cima e de baixo, mas fina pelos lados. Guarda-A no bolso.

Educação física. Queimado. ele sabe o que fazer. Vai no banheiro. ele A joga. Ele a pega.

Bola nas mãos. Olho na quadra. Queima todos os jogadores e reduz o time a nada. Todas o amam. Todos o odeiam. Vão quebrá-Lo em dois na hora do recreio, dizem. Mas Ele não está lá. Apenas ele.

Insultam-No.

Não posso deixar barato, ele pensa.

Aquela é a Sua vez. ele A joga para cima. Ela gira. Ele a pega.

Aqui estou Eu!, Ele grita.

Eles correm para cima. o que veio por trás Ele acerta com o cotovelo. seus dentes estilhaçam como ladrilhos. o que veio pela frente Ele chuta na barriga. Sangue jorra de sua boca.

Vocês perderam, diz Ele.

NÃO. vocês TODOS PERDERAM, diz ELE.

ELE leva Eles e Ele na sala DELA. ELA reclama. Até chora. Diz que são uma vergonha para Nós. Ele não sabe quem é Nós. Nem liga. Por que ligaria? Nunca estão lá mesmo. Ele segue em frente. ele fica assustado, mas gosta.

Elas O amam mais do que nunca agora. Chamam-No para a festa Delas. Ele aceita. Mas só depois que terminar o dever de português. Mas não é Ele quem termina. É ele.

Na festa, é Ele quem vai. Os olhares Delas O seguem e os Deles se afastam. Eles sabem seu lugar agora. Elas olham para Ele e Ele olha de volta. Escolhe uma. Todos olham Ele e ela juntos. ele sorri. Ele é o máximo.

A música acirra. As letras pesam mais e a batida também. ela está perdendo o controle. Ele já perdeu há muito tempo. A mão Dele encosta nela de um jeito que ela não gosta. ele se assusta.

Para!, ela diz.

É, para!, ele diz, também.

Ele não para. Nunca parou. Nunca precisou parar. Para ninguém. Para nada.

Contos finalistas do Concurso de Contos #Ficçomos100kOnde as histórias ganham vida. Descobre agora