VIGÉSIMO SEXTO CAPÍTULO

857 111 15
                                    


Augusto dorme tranquilo enquanto o mundo desaba do outro lado da porta. De um momento para o outro, a casa foi tomada por objetos infantis e choro fino de criança, ao mesmo tempo uma nuvem roxa de luto pairou ao lado do pequeno bebê rosado de bochechas vermelhas. Aurélio não falou muito após chegar do apartamento de Carolina, as perguntas tempestuosas de sua mãe serviu apenas para deixá-lo irritado, optei por continuar cautelosa e dar minha total atenção ao bebê, estranho e ao mesmo tempo a vontade com todas as movimentações.

O parto de Carolina tinha sido tranquilo e o Augusto não deu nenhum trabalho para vir ao mundo, as complicações começaram apenas depois, dando tempo suficiente para a mulher olhar o filho e dar o nome. O estado dela piorou num tempo pequeno, deixando a todos desesperados e um filho órfão. Continuo velando o sono do pequeno, ainda vertiginosa por tal mudança brusca, ela parecia tão saudável naquela tarde, cheia de vida em volta de si e o que temos é um filho que não terá a oportunidade de conhecer sua mãe com profundidade, não conhecerá seu carinho.

— Augusto. — sussurro o encarando, meu quarto foi transformado no cômodo mais confortável para adicionar um pequeno berço a decoração, — não compreende nenhuma palavra minha, está completamente alheio a toda essa confusão e tristeza que nos cercou neste dia, ao mesmo tempo há alegria por sua chegada. Mas saiba, sua mãe o amou muito e não precisava conhecê-la com muita profundidade para ver a alegria em recebê-lo, ela também escolheu seu nome, Carolina ainda o ama muito e nós o amaremos também. Aurélio também o ama, mesmo estando um pouco distante nesse primeiro dia, mas o compreenda, é um dia difícil para todos. — faço uma pausa quando Augusto balbucia um pouco, mexendo as mãos escondidas pelas luvas, — não vou mentir para você, não escondo o medo em estamos nessa situação, contudo prometo ser a melhor madrasta que possa existir nesse mundo, prometo não fazê-lo esquecer a memória de Carolina, prometo mantê-lo próximo a Aurélio e prometo também lhe dar a minha melhor versão, até quando não souber o que fazer. 

— Trocou de roupa. — a voz de Aurélio atravessa a fresca de silêncio do quarto, com movimentos pequenos para não movimentar o tecido, ergo-me e o encaro. Agora, após o banho seu corpo parece mais leve, mas os olhos fundos não esconde seu real estado, o abalo chegou a todos. Sorriu pequeno, tentando amenizar a situação, Aurélio apenas abaixa os olhos para o meu vestido.

— Roxo é mais adequado ao luto. — afirmo apenas, Aurélio suspira e ergue o olhar ao mesmo tempo que aproximasse de mim. Desde sua chegada não tivemos muito tempo para uma longa conversa sozinhos, em um momento estava informando a todos sobre a morte de Carolina e no segundo seguinte ajudando os homens em subir com o berço para nosso quarto, levando as pequenas malas. Não questionei, mas compreendi sua tentativa de afastar os pensamentos com trabalho braçal, — está melhor, quer comer alguma coisa? — questiono ansiosa.

— Estou bem, não precisa preocupasse. — Aurélio afirma, aquiesço, não acreditando em suas palavras. 

Se nós estamos abalados pela morte repentina de Carolina e a chegada de Augusto, posso apenas imaginar quanto ele está sentindo essa morte. Posso está na vida de Aurélio agora, posso ser o significado do seu presente e futuro, mas ela foi parte do seu passado e tiveram algo muito além da nossa imaginação. É claro que tal morte lhe deixaria desestruturado, lhe deixará confuso com tudo a sua volta e até mesmo com o destino do pequeno a dormi tranquilo.

— Ele é muito bom para sono, dorme como você. — afirmo, soando leve pela primeira vez. Aurélio sorri de forma amarga e aproximasse mais, quebrando toda a distância e me abraçando. Meus braços circulam seu tronco ao mesmo que encosto minha cabeça em seu peito, sendo tomada pelo cheiro metalizado do sabonete.

— Como durmo? — Aurélio questiona rente ao meu cabelo, não viro meu rosto e aproveito o tempo não encarando, apenas sentindo suas mãos passearem pelas minhas costas.

Amor entre ConveniênciaWhere stories live. Discover now