Capítulo I - A Estrela da Manhã.

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Dimensão mortal - 34 semanas.



Durante aquela semana inteira, o Sol em nada ajudou a irem embora as gotas frias que castigavam a cidade. Pelo contrário; se acovardou atrás de nuvens escuras e deixou o mundo numa penumbra atípica para aquela cidade.

Só que como o seu aniversário de vinte e três anos era em menos de três meses, ela tinha muitas coisas a comprar para se preparar. Não que ela fosse uma pessoa que gostasse de festas - para fazer uma festa ela precisaria de convidados, e para ter convidados ela precisaria de amigos - mas ela estava decidida a fazer deste um aniversário que ela jamais esqueceria. Se não por ela, pelo menos por sua mãe, que tinha um apego muito grande com essa data.

Estava decidida a mudar de vida neste ano e tudo começaria com devolver os muitos livros da biblioteca que ela havia mantido reféns na sua casa pelos últimos três anos.

Ela rolava distraidamente o tridente de seu colar entre os dedos para se distrair do nervosismo com a chuva iminente. Tinha começado a apertar o passo pelo parque conforme o mundo ao seu redor escurecia com a chuva iminente, os pensamentos perdidos no dia em que a mãe lhe presenteara com aquela jóia.

— Gwen? - Naquele dia, os cabelos ruivos da mãe estavam presos em um coque e alguns poucos fios lhe caíram ao rosto quando abriu a porta — Está muito ocupada?

Ela nunca esperava uma resposta para aquela pergunta, era somente o seu jeito de avisar que iria entrar de qualquer jeito. Não que Guinevere se importasse. Ela sempre tinha tempo para sua mãe.

— Apenas organizando alguns livros - Pensou ter visto uma sombra de tristeza passar pelo olhar da mãe, mas apenas por um segundo.  Está tudo bem?

Se ajeitou rapidamente na cama de casal, abrindo espaço entre papéis e blocos de lembretes em adesivos coloridos para que a mãe sentasse do lado dela. Nas noites em que seu pai, Rick, e a irmã iam a tediosos jogos de tênis - eram os campeões municipais por três anos consecutivos - as duas ficavam em casa assistindo a programas culinários no sofá e prometendo que logo iriam testar as receitas juntas, embora não soubessem cozinhar.

Algo lhe dizia que essa não seria uma daquelas noites.

— Já te contei sobre o meu irmão El? - Embora tentasse fazer com que a voz parecesse indiferente, Guinevere ouvia o tremor por trás das palavras. A falsa indiferença para mascarar a dor nunca superada.

— Não muito - mentiu Como ele era?

Ela sabia que a filha estava mentindo, mas não pareceu se importar. É claro que Ashley já tinha falado dele, incessantemente, para Guinevere. Na verdade, sempre lembrava dele nessa época; ele tinha morrido apenas alguns dias antes do seu nascimento. Ela deu um sorriso fraco e começou a contar a mesma história que a garota já tinha ouvido um milhão de vezes:

— Eu tive um irmão gêmeo, El. Era o meu melhor amigo, e nós fazíamos tudo juntos - Em um ato involuntário, Guinevere abraçou um travesseiro em seu colo, como sempre fazia ao ouvir uma história.  Quando eu era apenas um ano mais velha do que você é agora, nós tínhamos vinte e três anos...

— Dois meses e meio - corrigiu, interrompendo-a. Faltavam apenas dois meses e meio para que ela completasse vinte e três  Só dois meses e meio mais velha. Desculpe. Continue

— Quando eu era apenas dois meses e meio mais velha que você - disse, e ambas sorriram da careta que ela fez ao falar aquilo. — No nosso aniversário, seu tio me deu um presente.- Agora que ela havia notado, nas mãos de sua mãe repousava uma caixinha preta de veludo sem muitos detalhes, apenas um belo tridente costurado com linhas douradas na parte de cima.  Mas não para mim. Ele disse para eu guardar isso pra você.

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⏰ Last updated: Sep 16, 2023 ⏰

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