A Fada de Epione - Aurélia

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   A vida de uma Fada em Terras Bruxas era péssima, pelo fato de literalmente sermos contrabandeadas e escravizadas aqui.

   Não tínhamos como voltarmos para as Terras Férteis. Estávamos condenados a viver e morrer sobre as mãos Bruxas.

   Todos os dias meu pai ia para o trabalho quando o sol nascia e só retornava quando já havia se posto. Isso para pagar a nossa pequena casa na parte mais precária da cidade de Epione, sempre soube que fazia tudo o que podia.

   Não era fácil criar duas filhas sozinho.

   Há três anos minha mãe havia sido morta, assassinada, assassinada por Bruxos. Bruxos ricos e privilegiados que não entendiam que ainda éramos pessoas. Segundo eles, aquele não era o nosso lugar, que mesmo aquele lugar nojento não era do nosso nível, que aquilo era luxo demais para criaturas inferiores como nós, mas como iriamos sair se eles não nos deixavam?

   Bruxos mantiveram minha mãe em cativeiro para roubar o pó de suas asas e usar sua magia, quando ela já estava esgotada a mataram e jogaram seu corpo numa rua próxima de casa. Suas asas haviam sido arrancadas. Seu corpo não havia sido violado de outras formas, segundo eles, não se rebaixariam ao ponto de foder com uma Fada.

   Disseram isso em um bar, o rei era um Bruxo e aqueles desgraçados, ricos. Quem se importaria com uma Fada? Somos a escória, irrelevante, sem voz ou liberdade. Apenas mão de obra barata e lixo.

   Um Bruxo jamais seria capaz de entender o que era ter sua magia roubada, suas asas violadas, sua dignidade perdida. A vida de um Bruxo, mesmo os mais pobres, um assassino, um estuprador. Ele ainda seria mais bem tratado que uma Fada inocente. Ainda haveria pessoas o defendendo, sempre a culpa será daquele da raça "inferior".

   Nosso pai nos proibia de voar fora de casa, já que assim seriamos, além de facilmente reconhecidas, um alvo fácil. Andávamos escondendo nossas asas e sempre de cabeça baixa, tentando passar despercebidos, tentando ser invisíveis para não... Não criarmos problemas.

   Sabia que seria perigoso, mas era o meu aniversário de dezessete anos, queria voar, queria ser livre, pelo menos ter a falsa sensação da liberdade.

   Sempre escutava as histórias da minha mãe. Dela descrevendo a sensação do vento em suas belas asas transparentes como vidro pintado de azul e rosa. As minhas eram parecidas, só que eram bem maiores que as dela.

   Segundo minha mãe, "Asas de guerreira".

   Nas Terras Feéricas as Fadas podiam fazer parte da guarda, quanto maior as suas asas, mais força e velocidade elas podem ter, mas jamais poderia fazer parte da guarda. Já que havia nascido em Epione. Uma cidade no litoral das Terras do Leste. Que, segundo muitos, era o pior lugar para se viver se não era um Bruxo.

   Quando pequena, sonhava com o dia que a rainha Brylee apareceria por um de seus portais e levaria a mim e minha família para o nosso verdadeiro lar. Escutava histórias sobre ela conseguir ouvir qualquer coisa que os ventos fossem capazes de levar.

   Só que pelo jeito os meus pedidos de socorro nunca alcançaram a altura necessária para os ventos a levarem até a rainha Feérica. Quem sabe os Deuses não quisessem que eu recebesse ajuda, quem sabe realmente fosse o meu destino viver aquela vida miserável até a minha morte.

   Assim que voltei da casa de uma amiga, meu pai estava de saída, tinha que estar em casa para cuidar da minha irmã, ela tinha apenas quatro anos. Todos diziam que éramos muito parecidas. Concordo. Desde os cabelos cor de mel até os olhos amarelos. E com a nossa pele mais bronzeada, por conta do sol do litoral.

A assassina do NorteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora