15.

80 9 2
                                    

        Virei incontáveis vezes na cama procurando uma posição confortável para dormir. Todas as luzes estavam apagadas e o silêncio era avassalador. O único som que podia-se ouvir era os da gota de chuva batendo nas telhas e pingando em seguida no chão.

        Liguei a tela do celular para ver a hora e vi que eu já deveria estar quase acordando. Com o quarto pouco iluminado me virei para olhar para a Elisa que estava se deleitando de sono ao meu lado. Por um breve momento desejei não estar dormindo com ninguém, nem com a Sofía, e nem com ela, apenas sozinho.

          Depois da notícia que a Elisa estava realmente esperando um filho meu, eu me peguei cada vez mais em devaneios, muitas vezes, devaneios esses de coisas que eu queria fazer mas não podia, uma vida que eu queria ter mais não iria viver, que é claro com a Sofía.

         Fechar a mensagem dela sem responde-la me doeu mais do que todos os meses de desprezo da mesma. Até porque antes eu não tinha escolha mas agora eu tinha a chance de ter ela novamente em meus braços e tive que renunciar da minha felicidade pela Elisa e nosso filho.

        O amor que nunca existiu acabara de morrer. Eu não conseguia mais ver a Elisa com os mesmo olhos. Não conseguia beija-la, toca-la, nem ao menos conversar com a mesma ciente que por conta da vida que ela estava carregando em sua barriga, eu não podia ficar com a pessoa que eu amo.

        Eu não podia jogar tudo para cima; ordenar que Elisa fizesse suas malas e voltasse para casa dos seus pais carregando uma criança que também era minha responsabilidade. Eu devia ser homem e assumir o que eu fiz e aceitar o que eu mesmo me predestinei.

— Já faz três dias que você não diz uma palavra sequer. — Elisa indagou depois de um silêncio absoluto sob a mesa posta naquela manhã. — Não come direito, sempre te pego pensativo, você tá tão apático comigo...

       Elisa colocou suas mãos em cima das minhas que foram rejeitadas em seguida. Depois do Natal, os seguintes três dias pude ver em seu olhar um brilho incomum. Ela estava feliz por estar grávida, finalmente conseguiu me prender em seus braços, ela queria me conquistar e ter uma família comigo.

— Não tenho dormido direito. Eu tô pensando na gravidez. Nós somos muito novos e... E eu não me canso de pensar que você vai ter que desistir da sua faculdade no ano que vem para parir e amamentar. 

        O silêncio retornou aquela mesa. Em nenhum momento contei à ela sobre a possibilidade de não estarmos juntos quando ela estiver parindo e amamentando, de mim estar com a Sofía. Á vi ingênua por pensar que todo o meu comportamento preocupado era apenas e exclusivamente sobre ela.

       E não a culpo. Quem iria imaginar que a Sofía repentinamente me mandaria algo? Eu tinha dúvidas se faltando 4 dias para acabar o ano ela já estaria em Berlim. Mas a Elisa tinha certeza que sim, por isso podia repousar sua cabeça tranquila sobre o travesseiro pensando que daqui há nove meses as coisas seriam meramente iguais estavam sendo.

— Sam, temos tempo. A faculdade pode atrasar um ano e a gen...

— Você realmente não mudou desde quando se mudou pra cá. — me irritei com o seu tom despreocupado — Eu sei que você passou tempo demais na casa dos seus pais e não deve saber como é a vida aqui fora. Então eu vou te dizer: Despesa. Não sei se você percebeu mas só eu trabalho aqui e tenho que pagar tudo. E agora vamos ter um bebê! E você não vai poder nem ao menos trabalhar porque vai estar enorme! Eu não sei o que a gente vai fazer.

— Pela forma que você fala parece que sabe sim. Sempre é grosso comigo de graça, parece que eu sou a única culpada que eu estou grávida. Agora eu engravidei do dedo, Samuel? — suspirou desgostosa — Tá querendo abortar, é isso?

Por Você Onde histórias criam vida. Descubra agora