Capítulo 7

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Edgar, O Garoto do Café, caminha em minha direção e senta na cadeira atrás de mim. Cae me olha e sorri malicioso. Reviro os olhos.

- Edgar, estava acabando de separar os assuntos de um seminário para os grupos. Você precisa escolher um grupo.

Cae levanta a mão.

- Ele pode ficar no meu grupo.

Sinto minha alma sair do meu corpo e voltar.

- De acordo Edgar? - pergunta a professora.

- Sim - ele fala com aquela voz rouca e grossa.

Cae tá tentando fazer o mesmo que Elena fez a anos atrás. Vou abrir o jogo. Contar o que aconteceu em um fatídico verão há 3 anos. Talvez ele entenda que não quero mais ninguém.

Com o fim da aula, Cae e Tina vão para a aula de seu curso e eu corro para a aula de Inglês. Infelizmente o Garoto do Café, também faz Literatura, então em todas as aulas ele estará lá. Me deixando suado e com frio ao mesmo tempo. Nervoso.

Com o fim de todos horários, corri para o alojamento e encontrei Cae entre os livros.

- Você não vai  conseguir - falo sentando na minha cama.

- Do que tá falando?

- Do Garoto do Café.

- Edgar - fala Cae sorrindo.

- Minha amiga tentou fazer isso, há alguns anos. Não deu certo e perdemos a amizade.

Cae deixa seus livros de lado e me olha. O cabelo cacheado está solto e percebo o quanto ele é bonito.

- Por que você tem aversão a garotos? É um tipo de gay, que odeia ser gay? E odeia gays consequentemente?  - ele me olha pronto para uma briga.

- Eu perdi meu namorado há três anos - Cae arregala os olhos e coloca os dedos sobre os lábios - Ele se chamava Nicolas Bennet e foi meu primeiro namorado. "Meu pais tinham uma casa de veraneio em uma cidade no interior da Carolina do Norte. Todo ano íamos para lá e eu odiava. Eu fiz um acordo com meus pais, que se me comportasse, eu ficaria em Ohio. Um dia antes da viajem, fugi de casa e fui em uma festa. Eu gostava de um garoto da escola e vi ele beijando outro menino. Me acabei de beber, cheguei passando mal em casa e fui obrigado a viajar. Fui em pé de guerra com eles. Na mesma noite fomos a um restaurante e briguei com minha mãe. Chovia tanto e eu sai da do restaurante furioso e fui pra casa de verão a pé, sozinho. Era mais ou menos uma hora de lá até a casa."

Cae me olha, atento.

- "Um homem me encontrou na estrada e me deu carona. Quando cheguei em casa, faltou luz, fiquei aterrorizado e descobri que um deslizamento aconteceu na estrada e eu teria de ficar sozinho. Então ele apareceu, no meio da tempestade, todo encharcado" - sorrio triste ao lembrar. Meus olhos cheios de água - "Ele entrou e ficou comigo na casa. Nos apaixonamos aos poucos. Foram os dias mais felizes de minha vida. Ele sumiu depois por uns dias, descobri que ele morava na região e ele me pediu em namoro. Fizemos algumas loucuras. Até o dia em que chovia muito e ele perguntou se podia vir pra minha casa" - Choro livremente agora.

- Você não precisa continuar - fala Cae.

- Tá tudo bem. "Ele perdeu a direção do carro e caiu no lago. Morreu afogado."

Cae me olha. Os olhos marejados.

- Não quero mais ninguém por isso. Sinto como uma traição ao amor que senti, sinto pelo Nicolas. E tenho medo de passar pela mesma dor pela qual passei e passo desde então.

Não sei porque falei tudo isso para esse garoto que não conheço nem há um mês. Mas sinto um peso deixar meus ombros. 

Cae se levanta e me puxa para um abraço.

- Eu sinto muito...desculpa pelas minhas ideias idiotas. Eu não sabia.

- Tudo bem.

Cae então me deixa sozinho e deito na cama, abraçado com o travesseiro, chorando como um bebê. a ferida foi aberta de novo, e sangra como se eu tivesse sangue que nunca se acaba.

No Inverno do meu Coração (Romance Gay) - CONCLUÍDOWhere stories live. Discover now