IV

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Estou sem criatividade para escrever.
Para desenhar.
Para pintar.
Para ensaiar uma nova coreografia.
Para existir sem você.

O que você fez comigo? Eu tenho toda essa fama de sofredor e você vem e me tira da minha zona de conforto, agora não sei o que fazer.

Visito seu perfil a cada dez ou quinze minutos, vejo você on-line e não te mando mensagem, espero você me responder. Não aparece notificação alguma. Entro na conversa e abro várias vezes o teclado, escrevendo e apagando um "Oi, como você está?" Mas nunca enviando. Você não está mais on-line quando te envio e apago logo em seguida.
- Ele pode me chamar se quiser, ele sabe disso.
Repito a mesma fala para mim toda vez que te mando uma mensagem e apago. Você sabe como é, minha insegurança me sufoca e tenho medo de te incomodar.

Sorri fraco quando vi um "visualizado" abaixo das minhas mensagens antigas, nada de um sinal seu. Nada.

Bloqueei a tela do celular e olhei para o teto do meu quarto, branco e sem graça, algumas fitas cacetes e VHs estão em prateleiras perdidas pelo meu quarto, livros em vários cantos, lápis e vários papéis jogados, alguns com desenhos começados e outros em branco total, meus tênis rabiscados estão em um canto do quarto, perto da minha mochila de trilha, um roupão pende da porta do armário e eu nem lembro da última vez que o usei enquanto me maquiava para ver alguém. Meus fones de ouvido agora estouram uma música qualquer dos Ramones, sinto falta de algo que era para ser crucial mas não sei o que é.

Você faz falta. Faz muita falta.

Levantei da cama para comer algo depois de lembrar que estou a mais de um dia sem me alimentar direito. Pego uma maçã e uns salgadinhos, deve ser suficiente. Minha alimentação precária acompanha meu sono, também precário, ou estou com fome demais, ou estou sem fome alguma. Oito ou oitenta nunca me definiu tão bem.

Estou tentando ler mas só consigo pensar me você e essa ausência me mata aos poucos, quando você voltar tenho medo de te responder como sempre. Estou ansiosa para o dia que vou ver sua notificação, mas não sei se devo responder.

Olho para o espelho do meu quarto e o que vejo me da ânsia. Uma figura pequena e desgrenhada vestindo calças surradas e uma camiseta manchada de tinta com um olhar frio e cansado, estou acabada. Ainda lembro de como o amor de certa garota doía, mas o dele dói mais. Depositei muita esperança e agora estou despencando dessa plataforma que eu mesma construí e tudo dói.

Esses serão meus últimos textos para ela, para ele. Voltei para o marco zero, não tenho ninguém ao meu lado. Retirei todos de minha vida e agora luto diariamente contra a infeliz solidão que nem eu mesma sei se devo lidar.

Mas tenho coisas para dizer antes de fim do mundo.

Eu amei ela, mas amei mais ele. Ela me abandonou e ele não foi diferente.
Estou cansado de ouvir pessoas falando que sou interessante, amável, bonito e desejável, continuo sedo deixado, passado pra trás, trocado. Você me trocou, embora negue, você trocou meu amor sincero, minha entrega total, minha profundidade. Você trocou meu furacão desconhecido pela calmaria conhecida da sua ex (ou atual). Novamente, eu fui trocado.

Você foi embora depois de jorrar sua ventania na minha casa, depois de bagunçar meus quartos, espalhar papéis, quebrar copos e bater as panelas, você foi embora. E eu fiquei aqui para limpar a bagunça. Eu abracei sua tempestade, mas você se fechou contra a minha. Você entendeu porque as tempestades tem nomes de pessoas, mas não quis provar da minha. Enquanto isso, eu dancei na sua chuva. Você nunca me disse "eu te amo" mas eu tentava te provar meu amor de forma (hoje eu percebo) patética. Escrevia poemas, frases, planeja surpresas e te mostrava o que havia de bom e ruim em mim, fui transparente mas você era turvo como a água do Tietê (sim, você sempre foi).

Mas eu te amei, amei mesmo quando vocês foi embora, amei mesmo quando me destruiu e voltou como se não o houvesse feito, amei patéticamente, amei mesmo você brincando de conexão. Amei.
Agora me diga, o que você dizia sentir era verdade? Você era sincero? Se sim, porque foi embora? Eu não fui, não iria mesmo que esse amor me matasse. Era uma amor que podia dar certo (cerca de 80% de chances), um amor que eu, de forma tola, lutaria. Eu mataria e morreria por você. Estaria disposto a atirar em alguém que tentasse te machucar, estaria disposto a acabar com minha vida, por crer que a sua valeria mais. Porque acreditei tão desesperadamente nisso? Porque me agarrei em suas migalhas de sentimento? Porque suas poucas frases de amor me despedaçam em dias nublados? Porquê? Eu disse que a vista era mais bela por cima, que poderíamos voar no inferno juntos, mas na primeira oportunidade, você agarrou outras mãos e voou alto no céu azul, me deixando no inferno só, me deixando com o que dói. Porque eu não aprendi a voar também? Porque eu fui tão longe por você? Porque eu rasgaria o véu que separa a humanidade dos demônios par buscar você? E, principalmente, porque eu faria isso mesmo depois de você partir para o céu e eu estar juntos com os demônios?
Apaguei seu contato, suas fotos, suas mensagens, nossas ligações, seus desenhos (que eu prometi te entregar, mas coloquei fogo neles). Você não existe mais para mim, ao menos na superfície, mas está impregnado no meu âmago, cada átomo meu súplica pelos seus, casa neurônio meu grita seu nome. Sua ida me destruiu, mas eu não consigo me curar, você jogou meus pedaços aleatoriamente ao vento, que os carregou para longe, não consigo me encontrar, me adaptar, me montar em outros braços, outros beijos, outras pessoas. Você marcou minha alma com ferro e fogo, mas a minha marca em você sempre foi de henna.

Talvez não devesse escrever tudo isso, você vai ler e vai ver o estado que estou, o estado que me deixou, vai entender os meus teatros, vai ver minhas máscaras caírem, mas de verdade, eu não ligo mais. Saber que você não é meu, nunca será, destruiu cada bactéria do amor em meu corpo. Sinto falta do meu amor, mas você nunca foi meu. Ou foi, mas decidiu esconder e me deixar as migalhas. Sinto sua falta desde aquele dia, aquele mesmo, que eu mandei vários áudios bêbado, onde uma amiga vomitou no meu quintal todo. Sinto falta mesmo, de quando o álcool fazia efeito imediato e eu não me sentia mal por sentir sua falta. Hoje demora alguns minutos e esses minutos me matam como Eóns de dor. Por que você foi embora tão de repente? Eu já sabia que iria, eu sempre soube, no fundo eu desconfiava, mas decidi esquecer, fingir que não era real, fingir que você me amava. Você foi cara de pau a ponto de me agradecer por toda a ajuda. Eu te ajudei por amor. Porque te queria bem, te queria ao meu lado. Sempre tentei te ajudar de forma que você não dependesse de mim, porque uma vez você me disse que caiu para o mundo obscuro por falta de quem conversar, na vez que quem foi embora fui eu. Eu nunca te deixaria, mas não queria correr o risco de te machucar e no fim, quem me deixou foi você, porque pegou o que lhe era necessário e foi cumprir os nossos planos ao lado de uma terceira pessoa. Sabe a pior parte? Eu creio que a terceira pessoa sempre fui eu. Porque se você me amasse, se quisesse me amar, não existiria um "e se?" ou um "será?" Você não me queria, porque tinha vontades maiores do que eu. Porque eu não conseguiria preencher o vazio em você.

Eu não sei mais o que fazer além de não fazer você ficar.

Quem eu sou depois de você? Quem eu deixei para trás? Você foi a parte do a.M, mas agora tenho que viver no d.M e não sei seguir em frente. Como vou te deixar para trás, se quando vou em frente, sigo em em um ciclo vicioso que me leva a você?

Poeira Interestelar Where stories live. Discover now