01 | uma romântica incurável

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MEU GOSTO LITERÁRIO arruinou a minha percepção sobre romance

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MEU GOSTO LITERÁRIO arruinou a minha percepção sobre romance.

Aos dezesseis anos de idade, eu já aglomerava, desde os doze, expectativas nada realistas sobre como uma história de amor deveria acontecer. Do primeiro encontro ao felizes para sempre, e todas as viradas de enredo no caminho.

Tudo isso sabendo muito bem da baixa probabilidade de que eu, Aurora Moreau, encontre minha alma gêmea no mundo real.

Parece exagero, mas eu estou falando muito sério. É estatisticamente comprovado pela minha experiência, ou falta dela: em toda a minha vida, eu só me apaixonei por homens ficcionais escritos por mulheres.

Não é à toa que chamam as pessoas como eu de românticas incuráveis. Não tem cura para os viciados em uma boa história de amor.

E eu estou conformada com isso. Nunca estive interessada em ter um relacionamento fora das páginas de uma fanfic estilo s/n sobre o meu integrante favorito de uma boyband, que eu lia debaixo das cobertas na calada da noite, reprimindo todas as reações audíveis que meu corpo poderia emitir para o caso de meus pais estarem escutando.

Nem assim eu posso dizer que já me apaixonei por um garoto propriamente dito, de carne e osso, que vive, respira, fala e existe. Quer dizer, o integrante da boyband em questão existe, mas não tem a mesma personalidade na vida real que tem na minha fic favorita.

Portanto, me apaixonar por ele, o ser humano, é sem propósito. Prefiro manter as coisas entre nós estritamente profissionais – ou seja, usar as músicas da banda de trilha sonora para as minhas fics e livros favoritos.

É que eu me encanto pela ideia, entende? Pelas palavras no papel – ou, no caso, na tela.

Mas fanfics são perigosas. São a porta de entrada para drogas mais fortes no quesito romance literário. E eu sou uma vítima, assumida e orgulhosa, do amor ficcional.

Por isso, não perco meu tempo com as experiências mundanas do ensino médio – que, na minha opinião, é um ambiente extremamente inóspito para um bom romance. A menos, é claro, que você seja parte daquele 1% que encontra o amor da sua vida no oitavo ano e passa o resto da vida casado com a única pessoa que já beijou a sua boca.

Nem preciso dizer que esse não é o meu caso.

E não só porque eu nunca beijei ninguém.

Um excelente exemplo do motivo pelo qual eu não me interesso por garotos reais pode ser verificado, por amostragem, ao analisarmos o ônibus escolar no qual eu me encontro nesse momento. Mesmo ouvindo o último álbum da Olivia Rodrigo no último volume, consigo ouvir a arruaça que os garotos estão fazendo lá no fundão, gritando profanidades e ameaçando abaixar as calças um do outro.

Ninguém ali vai prometer me amar até seu último dia nesse mundo ou duelar até a morte por mim, se é que me entende.

A despeito da gritaria, eu não me importo em pegar o transporte para ir para a escola. As paradas nos pontos de encontro para pegar os alunos me garantem exatamente o tempo que eu preciso para alimentar a minha alma antes de horas e horas de tortura, ops, de aula.

A lista de clichêsWhere stories live. Discover now