Décimo e Último Capítulo

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Ǫᴜᴀʀᴛᴀ-ғᴇɪʀᴀ, 25 ᴅᴇ ᴅᴇᴢᴇᴍʙʀᴏ ᴅᴇ 2019

E então mais uma vez é Natal. Momentos de reflexões, promessas, intenções que se repetem, a magia do renascimento. Estrelas cintilantes marcam imagens sem presenças. Sinos em som primordial sinalizam os mistérios desta Data, em música melodiosa. Lira cósmica desperta corações empedernidos. Uma data para refletir e analisar o verdadeiro significado de nossas vidas, pois um dia nasceu uma criança que se ao se tornar adulto se sacrificou para nos salvar.

Ethan comprou uma passagem de volta para casa. Ele não gostou da notícia. A verdade é que eu ainda não tenho tanta certeza assim. Aqui em Londres eu tenho uma família, sinto meus pais fortemente aqui. Não há nada que me prenda em Brasília além do meu emprego de bibliotecária. Todavia aqui também existe biblioteca. Por outro lado, tem a Alice minha única e melhor amiga.

A ceia Natalina da residência Müller-Harris é tradição. Stuffing, que é basicamente uma farofa de pão; batata Assada cortadas em cubos e assadas com azeite e ervas, é um dos principais acompanhamentos do peru; couve de Bruxelas, apesar de muita gente torcer o nariz para esta delícia, o natal é uma época em que todos comem a tal couve de Bruxelas sem reclamar. É tipo a uva-passa do Brasil. Pigs in Blankets, tradução literal, porcos de cobertores. E por último, mas não menos importante: Christmas Pudding bolo feito de frutas secas, castanhas, manteiga, farinha, ovos, temperos e, muito, muito, álcool.

A culinária de Londres, eu simplesmente adorei. Com certeza quando voltar para casa irei fazer alguma das várias receitas que experimentei na minha estadia no Reino Unido. Se é que irei voltar.

- Crescer separados não muda que crescemos lado a lado por muito tempo; nossas raízes sempre estarão emaranhadas. Estou feliz por isso.

Ethan falou. Ele está certo não é porque crescemos separados que não somos uma família. Nós somos. Ethan é a melhor família que eu poderia desejar possuir. April, a bebê Meg, a Ava... Elas transformam-se a minha família também. Mas - sempre tem o, mas, me dá raiva o mas. Conjunções não deveriam separar.

- Liz, se você puder aceitar o conselho de alguém que a dor tomou conta, eu diria: não deixe que a dor te consuma.

Ava falou enquanto me abraçava por trás. Exatos 365 dias do falecimento de mamãe e papai, no entanto, eu me sentia revigorada. Acontece com todos à medida que crescem. Você descobre quem você é e o que deseja, e então percebe que as pessoas que você conhece desde sempre não veem as coisas como você. Então você guarda as memórias maravilhosas, e continua.

Elliot Harris e sua namorada, Elsie MacGyver conversavam com a April e o Ethan. A bebê Meg brincava com biscoitos no sofá. Restou apenas Ava e eu. Aproveite que estávamos sobrando e a chamei para perto da lareira, separado de todos. Não sabia exatamente o que dizer não tinha um roteiro. Deixei fluir com naturalidade sem pressão.

- Ava, vou embarcar no avião hoje a noite.

Falei mostrando a passagem de avião. Não pensei que pronunciar palavras simples como estas doeria tanto. Eu não quero voltar.

- Pensei que não fosse.

- Não sei ainda - confessei. - Tenho algum motivo para ficar?

Perguntei mesmo sabendo que sim, havia um motivo para ficar. E esse motivo chama-se Ava Lewis.

- Você não sabe o bem que você me faz. Não posso te deixar partir assim, preciso te provar que só podemos ser infinitamente melhores juntas. Quero te fazer bem, assim como você me faz, mas para isso eu preciso que você continue aqui comigo. Talvez haja algo que você tem medo de dizer, ou alguém que você tem medo de amar, ou algum lugar que você tem temor de ir. Vai doer. Vai doer porque é importante - Ava falou. - Apenas me deixe te amar.

Pare de me encarar. Eu pensava. Mas não adiantava. Ela continuava com os olhos castanhos cravados em mim. Demorei muito para acreditar na mais louca e cruel verdade: amor existe. Sei disso porque estou olhando para o amor em pessoa, Ava Lewis. Já era tarde demais, eu havia me entregado para ela sem ao menos perceber.

Quando me dei conta, a passagem de avião estava ao chão, rasgada em inúmeros pedaços. Eu havia feito aquilo por que era o certo a se fazer. Ela veio na minha direção, e parou a poucos centímetros de mim. Suas mãos tomaram o meu rosto, e sua respiração acelerou enquanto ela me olhava cuidadosamente.

- A passagem rasgada... É o que estou pensando?

- Sim, Ava Lewis. Eu vou ficar por você.

Eu me inclinei para trás e olhei nos olhos dela, tocando cada lado de seu rosto com as mãos. Fiz carinho no queixo dela com o polegar, sua expressão era de partir o coração. Fechei os olhos e me inclinei para beijar o canto de sua boca.

E alguém te encontra. E te reencontra. Te reinventa. Te recomeça. Enfim achei o que estava procurando todos esses anos. Ava Lewis. O Natal em que tudo mudou.

O NATAL EM QUE TUDO MUDOU Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt