🎨 - prologue

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Com passos apressados, Draco tropeçava pela milésima vez em um tempo considerado anormal, com a mochila em suas costas revirando a cada salto que seu corpo instintivamente dava, com as mãos ocupadas por dois moletons grossos.

Naquela manhã, ele se arrependeu cruelmente de não ter escutado seu amigo quando ele lhe mandou dormir, resolvendo ir contra a lei e dormir próximo do amanhecer. No fim, teve não mais que duas horas de sono e ainda se atrasou quando, ao sentar para amarrar seus tênis, cochilou no sofá.

Agora, ele encarava as consequências de seu rebelde ato quando, a cada passo que dava, seus pés pareciam perder o controle e lhe faziam impulsionar para frente, lhe irritando até que chutasse suas próprias canelas. Felizmente, ele conseguiu chegar até a escola, mas sua decepção jamais poderia ser esclarecida em palavras quando ele notou que não havia nenhuma alma viva no pátio.

Seu coração palpitou e ele apressou ainda mais seus passos, com o tênis quase saltando de seus grandes pés. Ao chegar na porta de sua sala e ver pela pequena janela que todos estavam estudando enquanto o professor dava aula, ele suspirou pesadamente. Arrumou seus cabelos provavelmente bagunçados, pigarreou e estalou o pescoço antes de bater três vezes na porta. Do outro lado, o professor pacientemente confirmou a sua entrada, mas sem parar de escrever na lousa.

— Bom dia, professor... — Timidamente ele proferiu, agarrando a sua touca que escondia grande parte de seus fios, fechando a porta atrás de si na maior delicadeza possível.

— Vou deixar passar por você ser um bom aluno, mas na próxima tenha mais cuidado em relação ao horário. Bom dia, Draco. Sente-se. — Ele sorriu, carinhoso, antes de tornar a escrever. O mais novo sentiu as bochechas queimarem, tendo plena certeza que seus cabelos haviam trocado de cor para um rosa suave.

O Malfoy procurou seu melhor amigo com os olhos e o achou no fim da sala, na última fileira. Não foi difícil achar porque ele era o único sem dupla, então sorriu, antes de segurar as alças da mochila e caminhar calmamente em sua direção. Harry sorriu, miúdo, tirando a mochila da cadeira ao lado da sua e colocando-a no chão.

— Bom dia, Hazz. — Draco desejou, sentando ao seu lado e já procurando por seus cadernos.

— Bom dia, Dray. — Harry deu um de seus doces sorrisos, o que fez, por alguns segundos, o estômago de Draco revirar em nervosismo. Deus, como ele amava aquele sorriso.

— Trouxe pra você. — Estendeu um bombom de chocolate com caramelo por baixo da mesa, vendo o sorriso de Harry aumentar gradativamente e seus olhos brilharem de felicidade.

— Obrigado, você é o melhor! — Ele pegou o docinho, abrindo-o e comendo metade, colocando a outra metade na boca de Draco também. Os dois sorriram, completamente rendidos. — Mas, mudando de assunto, por que você se atrasou hoje? Cheguei a pensar que você não vinha.

— Acho que eu acabei ficando até muito tarde vendo anime... — Culpado, seus cabelos adquiriram uma cor mais alaranjada, em um tom um pouco mais escuro sem ser exatamente castanho. Cáqui.

— Eu disse pra você dormir cedo, mas você não me escuta! — Harry resmungou e Draco sussurrou um "desculpa, não faço mais" antes de começarem a anotarem o que o professor passava no quadro.

Algumas horas depois, a hora do almoço foi anunciada. Harry e Draco saíram juntos, já que eram os únicos amigos um do outro - entretanto, isso não era nem um pouco chato. Sentaram embaixo de uma árvore, com as perninhas entrelaçadas e dividindo o lanche que trouxeram de suas casas.

— Eu trouxe bolo de cenoura. — Harry anunciou, todo animado. Draco soltou um grito empolgado, mas depois murchou.

— Você não gosta de bolo de cenoura.

— Não gosto, mas você gosta. Então eu fiz ontem de noite, antes de dormir, e deixei pronto.

Draco sentiu seu coração amolecer, seus cabelos adquirindo a cor amarela, leve, fazendo com que Harry não conseguisse esconder um sorriso, acariciando a pele macia de Draco, levando suas mãos até seus cabelos.

— Hazz, eu... — Vendo a oportunidade mais que perfeita, Draco ajeitou sua postura, retirando suas pernas das de Harry e sentando por cima delas. O mais novo apenas o observava, com o olhar banhado por confusão e curiosidade. — Eu sempre gostei de você desde que a gente se conheceu e eu nunca quis dizer isso antes pra não estragar a nossa amizade, porquê, por Deus, nossa amizade é tudo pra mim e foi a melhor decisão da minha vida! Mas ver você, tão perto de mim e... — Ele arfou, em nervosismo. Harry apenas ficava calado, com suas bochechas adquirindo um tom rosado que se tornava cada vez mais forte, como um morango doce. — Eu não quero te pressionar nem nada, não quero que você sinta o mesmo que eu. Quer dizer, eu quero! Mas não quero que você se veja obrigado a me aceitar romanticamente, entende?

Enquanto Harry não respondia nada, apenas mantinha seus olhos fixos em Draco, o último citado se sentia à beira de um colapso nervoso. Seu estômago revirava no mais puro e doloroso nervosismo, enquanto ele se arrependia amargamente das suas palavras cuidadosamente escolhidas, com seus cabelos novamente alternando de cor. Ele se irritou com a possibilidade de seu cabelo adquirir um tom verde, diferente do que estava a menos de três minutos.

— Draco, eu não sei se posso corresponder. Digo, eu gosto de você, eu te amo, você é o meu melhor amigo e eu confesso que não são poucas as vezes que eu me pego imaginando nós dois dentro de um relacionamento romântico, mas eu não sei se eu seria bom pra você. Por favor, não pensa que eu estou aqui te dando um fora, porque, de verdade, não estou. Eu só não quero te machucar com a minha indecisão, não quero que você se sinta de alguma forma diminuído ou que sinta qualquer sentimento negativo. Saber que você está machucado é doloroso, mas saber que quem te machucou fui eu consegue ser ainda mais perturbador. — Tão cuidadoso quanto Draco, quem sabe até mais, ele escolheu as palavras certas para acalmar o coração agitado do mais velho. Entretanto, a frase "não pensa que eu estou aqui te dando um fora, porque, de verdade, não estou" fixou-se em sua mente turbilhada e ele sorriu, antes de apoiar suas mãos nas coxas de Harry.

— Você sabe o significado das quatorze cores que meu cabelo pode colorir?

— Hm, não. Você nunca me disse o significado de nenhuma. Você vai me dizer agora? — De repente, ele pareceu adquirir uma animação vinda diretamente dos céus.

— Na verdade, não.

— Ah... — Com um muxoxo, os ombros de Harry caíram e um bico se formou em seus lábios finos.

— Você quer descobrir?

— O quê?! — Os pequenos olhos de Harry quase pularam para fora, na medida que eles iam se arregalando ainda mais e seu sorriso se tornava ainda maior.

— Você vai descobrindo. São quatorze cores, provavelmente quatorze dias. Nesse tempo, eu vou te deixar tão apaixonado por mim quanto eu sou por você. — Com um sorriso sacana, ele deu o decreto final.

Mas Potter se opôs.

— Dray... eu não quero te magoar. Eu sou perfeitamente capaz de responder os seus sentimentos, mas eu não quero que a gente perca a nossa amizade por isso.

— Não vamos perder, ok? Se der errado, fingimos que isso nunca aconteceu. Por favor? — Com a expressão e voz manhosa, Draco aproximou ainda mais os corpos, prendendo Harry em um abraço que, inicialmente, ele tentou resistir. Depois, simplesmente se deu por vencido, agarrando a cintura macia do mais velho e descansando sua cabeça em seu peito.

— Você me promete que isso não vai dar errado, mas que se der, vai ficar tudo bem?

— Eu prometo, Hazz. Vai ficar tudo bem.

— Eu não quero perder você...

— Você não vai, ok? Ninguém vai perder ninguém. — Draco decretou, por fim, antes de se calarem e continuarem com o calor de seus corpos juntos.

Apesar de parecer calmo, Malfoy estava mais nervoso do que nunca esteve. Sua mente estava agitada, mas seu coração estava decidido: ele faria Harry se apaixonar por ele conforme fosse descobrindo as cores de seu cabelo, nem que isso fosse a última coisa que ele fizesse.

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Colors - drarryOnde histórias criam vida. Descubra agora